Carl Rogers e o Processo Psicoterapêutico

Por Marcelo Ribeiro Dantas



O método adotado por Carl Rogers para responder a essas e outras questões sobre o processo psicoterapêutico e a transformação da personalidade do indivíduo foi fundamentado a partir de gravações de entrevistas terapêuticas. Buscou ouvi-las tão imparcialmente quanto possível, sempre ciente de suas limitações.
Ao teorizar sobre o processo de modificação da personalidade em psicoterapia, Carl Rogers preconiza um conjunto ótimo de condições constantes que facilitem essa modificação. Essas condições, dentro do contexto da teoria rogeriana, partem do princípio de que o cliente se sente plenamente aceito (aceitação incondicional por parte do psicoterapeuta).


A Psicoterapia considerada como um processo:


Da mesma maneira que muitos psicólogos se interessam pelos aspectos constantes da personalidade - os aspectos invariáveis da inteligência, do temperamento, da estrutura de caráter - também Carl Rogers se interessou pelas constantes que intervêm na modificação da personalidade.
Ao procurar captar e conceitualizar o processo de mudança, Rogers começou por buscar elementos suscetíveis de caracterizarem a própria mudança.
Pôde compreender que os indivíduos não se movem a partir de um ponto fixo ou homeostático para um novo ponto fixo, embora processos deste gênero possam ocorrer. Mas o contínuo mais significativo é o que vai da fixidez para a mudança, da estrutura rígida para o fluxo, de um estado de pouca flexibilidade para uma realidade mais dinâmica.


Fases do processo psicoterapêutico:

• Primeira fase


-O indivíduo que se encontra nestta primeira fase, muito provavelmente estará num estado rígido e distanciado de sua própria experiência e não virá seguramente de boa vontade à terapia;
-Comunicação apenas sobre assuntos exteriores;
-Relações íntimas ee pessoais encaradas como perigosas(cliente mantém distância do terapeuta);
-Nenhum problema pessoal é reconhhecido ou captado;
-Não há desejo de mudan&cccedil;a;
-Há bloqueio na comunicaç&ão interna;
-Nesta fase, reage à situaçl;ão presente assimilando-a a uma experiência passada e reage depois como passado.


• Segunda fase


-A expressão em relaç&atillde;o aos tópicos referentes ao não-eu começa a ser mais fluente;
-Os problemas são captados como eexteriores ao próprio indivíduo; ex: "A falta de organização continua a reinar na minha vida";
-Não existe sentimento de responssabilidade pessoal em relação aos problemas;
-Os sentimentos são descritos commo não possuídos ou, às vezes, como objetos passados;
-As contradições podem serr expressas, mas com um pequeno reconhecimento delas enquanto contradições ;
-Nesta fase é comum que a pessoa procure voluntariamente a Terapia.


• Terceira fase


Se a fusão e o início do fluxo na segunda fase não forem bloqueados e o cliente se sentir mesmo sob estes aspectos aceito tal qual é,dá-se uma descontração e um fluir da expressão simbólica, um primeiro encontro com o interno.
-Há uma fluência mais livree do eu como um objeto;
-Há uma expressão das expeeriências pessoais como se estas fossem objetos;
-A pessoa descreve e exprime os sentimenntos e os significados pessoais que não estão presentes; "São comunicações sobre sentimentos passados."
-Há uma aceitação bbem reduzida dos próprios sentimentos. Sente como se fossem vergonhosos mais ou anormais;
-A diferenciação dos sentiimentos é mais nítida e menos global que nas fases precedentes;
-Há um reconhecimento das contraddições da experiência;
-Algumas vezes, as opções pessoais são percebidas como ineficazes.
Segundo C. Rogers , a maioria das pessoas que procuram ajuda psicológica situam-se nesta fase, principalmente devido ao mal-estar que sentem por estarem conscientes das contradições internas - o cliente , nesta fase, "decide" tomar atitudes, mas descobre que seu comportamento não está de acordo com esta decisão.
As pessoas que se encontram neste estágio descrevem sentimentos que não sentem e exploram-se como objetos.


• Quarta fase


- Há uma tendência para expperimentar sentimentos no presente imediato, entretanto acompanhada de desconfiança e de medo perante essa possibilidade.
-Nesta fase, dá-se uma apreens&attilde;o das contradições e das incongruências entre a experiência e o eu. Ex: "Eu não estou vivendo de acordo com o que sou. Poderia realmente fazer mais do que faço".
-Muito significativo nesta fase é; que o indivíduo toma consciência da sua responsabilidade perante os seus problemas pessoais, mas com alguma hesitação;
-Embora uma relação estreiita e íntima com o psicoterapeuta lhe pareça ainda perigosa, o cliente aceita o risco até um certo grau de afetividade.
Não há dúvidas de que esta fase, bem como a seguinte constituem a maior parte da psicoterapia, estes comportamentos são muito comuns em qualquer forma de terapia.


• Quinta fase


Se o cliente se sente aceito nas expressões, comportamentos e experiências na quarta fase, isso irá favorecer maior abertura e uma renovada liberdade no fluxo organístico.
-Os sentimentos estão prestes a sserem plenamente experimentados pois começam a subir à superfície, apesar do receio e da desconfiança que o cliente experimenta em vivê-los de um modo pleno e imediato;
-Há surpresa e receio, raramente prazer quando os sentimentos emergem à superfície;
-Há cada vez mais uma chamada a ssi dos próprios sentimentos e o desejo de vivê-los, de ser o "verdadeiro eu";
-A experiência é mais male&ável, já não tão distante;
-Nesta quinta fase há uma grande melhora da comunicação interna, o diálogo interno torna-se mais livre, reduz-se seu bloqueio.


• Sexta fase


Supondo que o cliente continua a ser plenamente aceito na relação terapêutica, os aspectos da quinta fase modificam-se dando origem a uma fase muito distinta e frequentemente dramática.
-Um sentimento que antes estava bloqueaddo, inibindo sua evolução,é experimentado agora de um modo imediato;
-O medo e o receio da experiência dos sentimentos são substituídos pela aceitação dos mesmos;
-A descontração fisiol&oaccute;gica é outra característica comum nesta fase:os olhos úmidos, as lágrimas, os suspiros, o relaxamento muscular são frequentemente evidentes;
-Nesta fase, já não h&aacuute; problemas exteriores ou interiores. O cliente está vivendo subjetivamente uma fase do seu problema, este não é um mais objeto.


• Sétima fase


Nesta fase, o indivíduo já não necessita sentir-se plenamente aceito pelo terapeuta, embora isto ajude.
Devido à tendência da sexta fase para a irreversibilidade, muitas vezes o cliente parece evoluir para a sétima fase sem a ajuda de um psicoterapeuta.
-São experimentados sentimentos ccom caráter de imediatismo e com uma riqueza de pormenores, tanto dentro como fora da relação terapêutica;
-Há um sentido crescente e cont&iiacute;nuo de aceitação pessoal desses sentimentos em mudança e uma confiança sólida na própria evolução;
-O EU torna-se cada vez mais a próe;pria consciência subjetiva e reflexiva da experiência, surgindo cada vez menos como um objeto percebido;
-A comunicação interior &eeacute; clara, com sentimentos e símbolos bem delimitados;
-É relativamente pequeno o n&uacuute;mero de clientes que atingem plenamente este ponto;
-Quando um indivíduo atingiu estee ponto, ele integrou neste momento a noção de movimento, de fluxo, mudança, em todos aspectos de sua vida psicológica, isto é sua principal característica;
-A natureza da sua experiência &eaacute; consciente do processo da vida, sentindo a novidade de cada situação e vivendo a experiência de um modo imediato;
-Comunica-se livremente nas relaç;ões com os outros, e estas relações não são estereotipadas, mas de pessoa a pessoa;
-Percebe-se responsável pelos seuus problemas e por si mesmo.
Aqui termina o processo psicoterapêutico, com a pessoa plena em criatividade, madura em emoção e consciente dos percalços da vida. Uma coisa fica evidênciada: "Só há processo de mudança quando há aceitação incondicional".

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