Contos de fadas
O ciclo do noivo animal
UFJF/ Faculdade de Educação
MTE 104 – Arte na Educação Escolar
Prof. Neide Marinho
Os contos de fadas são importantes porque contém a sabedoria popular com conteúdos da essência humana e estão envolvidos num universo que estimula a fantasia, com personagens simples, colocadas em situações diferentes, mas que têm em comum a busca de respostas para algum conflito. Partem de um problema, se desenvolvendo com busca de soluções através de elementos mágicos, resultando num desfecho voltado para a realidade.
Seus elementos tem significados especiais, e se os contos forem alterados, impedirão que a criança compreenda integralmente seu conteúdo, por isso devem ser contados por alguém que tenha condições de respeitar a totalidade da narrativa. As interpretações adultas roubam da criança a oportunidade de sentir por conta própria sua capacidade de enfrentar com êxito uma situação difícil.
Ajudam a criança a compreender suas dificuldades edípicas e lhe dão esperança de conseguir superá-las.
O conto de fadas, à diferença do mito, não deixa explícito a vantagem da união dos protagonistas, mas deixa claro que os bons vivem felizes e os maus podem se redimir. Cada conto reflete alguns aspectos de nosso mundo interior e mostra os passos da imaturidade para a maturidade. Existem contos com o rápido reconhecimento da felicidade, outros transmitem a necessidade de luta para se atingir uma revelação.
Mostram também que existem diferentes tipos de medos (de acordo com os indivíduos).
Branca de Neve e os Sete Anões
A Bela Adormecida
Ü
Quando testou o fuso aprendeu que é preciso esperar até estar preparada para determinadas experiênciasBorralheira (Cinderela)
é
Filha de um rico comerciante. Sua mãe, antes de morrer, pediu que ela continuasse boa menina. Ela sentiu muito a sua falta. Seu pai se casou novamente e surgiram duas enteadas bonitas e más, que a humilhavam, forçando-lhe os trabalhos pesados, com roupas velhas e rasgadas, além de não possuir um quarto e precisar sobre as cinzas do fogão. Por isso era chamada de Cinderela. Seu pai resolveu ir a uma feira, perguntando às três que presentes gostariam de ganhar. As enteadas pediram vestidos e jóias, Cinderela pediu o primeiro ramo que batesse em seu chapéu. Quando ele retornou com os presentes, entregou a ela um ramo de aveleira, que ela plantou no túmulo de sua mãe, chorando tanto que suas lágrimas regaram o ramo, até que ele se tornou uma linda aveleira, onde ela (três vezes durante os dias),chorava e rezava embaixo dele. Havia um passarinho branco, que ficava por perto e quando ouvia seus pedidos, lhe jogava o que ela havia pedido.Um dia o rei anunciou que haveria uma festa que duraria três dias, convidando todas as jovens bonitas do reino para que seu filho escolhesse sua futura esposa. As enteadas chamaram Cinderela para lhes preparar para a festa. A menina chorou, pedindo para ir também. Sua madrasta disse que ela poderia ir, se conseguisse catar (dentro de duas horas) um saco de lentilhas que ela havia despejado no fogão. Cinderela pediu a ajuda dos pássaros. Após ter enchido o tacho com as lentilhas, Cinderela o mostrou para a madrasta, que retrucou dizendo que ela não tinha roupas nem sabia dançar. Além disso mandou que ela catasse mais dois tachos em uma hora, certa de que ela não conseguiria. Novamente ela contou com a ajuda dos pássaros. Quando levou os tachos para a madrasta, ela novamente negou dizendo que iriam passar vergonha com ela. Cinderela, chorando foi ao túmulo de sua mãe, e sob a aveleira, pediu-lhe que a cobrisse de ouro e prata. Logo os pássaros satisfizeram seu desejo e ela foi para a festa, tão linda que não foi reconhecida pela madrasta e suas filhas. Logo que a viu, o príncipe quis dançar com ela, ficando juntos durante todo o baile. Chegando a hora dela voltar para casa, ele quis acompanhá-la, mas ela correu e se escondeu no pombal. O príncipe esperou seu pai chegar, contando-lhe sobre a jovem desconhecida. O pai pensou que podia ser Cinderela, mandando arrombar o pombal. Porém, não havia ninguém lá, já que a menina correu para debaixo da aveleira, trocando suas roupas e voltando para dormir nas cinzas da cozinha. Um passarinho pegou seu vestido e o levou. Na segunda noite, Cinderela foi com um vestido mais bonito. No final do baile, conseguiu escapar novamente, apesar de ter sido seguida pelo príncipe. No terceiro baile, ocorreu o mesmo, com um vestido ainda mais bonito e com sapatinhos de ouro. No final do baile, o príncipe, que já previa sua fuga, untou um degrau com piche, fazendo colar seu sapatinho, que ela deixou ficar, correndo. O príncipe guardou seu sapatinho e disse ao pai que só se casaria com a dona dele. Chegando a casa de Cinderela, uma das enteadas experimentou o sapato, que não lhe cabia, porém foi orientada pela mãe para cortar o dedo maior. O sapato lhe serviu e o príncipe se enganou, levando-a como noiva. Ao passarem pelo túmulo da mãe morta, duas pombas cantaram avisando ao príncipe que havia sangue no sapato. O príncipe a levou de volta para casa. Chegando lá, o mesmo aconteceu com a sua irmã, dessa vez orientada a cortar um pedaço do calcanhar. Novamente foi alertado pela pombas, e devolveu a falsa noiva. Perguntou se não havia outra filha, o pai respondeu que havia Cinderela, mas que seria impossível ser ela dona do sapatinho. O príncipe quis conhecê-la, porém a madrasta não concordou, falando de seu aspecto sujo. Diante de sua insistência, a moça foi trazida, experimentou o sapato, que lhe serviu, e o príncipe a reconheceu e a levou. Quando passou pelo túmulo, as pombinhas confirmaram seu acerto, permanecendo pousadas cada uma em um ombro de Cinderela. No dia de seu casamento, as falsa irmãs compareceram, ficando uma à direita do altar, outra à esquerda. Subitamente, cada pomba voou para cima de cada uma delas e lhes furou os olhos, que ficaram cegas para sempre.
Ü
Mostram os ciúmes edípicos destrutivos e não resolvidos dos pais pelos filhos;Ü
A criança só se torna ela mesma quando a figura parental é derrotada;Ü
Mostram que a existência do conflito de gerações deve-se à auto-referência dos pais e à sua falta de sensibilidade para com as necessidades dos filhos;Características comuns:
Ü
O salvador demonstra seu amor pela futura noiva, é ativo, valente, tem que provar que é digno do amor da mulher escolhida;Ü
Não afirmam o amor da princesa (sempre bela = perfeição), passiva;Ü
Transmitem a idéia de que para se atingir a integridade e identidade, devemos passar por processos difíceis, sem ensinar o que é necessário em termos de crescimento pessoal para uma união feliz;Ü
Mensagem Ü abandonar atitudes infantis para adquirir outras maduras. Sugerem que temos que aprender o desconhecido – ou – desfazer a repressão sexual.
O NOIVO – ANIMAL
Ü
Características comuns:Ü
O parceiro é vivenciado como um animal, geralmente não se explica como e porquê foi transformado em animal = sugere que a repressão sexual surgiu sem que possamos nos lembrar quando;Ü
É obra de uma feiticeira Ü geralmente são as mulheres (mães ou amas) que fazem do sexo um tabu, ou que transmitem às moças a idéia de que o homem é um animal, resultando numa ansiedade decorrente de experiências de outras pessoas;Ü
É o pai quem apoia a união da filha (a mãe não tem participação) Ü a moça deve transferir suas ligações infantis com o pai para um amor maduro com um companheiro da mesma idade;Ü
Normalmente a fera é masculina e assustadora, devendo ser desencantada pelo amor de uma mulher Ü para se conseguir uma união feliz, cabe à mulher vencer sua repressão sexual, se empenhar tanto quanto o homem;Ü
A conquista do amor verdadeiro requer paciência, a tentativa de apressar os acontecimentos no amor e no sexo pode ter conseqüências desastrosas;Ü
As estórias mostram à criança que o temor ao sexo pertence à todos, não só à ela; em nível pré-consciente, transmitem que grande parte da ansiedade foi implantada pelo que lhes disseram, e que as coisas devem ser experimentadas diretamente. Para vencer as ansiedades sexuais, é necessário crescer como pessoa (geralmente pelo sofrimento).Branca de Neve e Rosa Vermelha (Rosa Vermelha e Rosa Branca)
é
Duas jovens e belas irmãs órfãs que viviam sozinhas perto da floresta. Numa noite fria de inverno, um urso bateu-lhes à porta e elas lhe ofereceram o calor da lareira e um prato de sopa. Num dia de primavera, as meninas, passeando pela floresta, encontraram um duende preso pela barba no tronco de uma árvore. Cortaram-lhe um pedaço da barba para lhe ajudar, e logo que ele se soltou, surgiu uma águia que tentou carregá-lo. Uma das meninas segurou-o novamente pela barba, fazendo com que ele se irritasse, achando que seria roubado. O urso apareceu novamente e as irmãs o viram em forma de príncipe por alguns momentos. Logo em seguida, ele reconheceu o duende como sendo o responsável por ter sido enfeitiçado.é
As duas irmãs são encorajadas pela mãe a ajudarem o urso e o anão (apesar de sórdido). Salvam-no duas vezes de um grande perigo, cortando um pedaço de sua barba, e uma terceira vez, cortando um pedaço de seu casaco. Nessa estória, as moças precisam salvar o anão três vezes antes do urso matá-lo para se desencantar. Branca-de-Neve se casa com o príncipe e Rosa Vermelha se casa com seu irmão.Ü
o animal é um urso amistoso e manso, porém, o feiticeiro é um anão malvado. Mais uma vez a mulher precisa exorcizar o feitiço (mudar sua atitude frente ao sexo – deixar de parecer um animal diante de si mesma e do parceiro)O Rei Sapo, ou Henrique de Ferro
é
Havia um rei, cuja filha caçula era tão bela que o próprio sol se alegrava em iluminar-lhe o rosto. Ela gostava de brincar com uma bola de ouro, perto de um poço. Até que a bola caiu lá dentro. Ela chorou muito, até que surgiu da água, um sapo feio, que lhe perguntou por que chorava. Ela lhe explicou, e ele lhe ajudaria, perguntando o que ganharia em troca dessa ajuda. Ela lhe disse que lhe daria o que ele quisesse (vestidos, pérolas e pedras preciosas, até sua coroa de ouro). Ele lhe respondeu que isso não o interessava, e sim ser seu amigo de brinquedos, sentar ao seu lado na mesa, comer em seu prato, beber de sua taça e dormir em sua cama. Para conseguir a bola de volta, ela fingiu concordar, pensando que um sapo não serviria como companhia para seres humanos. O sapo acreditou e lhe resgatou a bola, quando a entregou, ela ficou tão feliz que saiu correndo e pulando. O sapo gritou lhe pedindo para esperá-lo, mas ela não lhe deu atenção, se esquecendo dele e de sua promessa,. O sapo teve que retornar ao seu poço. No dia seguinte, enquanto todos estavam à mesa, o sapo chegou ao castelo e gritou por ela que ao vê-lo, assustou-se com medo e correu de volta à mesa. O rei percebeu seu medo, perguntou o que aconteceu e ela lhe contou sobre o dia anterior. O rei lhe disse que ela deveria cumprir o prometido. Ela obedeceu, deixando o sapo entrar, para ficar junto à ela e comer em seu pratinho, sempre demonstrando má vontade. Após, o sapo estava cansado, e quis que ela o levasse para seu quarto, para dormir em sua cama. Ela tinha medo de dormir com aquele sapo frio, mas o rei, zangado, ordenou novamente que ela cumprisse sua promessa. Ela o levou para seu quarto, colocando-o sentado num canto. Ele insistiu em ir para sua cama, ou contaria para o rei sua atitude. Ela ficou furiosa, pegando o sapo e atirando-o contra a parede, gritando para que ele a deixasse em paz. Assim, o sapo se transformou num príncipe, que lhe contou que havia sido enfeitiçado por uma bruxa, e que somente ela poderia ter lhe salvo do fundo do poço. Eles adormeceram, na manhã seguinte chegou uma carruagem, com seu fiel servo, que havia ficado tão triste com o feitiço, que mandou colocar três aros de ferro em volta de seu coração, para que ele não se partisse de dor e tristeza. Durante a viagem de volta ao castelo (com o casal), o príncipe ouvia barulhos pensando que a carruagem se quebrava, mas o fiel servo Henrique lhe explicou que eram seus aros de ferro que estava se partindo.Ü
Enquanto a princesa brinca com a bola (esfera – ouro = perfeição), ainda tem uma psique narcisista não desenvolvida. Quando a bola cai dentro do poço, ela perde a ingenuidade e lamenta por isso. Faz promessas ao sapo, sem pensar nas conseqüências. Surge o superego na forma de rei (cumprir sua promessa = crescer). Quando ela compreende o valor de sua promessa, vai se tornando ela própria, e o sapo também (vira príncipe). A estória também fala do tempo necessário para a intimidade transformar-se em amor e que não se pode esperar que os primeiros contatos eróticos sejam agradáveis (ansiedade);Ü
O sapo mostra a pré-condição para se tornar humano: independência da figura materna (ser atirado fora da cama) Ü Maturidade. A criança sabe que deverá passar pelos estágios de dificuldade;Ü
Tal como o sapo emerge da água, o embrião sofrerá metamorfoses. A repulsa pelo aspecto do sapo demonstra a falta de preparo para o sexo (que será desejável no tempo devido). No pré-consciente, a criança faz uma conexão entre as sensações pegajosas e viscosas dos sapos ou rãs com os órgãos sexuais, o sapo inchado é associado à ereção. (Essas mensagens são transmitidas sem mencionar diretamente o tema sexual).Cupido e Psique
Ü (mito que influenciou os contos de fadas – Cupido é visto como fera apenas por Psique)é
Cupido é um Deus, invisível para Psique. Na estória, há um rei com três filhas, onde Psique é a caçula, tão linda que desperta os ciúmes de Afrodite, ordenando ao filho Eros que a castigue, fazendo com que ela se apaixone por um homem abominável. Seus pais, preocupados por ela não ter se casado ainda, consultam o oráculo de Apolo, que diz que ela deverá ficar exposta num rochedo alto, para servir de presa a um monstro em forma de serpente. Isso equivale à morte, e ela é levada por uma procissão fúnebre. Mas lá, um vento brando a transporta para um palácio vazio, onde todos os seus desejos são satisfeitos. Eros, contra as ordens de sua mãe, a mantém escondida como sua amante. À noite, disfarçado como um ser misterioso, se une a ela como seu esposo. Psique se sente só durante o dia, e Eros, comovido com suas súplicas, organiza uma visita de suas irmãs ciumentas, que por inveja, a convencem de estar coabitando com "uma enorme serpente com uma cauda de milhares de voltas", de quem estaria grávida (como o oráculo predissera), passando a considerar o amado e o sexo repulsivos. As irmãs a induzem a decapitar o monstro com uma faca. Contrariando as ordens de Eros (nunca tentar vê-lo), pega uma faca e uma lamparina, que o ilumina enquanto ele dorme. Ela percebe que ele é um jovem belíssimo. Confusa, deixa cair uma gota de óleo sobre ele, que se queima e foge. Desolada, tenta suicidar-se, mas é salva. Perseguida pela raiva e ciúmes de Afrodite, passa várias provações. As irmãs malvadas tentam substituir Psique, pensando que serão transportadas pelo vento, mas caem do rochedo e morrem. Eros cura-se de seu ferimento, e tocado pelo arrependimento de Psique, pede a Zeus sua imortalidade. Casam-se no Olimpo e nasce um filho: o Prazer (ou Volúpia).Ü
Psique (= alma)Ü
As setas de Eros despertam desejos sexuais incontroláveis;Ü
A serpente expressa as ansiedades sexuais da moça inexperiente, a procissão fúnebre sugere a morte da condição de donzela, o sentimento negativo para Eros seria devido ao fato dele ter lhe tirado a virgindade, tendo como castigo a perda de sua virilidade;Ü
As provações pelas quais Psique passa sugerem as dificuldades encontradas pelo homem quando as qualidades psíquicas se conjugam com a sexualidade;Ü
Traço significativo: o noivo só está presente à noite, mantendo sua vida sexual separada das outras atividades. A mulher não aceita essa separação, não se contenta com a ignorância sobre o assunto nem com a condição de ser tratada como objeto sexual e depois de árduas tentativas de conjugar amor, sexo e vida, iguala a condição do casal, vencendo no final. As mulheres, consciente ou subconscientemente, vivenciam o sexo como algo animalesco e se ressentem do homem que lhe tirou a virgindade. Sentem que o que parece adorável durante a noite, perde o encantamento durante o dia (muitos homens agem assim).O Porco Encantado
é
Havia um rei com três filhas. Ele deveria partir para a guerra, e lhes pede para se comportar bem, advertindo que não entrem num aposento dos fundos da casa, para evitar uma desgraça. Após um tempo de sua partida, a filha mais velha sugere que entrem no cômodo proibido, sendo apoiada pela filha do meio. A mais nova não concorda. Porém, elas abrem a porta, encontrando lá uma mesa grande com um livro aberto, onde está escrito que a filha mais velha se casará com um príncipe do Oriente, a segunda se casará com um príncipe do Ocidente. A caçula não quer desobedecer as ordens do pai, mas forçada pelas irmãs, fica sabendo que se casará com um porco do Norte. O rei retorna, as duas filhas se casam, chega um porco do Norte, que pede a terceira filha em casamento. O rei é obrigado a ceder aos seus desejos, aconselhando a filha que o aceite. Depois do casamento, o porco entra num charco e pede à mulher que o beije. Ela obedece, limpando seu focinho com seu lenço. Ela percebe que durante a noite, o porco se transforma em homem. Ela pergunta a uma feiticeira que aparece o que fazer para impedir essa transformação. Esta lhe diz para amarrar um cordão em volta da perna do marido durante a noite. Quando ela tenta amarrar o cordão, o marido acorda e lhe diz que ela tentou apressar as coisas, por isso deverá abandoná-la. Não se encontrarão de novo, "até que ela tenha gasto três pares de sapatos de ferro e uma vara de aço à procura dele". Numa interminável procura, ela vai ao sol, à lua, e ao vento. Em cada lugar lhe dão uma galinha para comer e aconselham-na a guardar os ossos e lhe dizem para onde prosseguir. Finalmente, depois de gastos os sapatos e a vara, chega a um lugar muito alto, onde dizem morar seu marido. Para subir, utiliza os ossos que guardava, grudando-os e construindo uma escada pela qual sobe até o alto. Fica faltando um osso para o último degrau, ela então decepa seu dedinho, que, como último degrau, permite-lhe alcançar o marido. Assim o feitiço termina, herdam o reinado do pai dela e "governam como só o fazem os reis que sofreram muito".Ü
Querer desobedecer ordens, sugere que a mulher deseja descobrir o segredo da natureza animal do marido;Ü
O porco rola na lama: típico de quem teme não ser aceito e se faz parecer pior do que é, para se sentir seguro sendo aceito em seu pior aspecto;Ü
A princesa cortando o dedinho (sem ficar aleijada): simbolismo que sugere que num casamento bem sucedido o relacionamento é mais importante do que a integridade física;Barba Azul (não é conto de fadas por não ter nada de sobrenatural ou mágico na estória).
é
Assim que o marido partiu para uma viagem inventada, ocorreu uma festa, com convidados que nunca entravam na casa quando ele estava presente. Quando Barba Azul descobre, sua esposa não pede ajuda de ninguém, nem diz nada para sua irmã Ana, apenas lhe pedindo que procure seus irmãos, que deverão chegar neste dia. Também não se esconde, nem foge.Ü
Trata da tentação sexual, dos aspectos destrutivos do sexo. Corporifica duas emoções da criança: o amor ciumento, e as emoções sexuais, que são fascinantes, tentadoras e perigosas. Confirma que os adultos têm segredos sexuais, e que tentar descobri-los implica em correr riscos (ser castigado). Mas cair em tentação é humano, e a infidelidade deve ser perdoada (Se o parceiro não entende isso, então sofrerá). Ensina no sentido da moral humana que compreende e perdoa.Pássaro Estranho
é
Um feiticeiro rapta a mais velha das três irmãs. Lhe diz que ela pode entrar em qualquer aposento, menos em um, sob pena de morte, que só pode ser aberto com uma chave minúscula. Além disso ele lhe confia um ovo, que ela deverá carregar sempre, caso o perca, ocorrerá uma desgraça. Ela desobedece, entra no quarto proibido, encontrando lá várias pessoas mortas e, assustada, deixa o ovo cair, e o sangue grudado nele não pode ser retirado. O feiticeiro a mata, como fez com as outras. O fato se repete com a segunda irmã. Quando a terceira irmã é levada pelo bruxo, ela o engana, deixando o ovo de lado, enquanto recupera os membros das irmãs, restituindo-lhes a vida. Quando retorna, o feiticeiro acredita em sua fidelidade e lhe recompensa, tornando-se seu noivo. Ela o engana novamente, levando as irmãs e um punhado de ouro para seus pais. Depois, gruda penas por todo o corpo, parecendo um pássaro estranho, escapando. No final, o feiticeiro e seus amigos morrem queimados.Ü
Pontos em comum: a mulher deve confiar no homem, sem indagar seus segredos; existe um quarto proibido; o homem testa sua fidelidade; o fato da informação proibida ser sobre o casamento sugere que a proibição do pai se refere à aquisição de conhecimentos carnais; o tema do sangue indelével significa um ato mau (normalmente um assassinato); a chave que abre o quarto sugere o rompimento do hímen (ensangüentado).A Bela e a Fera
é
Existe um mercador com três filhas e três filhos (com pouca participação no conto). Bela é a caçula, modesta, encantadora e meiga, invejada por suas irmãs, que são vãs e egoístas. De repente a família fica pobre, ressaltando o caráter das filhas. O pai irá viajar e pergunta às filhas o que desejam como presente. As duas irmãs lhe pedem enfeites caros, Bela não pede nada, e após muita insistência, quer apenas uma rosa. O pai não consegue dinheiro nessa viagem e irá voltar tão pobre quanto partiu. Perde-se numa floresta, encontrando abrigo e comida num palácio, onde não vê ninguém. Na manhã seguinte, antes de partir, encontra uma roseira, colhendo algumas rosas para Bela. Surge uma Fera assustadora que o recrimina por esse ato, após ter sido bem tratado. Como castigo, deverá morrer. O pai suplica perdão. A Fera concorda em liberá-lo se uma das filhas tomar seu lugar e seu destino. Se isso não acontecer, o mercador terá que voltar dentro de três meses. Na partida, ele ganha um cofre de ouro, ele não pretende sacrificar suas filhas, apenas encontrar-se mais uma vez com elas. Chegando em casa, não consegue esconder o fato, e os irmãos oferecem-se para matar a Fera, mas ele não permite, achando que eles é que pereceriam. Bela insiste em tomar seu lugar, e irá com ele. O dinheiro que o pai levou para casa proporcionou bons casamentos para as duas filhas. Após três meses, eles vão ao encontro da Fera, que pergunta se Bela foi por livre e espontânea vontade. Ela lhe responde que sim e o pai parte tristemente. Bela é tratada como rainha, todas as noites a Fera a visita, e com o tempo ela se acostuma com isso, pois diminui sua solidão. Porém fica perturbada, pois a Fera sempre lhe pede em casamento. Ela recusa, e a Fera, gentil, parte aflita. Após três meses de recusa, a Fera lhe pede para nunca abandoná-la. Ela promete, pedindo permissão para visitar seu pai, que está quase morrendo por causa dela (viu isso num espelho). A Fera consente com o prazo de uma semana, caso ela não retorne, ele morrerá. Na manhã seguinte, Bela se encontra com o pai, que fica feliz ao vê-la. Seus irmãos estão ausentes, servindo exército. As irmãs, infelizes no casamento, planejam reter Bela por mais de uma semana, pensando que ela será destruída pelo monstro. Bela é convencida, porém, na décima noite, sonha com a Fera agonizante, que a recrimina. Bela, deseja voltar para a Fera, e imediatamente é transportada para lá. Encontra a Fera quase morta de desolação. Durante essa ausência, Bela percebera sua ligação com a Fera, diz que o ama e aceita ser sua esposa. A Fera se transforma num príncipe, e a família se reúne. As irmãs malvadas são transformadas em estátuas, e permanecerão assim até resgatarem suas faltas.Ü
Visão imatura que propõe uma existência dualista para o homem (racional e animal). No processo de amadurecimento estes aspectos devem unificar-se;Ü
O amor edípico de Bela pelo pai, quando transferido ao marido, é restaurador. É a transformação mágica: transformar o repugnante em bonito e inteligente. Mostra que a ligação edípica com os pais é natural;Ü
A fera explica porque foi enfeitiçadaÜ
A imagem da Fera fica por conta da própria imaginação. Em alguns contos, ela tem corpo de cobra = fálico, simboliza o prazer sexual que busca satisfação exclusiva, como a serpente no Paraíso. Seduzindo, faz perder a inocência;Ü
O pai roubando a rosa para filha, simboliza seu amor por ela e antecipa a perda de sua virgindade (flor partida) – experiência feroz;Ü
A estória mostra à criança que homens e mulheres diferentes podem formar um casal perfeito quando unidos pelo amor, e a faz perceber que seus medos são invenções de suas fantasias sexuais ansiosas;Ü
O palácio da Fera é uma fantasia narcisista típica de crianças e lhe mostra que esse tipo de vida é vazio e monótono;Ü
Enquanto Bela ama o pai e não a Fera = a criança vivencia o sexo como repulsivo enquanto seus anseios sexuais estiverem ligados aos pais;Ü
A essência dessa estória é o próprio crescimento durante o processo. O casamento de Bela com a Fera simboliza a cura do rompimento pernicioso entre os aspectos animais e superiores do homem.