Cia. RAMAL FÉRREO de SANTA RITA |
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Um pouco de história |
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Há menos de 2 séculos atrás, o estado de São Paulo não tinha a
pujança que hoje tem em relação às demais unidades da federação.
Rio de Janeiro, Minas Gerais e a Bahia, entre outros estados, possuiam
maiores cidades e economia mais ativa. Somente para fins de entendimento, cada 10 km de via férrea
compreendiam uma região de 620 km², ou 620 milhões de m², o que, em
uma época em que os municípios eram bastante próximos entre si, dá
uma boa idéia da capacidade de aglutinação de carga e movimento
geradas pela zona priviliegiada. |
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O traçado e as estações |
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Partindo de Porto Ferreira o trem, logo depois da travessia do rio Mogi Guaçú (foto acima) parava no sítio São João, parte da antiga fazenda São Vicente, onde era desenvolvida a industria da cerâmica, até hoje uma indústria de tradição na região de Porto Ferreira. Continuando, o trem abastecia-se de água na Caixa do rio São Vicente e prosseguia para a região do Ibó. A estação mais antiga foi a de Procópio Carvalho, antiga Tombadouro, próxima à vila de Albinópolis, cuja inauguração data de 1º de dezembro de 1889. Após essa estação, havia ainda uma parada na fazenda do Dr. Carlos Paes de Barros -Fazenda Santa Maria- e aí sim, o trem seguia depois para a estação final (ou, inicial), em Santa Rita. Esse trajeto inicial foi acrescido em 10km em 1913, com um prolongamento que atingiu as fazendas do vale do rio Bebedouro e as estações de Santa Olívia (homenagem a Olívia Guedes Penteado, filha do Barão de Piratininga) e Moema, mais tarde denominada Bento de Carvalho. Em 1917, outro melhoramento foi realizado, com a inauguração da estação Ibó, substituindo a antiga "chave de parada" e atendendo a pedido feito em 1915 pela população do bairro de Rio Claro, que se ressentia das dificuldades causadas pela ausência de uma estação da estrada de ferro, o que obrigava as mercadorias a ficarem "ao tempo" ou forçava os fazendeiros a alugar um vagão, pagando pela utilização integral do mesmo, às vezes para embarcar apenas pequenas cargas. O último avanço da ferrovia em Santa Rita do Passa Quatro foi a inauguração, em 1º de maio de 1928. Tratava-se do prolongamento de 8 km do ramal de Moema até a estação de Vassununga, junto à usina de açúcar de mesmo nome instalada no local. Na realidade, esse prolongamento atendia a um relatório da diretoria da Cia. Paulista, que julgava conveniente essa expansão até a margem direita do rio Mogi Guaçu devido às importantes fazendas de café a a própria usina de açúcar ali instaladas. Para contornar o obstáculo de ser essa uma região localizada dentro da zona privilegiada da Cia. Mogiana, a Cia. Paulista comprometeu-se a não restabelecer o serviço de navegação no rio Mogi Guaçu (iniciado em 1887), ligando Porto Ferreira ao Pontal do Rio Pardo. Nesse ponto, já nos deparamos com a Cia. Paulista administrando essa estrada de ferro, pois ocorre que, enquanto companhia independente, a Cia. Ramal Férreo de Santa Rita permaneceu apenas por cerca de 2 anos, havendo sido incorporada pela Cia. Paulista em 1891, em uma operação que gerou muitos comentários na época, de que na verdade a a Cia. Ramal Férreo de Santa Rita teria sido uma "criação" forjada pela própria Cia. Paulista de Estradas de Ferro para instalar, através de iniciativas ditas "particulares", em uma zona confinante (no caso zona privilegiada da Cia. Mogiana), uma estrada de ferro que seria depois "adquirida" por ela. De qualquer forma, como bem lembram Carlos Alberto del Bel Belluz e José Carlos Barbuio em seu excelente trabalho intitulado SANTA RITA DO PASSA QUATRO, Imagens da época do café (1991): "...de qualquer forma, permanecia o fruto do empreendimento --a estrada de ferro-- que, durante muitos anos, iria contribuir sobremaneira para o progresso da cidade e da sua população...". Ainda segundo nos informa Adolpho Pinto (História da Viação Pública de São Paulo): "...por escritura de 16 de junho de 1891 foi a estrada com seus pertences adquirida pela Companhia Paulista pelo preço de 817:800$000 réis, pagos porém em 1.128 ações da Companhia Paulista, do valor realizado de 200$800 réis, então com estraordinário ágio. Com as despesas de SISA e outras o custo importou em 879:487$677 réis..." Horários Eram então os seguintes horários seguidos pelo Trem de Santa Rita:
O apogeu do Ramal Santa Rita As duas primeiras décadas do século XX indicam o apogeu da ferrovia em Santa Rita do Passa Quatro. Os quadros abaixo demonstram o montante de café despachado por algumas estações das Cias Paulista e Mogiana e a comparação com o café despachado via Santa Rita do Passa Quatro. Pode-se perceber que, levando-se em conta o café despachado por estações da Cia. Paulista e Cia. Mogiana, a posição de Santa Rita é de grande destaque, figurando a produção transportada pelo Ramal Férreo de Santa Rita entre os principais entre essas estradas de ferro (fonte A. Pinto) |
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A decadência do Ramal Santa Rita |
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No excelente trabalho sobre Santa Rita do Passa Quatro elaborado por Carlos Alberto del Bel Belluz e José Carlos Barbuio, intitulado SANTA RITA DO PASSA QUATRO, Imagens da época do café (1991) encontramos a razão da decadência não só do Ramal Férreo de Santa Rita, mas uma síntese do que foi a decadência e posterior erradicação de todos os pequenos ramais das ferrovias e da própria decadência das mesmas nos anos seguintes. Segundo os autores apuraram, já na década de 1920 -menos de 30 anos portanto da inauguração da ferrovia--, com o progresso das estradas de rodagem, o Ramal Férreo já começava a ressentir-se da necessidade de modernização, pois enquanto em 1921 Santa Rita do Passa Quatro possuía apenas cinco carros particulares e um de aluguel, em 1923, com a melhoria das estradas, já contava com setenta automóveis, em um crescimento espantoso e irreversível. No ano seguinte, o tempo de viagem de automóvel (com toda a precariedade das máquinas e estradas) era de duas horas para Ribeirão Preto e São Carlos, vinte minutos para Porto Ferreira, quarenta minutos para Pirassununga e DescaIvado, duas horas e meia para Araras e quatro horas para Campinas. Em contraposição, no Ramal Férreo de Santa Rita, de bitola estreita, para chegar a Porto Ferreira, o passageiro viajava mais de uma hora, sacudindo-se em carros de passageiros. Assim, em dezembro de 1921, numa tentativa de modernização do ramal, foi feita uma representação ao presidente da Companhia Paulista, no sentido do alargamento da bitola para 1,60 m., assinada pelo Diretório Político local formado por Victor de Souza Meirelles, Manuel Vieira de Andrade Palma, Victor Ribeiro, Ednan Dias, Carlos Augusto Monteiro de Barros e José Gomes de Oliveira Barbosa. Justificavam o pedido pelos seguintes itens:
Entretanto, a resposta, dada em fevereiro, foi negativa e assim justificada (texto na íntegra e grafia antiga): "......Não é exeqüível o melhoramento em questão por quanto o actual ramal férreo de Santa Rita, de uma extensão de 38 km. com rampas de 3% e curvas de 80 metros de raio, precisaria de um desenvolvimento maior, de 30% ao menos, o que importaria em elevar a 50 km. o respectivo percurso, em vez dos 38 km. que tem actualmente. Assim sendo, os habitantes teriam tarifas mais elevadas que as actuaes, lucrando apenas quanto a rapidez dos trens de passageiros. Releva ponderar ainda que a modificação do traçado para bitola de 1,60 m. teria em resultado uma alteração tão completa que as estações actuaes não poderiam ser conservadas nas localidades em que se acham e teriam de ser mudadas para pontos muito diferentes com grandes prejuízos dos próprios interessados..." A conservação do Ramal Férreo em bitola estreita iria, porém, trazer sérias consequências para a sua sobrevivência, implicando até mesmo na sua extinção, pois em 1937, eram evidentes as transformações no setor das comunicações em Santa Rita. Havia no município, 266 veículos motorizados, sendo 94 automóveis, 160 caminhões, 8 ônibus e 4 motocicletas. Na década de 1950, muito mais evoluíra a situação. Havia seis ônibus diários para Porto Ferreira, "..viajando sempre lotados.."; um horário por dia para São José do Rio Pardo e, para São Paulo, era possível viajar, fazer negócios e compras e voltar no mesmo dia, utilizando a Empresa Viação Cometa, cujos ônibus passavam pelo antigo Posto da Serra, a 2,5 km. da cidade. Na área municipal, havia três horários de ônibus por dia para a Usina Vassununga e igualmente para o antigo Sanatório Colônia Santa Rita. Com um papel social muito importante, existiam ainda as chamadas "linhas de leite" , servindo a zona leiteira do município. Eram os percursos feitos diariamente pelos caminhões da Usina Vigor e da Usina Nestlé, para recolher o leite das fazendas e levá-lo até a cidade. Os caminhões forneciam "carona , levavam encomendas, correspondência, constituindo o principal meio de comunicação utilizado pela população rural. Para o transporte de cargas pesadas, surgiu, em 1948, a Transportes Gracioso Ltda., com caminhões que, duas vezes por semana ou mais, conforme a procura, faziam o trajeto até Campinas, Santos, São Paulo e Rio de Janeiro. Por tudo isso e ainda pela inconveniência de horários e lentidão do transporte, o ramal férreo de Santa Rita da Companhia Paulista, encontrava-se deficitário na década de 1950. As vantagens do transporte rodoviário deixaram quase sem utilidade o velho trem, substituído pelos caminhões que serviam "de porta em porta" . Até mesmo na Usina Vassununga, atual Usina Santa Rita, a ferrovia só era utilizada quando a safra era muito grande ou vendida a poucos compradores, e, mesmo os trabalhadores, quando empreitados em Santa Rita, preferiam os ônibus, "...embora precários e sempre lotados.." . Era, na verdade, a concretização de um plano nacional de política de transportes, voltado para o motor a explosão e para as estradas de rodagem, com o absurdo abandono da ferrovia e da navegação. Assim, no Diário Oficial de 16 de maio de 1956 e na Circular O.C. n9 5.690 foi expedida a seguinte ordem: "a partir do dia 1º de julho próximo, as Estações de Ibó, Santa Olívia e Bento de Carvalho serão transformadas em paradas . No final dos anos 50, a Companhia propõe retirar o ramal férreo. A população, embora não visse com simpatia essa medida, reconhecia a inutilidade comercial do ramal e defendia a sua permanência "por razões sentimentais" que foram insuficientes para impedir a sua extinção total, em outubro de 1960. No final da década de 1970, na gestão do prefeito Wilson Zorzi, transferiu-se para a sede da antiga Estação Ferroviária, parcialmente restaurada, o Museu Histórico e Pedagógico Zequinha de Abreu, criado em 1969. Em 1981, o imóvel foi tombado pelo CONDEPHAAT, através da Resolução nº. 017 de 23 de maio, assinada pelo Secretário da Cultura, Antonio Henrique da Cunha Bueno e, então, restaurado em sua totalidade. E assim, mais uma empresa ferroviária cedeu ao rodoviarismo e o país perdeu mais um pouco de sua memória ferroviária, pois pelo que sabemos, muito pouco do material original do Ramal férreo de Santa Rita foi ou está preservado. |
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