A TÉCNICA DO GRUPO OPERATIVO

 

Definição de Grupo (Pichon-Rivière)

"Todo conjunto de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe explícita ou implicitamente uma tarefa que constitui sua finalidade".

A técnica de grupo operativo

A técnica de grupo operativo que Pichon-Rivière propõe como instrumento no campo da clínica e da tarefa educativa, articuladas ambas sob o denominador comum da aprendizagem, alicerça a proposta de aprender a aprender ou aprender a pensar integrando estruturas afetivas, conceituais e de ação, isto é, o sentir, o pensar e o fazer no processo cognitivo.

O Grupo Operativo e a heterogeneidade

No grupo operativo através da tarefa, o múltiplo, o heterogêneo, o divergente podem integrar-se numa síntese multiforme que enriquece a todos e a cada um dos integrantes, que se esclarecem, nessa prática, acerca da complexidade do real. Nesse processo de trabalho e integração, o objeto de conhecimento se mostra na complexidade de seus aspectos e determinações, tornando-se progressivamente mais concreto. A partir dos diferentes subsídios, dos diferentes enfoques, das perspectivas trazidas pelos integrantes em sua heterogeneidade, esse objeto vai-se enriquecendo e vai-se mostrando em sua complexidade e em sua riqueza. Fazemos referência a isto quando dizemos que a técnica de grupo operativo resgata para a aprendizagem o caráter de produção social que cabe ao conhecimento.

Aprender a aprender ou a pensar

O aprender a aprender ou aprender a pensar - embora sempre estejamos aprendendo a aprender e aprendendo a pensar, o importante é como e em que direção - proposto por Pichon, através desta técnica, implica na transformação de um pensamento linear, lógico-formal num pensamento dialético que visualize as contradições no interior dos fenômenos e as múltiplas interconexões do real. A intenção é que ocorra uma passagem da dependência à autonomia, da passividade à ação protagonista, da rivalidade à cooperação.

Aprendizagem

Por que falamos de ansiedades e de obstáculos? Porque o processo de aprendizagem, enquanto transformação do sujeito e da realidade, não se dá sem contradições. Por que? Porque este processo de mudança implica uma desestruturação situacional do prévio, do possuído e conhecido e uma nova estruturação. Isto pode determinar - no sujeito que vive esse processo - vivências de perda, desinstrumentação e ataque. Surge uma contradição entre o velho e o novo, entre necessidades de distintos sinais, as que nos impulsionam à mudança e as que nos impelem a conservar as estruturas prévias - e isto pode dar lugar a uma contradição entre um projeto e uma resistência a este projeto.

Os obstáculos

Des-construção de certezas adquiridas, de completude narcisista, de negação da falta. Obstáculo epistemológico (Bachelard) que persiste em iluminar o "já visto" e deixar na sombra aquilo que ameaça derrubar alicerces trabalhosamente assentados. E obstáculo epistemofílico, ilusão de completude, inibição, múltiplas variantes do mesmo: a repetição.

Para Pichon, chega-se ao conhecimento atravessando estes obstáculos, caso contrário não se conhece nada. E atravessar estes obstáculos é enfrentá-los, trabalhá-los. E para que isso seja possível não há mais do que um caminho: que possam entrar em cena, que possam desdobrar-se.

Interpretação: hipótese sobre fantasia grupal, problematizar.

Toda interpretação tem, neste tipo de grupos, como na tarefa terapêutica, o caráter de uma hipótese elaborada sobre a fantasia grupal. Não se dirige à exatidão, ou melhor, não se avalia com um critério tradicional de verdade, mas em termos de operatividade, na medida em que permite ou favorece a ruptura do estereótipo.

Então, interpretar não será revelar, muito menos explicar, mas, novamente, problematizar. Isto de forma que ambos os polos da dissociação se reconheçam em sua mútua implicação, e que o obstáculo excluído do discurso grupal, fantasma da repetição, seja obstáculo incluído, objeto de conhecimento. O coordenador será, para Pichon, um co-pensador, alguém cuja tarefa será pensar com o grupo sobre os obstáculos que operam na relação dos integrantes entre si e com sua tarefa. E na medida em que estes obstáculos estão operando desde a latência, desde o não dito, a interpretação se incluirá com uma função reestruturante que conduz o grupo a um cenário no qual possam problematizar os estereótipos.

 

 

Síntese elaborada por Nelma Aragon

 

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