AKSAI CHIN - UMA PARTE DA CAXEMIRA DISPUTADA PELA CHINA

Esta região do Himalaia, que corresponde a cerca de 20% de toda a Caxemira, não pertence nem a Índia e nem ao Paquistão, mas a uma outra superpotência nuclear daquela área - a China. Aksai Chin é um território reivindicado pela Índia, como parte da Caxemira,  e pela China. Atualmente encontra-se sob administração efetiva da China. Está situada no disputado território da Caxemira e foi objeto da guerra de fronteira sino-indiana de 1962,  no Himalaia, na região de Aksai Chin. A região disputada era estratégica para a China e tem uma estrada importante que liga Tibet e Xinjiang.

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Aksai-Chin, parte da Caxemira sob controle chinês

Em 1959, a China anexou a região caxemira de Aksai Chin, e acordou com o Paquistão a recém obtida fronteira, uma decisão que encontrou furiosa reação por parte da Índia e que levou à guerra sino-indiana de 1962. Em 1965 e 1971-1972, eclodiram novos conflitos na região da Caxemira que resultaram em algum ganho territorial para os indianos em decorrência da assinatura de um cessar-fogo.

As hostilidades começaram em outubro de 1962. Após assegurar para si uma parte substancial do território disputado, os chineses apresentaram uma oferta de negociação no final do mês de outubro. O governo indiano rejeitou de imediato a oferta. Em novembro, os chineses chegaram perto das vizinhanças de Tezpur,  uma cidade de fronteira importante, a cerca de 50 km da fronteira norte de Assam, e declararam um cessar-fogo unilateral.

Para muitos indianos, as aquisições territoriais feitas pelos chineses representam uma ocupação ilegal e por esta razão as propostas para formalizar a linha de fronteira dentro da atual Linha de Controle (LOC) não conseguiram ser implementadas. No entanto, nem o governo indiano nem o governo chinês parecem muito interessados em mexer na situação.

Beijing deve olhar para os 18 anos de grandes perdas nos cumes gelados das Geleiras de Siachen, a mais alta "guerra fria" do mundo, para entender até que ponto os adversários nucleares estão dispostos a ir. As Geleiras de Siachen, que fazem fronteira com o Paquistão e a China, são um ambiente que ainda se encontra em seu estado natural, no entanto ambientalistas dizem que as atividades militares trouxeram a poluição com toneladas de produtos químicos para a superfície da geleira e cabeceiras do rio Indus. Para a Índia, o ideal é que o Paquistão devolva a Caxemira ocupada e a China faça o mesmo com Aksai Chin.

Esta é uma das razões pelas quais Índia e a China fizeram poucos progressos na solução das diferenças em relação aos 4.500 km da fronteira himalaia. Uma boa parte - cerca de 3.268 km - ainda está situada dentro dos três setores disputados.

As disputas sobre os setores ocidental e oriental foram particularmente espinhosas e por muito tempo dificultaram  relações melhores entre os dois países. Enquanto a Índia reivindica áreas da Caxemira, a China reivindica grandes partes dos estados indianos do norte de Sikkim e Arunachal Pradesh.

E no momento, a China mantém uma posição de aparente neutralidade - embora tenha interesses pessoais na Caxemira - e apela para a moderação de ambos os lados.

Se a China tentar interferir na Caxemira apoiando o Paquistão, as questões acima poderiam vir à tona. A Índia questionaria seu papel e motivos e poderiam levantar a questão do Tibé. Os chineses teriam que ficar na defensiva á mesa de negociações, onde o ocidente (principalmente os Estados Unidos) espera que desempenhe o papel de facilitador e mediador. A Índia pode querer destacar o papel da China como parte do problema, o que leva a China a não querer exercer qualquer papel nesta questão.

Porta-vozes da política externa chinesa são cuidadosos em não fazer declarações sobre a Caxemira que possam indicar a preferência de um lado ou de outro. Talvez pese na decisão a lembrança da breve mas brutal guerra de 1962, que foi precipitada por ações da China neste campo. Culminou com a China ocupando cerca de 38.000 km² do território indiano de Aksai Chin, assim como outros 5.180km² do norte Caxemira, que o Paquistão mais tarde cedeu a Beijing através de um pacto assinado em 1963.

Analistas regionais dizem que a área é tão remota que o serviço de inteligência da Índia só veio a saber que a China tinha criado um caminho na região na década seguinte. Agora, com uma estrada que liga o remoto Tibet ocidental (China chama de província de Xizang) à província de   Xinjiang, no sul, é de fundamental importância um caminho logístico. Caminhões chineses repletos de melões Hami e produtos secos entulham a auto-estrada restrita, juntamente com caminhões de suprimentos do exército. A estrada com mais de 4.000 metros - uma das mais altas e frias do mundo - agora liga Lhasa a Kashgar.

No momento, a China permanece oficialmente imparcial na questão e apela para a moderação de ambos os lados.

O QUE PENSA A CHINA SOBRE A QUESTÃO DA CAXEMIRA

As autoridades chinesas, de um modo geral, são muito cautelosas quando fazem seus pronunciamentos públicos. Invariavelmente, o que dizem tem que ser esclarecido depois em nível mais elevado e é parte de uma política levada muito a sério. Por isso, a entrevista coletiva do novo embaixador chinês para a Índia, Zhou Gang, em Nova Delhi, mostra claramente o entendimento que a China tem a respeito de Aksai Chin.

Ele apresentou dois pontos que necessitam ser percebidos pelas autoridades indianas e pelo público indiano. Primeiramente, não há possibilidade de seu país abandonar Aksai Chin, a qual, disse ele, é  parte integrante da China desde tempos "imemoriais" e, sobre quem, Beijing exerce uma "administração efetiva". Em segundo lugar, afirmou que a Caxemira não era uma parte integral da Índia porque era um "território disputado". Ele tentou suavizar a visão de seu país, dizendo que a China estava comprometida com a solução da disputa de fronteira com a Índia "de acordo com o princípio de consulta amigável, mútua  compreensão e acomodação."

Muito embora a conduta de Zhou Gang parecesse descontraída e tivesse salientado a necessidade de uma "mútua acomodação" sobre questões como a solução da fronteira, suas observações refletiram a determinação de Beijing de não dar descanso na questão de Aksai Chin.

Aksai Chin é uma parte de Ladakh. Durante o Governo de Jawaharlal Nehru, a China ocupou Aksai Chin, construindo uma estrada no território indiano que liga duas partes do território chinês. Nehru sabia disto mas manteve-se quieto e ocultou o que mais tarde foi considerado um ato agressivo e hostil. Ele imaginava que conseguiria fazer manter relações amigáveis com a China. Mas, Beijing tinha outros planos que não incluiam amizade com a Índia. Quando a ocupação chinesa de Aksai Chin não pode mais ser escondida do público indiano, Nehru tentou esclarecer a questão no parlamento, desqualificando o território perdido como uma terra de pouco valor "onde nada cresce". Sua explicação enfureceu a oposição e o povo indianos.

A Índia foi arrastada a uma guerra com a China no elevado Himalaia e que os soldados indianos não estavam preparados.O exército chinês, por outro lado, estava melhor preparado, até porque adestrado pela guerra na Coréia contra os americanos. O resultado foi um confronto rápido, porém sangrento, onde o exércio indiano foi derrotado.

Por outro lado, a China adquiriu do Paquistão, uma parte do que a Índia define como "Caxemira Ocupada pelo Paquistão (POK). Para a Índia, os chineses ocuparam território indiano, declararam a guerra e venceram e, além do mais, ajudaram o Paquistão a se tornar uma potência nuclear, transferindo tecnologia nuclear para Islamabad.

Após os recentes testes nucleares na região, para o governo indiano a principal ameaça não é o Paquistão e sim a China. Beijing responde: "Aksai Chin é nossa - juntamente com outras partes da Índia, como Arunachal Pradesh - e é assim desde tempos imemoriais.

O embaixador também se referiu ao Acordo de Fronteira Sino-Paquistanês, de 1963, ("entre dois estados soberanos") que estabeleceu que depois que  Índia e Paquistão resolvessem sua disputa sobre a Caxemira, China e Paquistão formalizariam a cessão do território. "Não há questão sobre a propriedade da Caxemira", acrescentou o embaixador. Falou ainda da necessidade de a Índia "desfazer o nó" nas relações com Beijing: "Esperamos que o lado indiano apresente explicações responsáveis em relação às suas observações contra a China, que pare imediatamente com as acusações sem fundamento e que tome iniciativa ... Percebemos no no lado indiano a intenção de melhorar as relações com a China."

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