A
geração
dos "enta" com certeza ainda se lembra das cenas domésticas
que aguardavam os filhos moderninhos ao final de festas de arromba: mães
descabeladas, pais emburrados apontando o relógio, que marcava o tardio horário
de 5 ou 6 da manhã. Hoje, com os papéis invertidos, muitos pais que viveram a
juventude nos anos 70 já devem ter notado que as festas ficaram muito, muito
mais longas. É a onda das raves, festas produzidíssimas que começam à
meia-noite e só terminam por volta das 2 horas da tarde do dia seguinte.
Realizadas ao ar livre, em sítios ou fazendas, ou em lugares amplos e improváveis,
como fábricas e galpões desativados, as raves são o programa do momento
para
jovens de vários cantos do país, especialmente São Paulo. Surgiram no Brasil
há três anos, trazidas pelos clubbers, a tribo globalizada nascida do culto à
música eletrônica e aos figurinos extravagantemente coloridos. No começo, era
puro amadorismo, e diversão garantida para as no
máximo 200 pessoas que tinham sorte para descobrir o endereço, mantido
sob sigilo. Foram crescendo e passaram a atingir um público bem mais amplo. O
que perderam em espontaneidade, ganharam em organização e abrangência. A rave
Fusion Tropic Eyes amontoou alegadas 8.000 pessoas em um sítio nos arredores
de São Paulo. "Preferia muito mais as raves do começo, mas ninguém
ganhava dinheiro",
filosofa o inglês Shane Hughes, 24 anos, no Brasil desde 1994, hoje promotor
profissional dessas festas.
Ampliadas do universo clubber, com seus piercings e cabelos
coloridos, para o público dos mauricinhos, patricinhas, universitários,
surfistas, motoqueiros, secretárias e curiosos em geral, as raves de agora
recebem, em média, entre 2.000 e 5.000 pessoas. A atração
principal é a música, embalada por DJ's respeitadíssimos no meio ou até
especialmente importados de Londres, a Meca mundial da tribo clubber. Na esteira
do som, vem sua conseqüência óbvia: dança, dança e mais dança. À parte,
quem gosta de adrenalina pode arriscar saltos de bungee-jump.
Milhares de jovens bebem e dançam horas a fio nas tendas,
rigorosamente separadas, de som techno, trance, house e drum' n'bass. Sainha de filó — Os alternativos dos anos 90 são assim
mesmo: conciliam as regras do mercado a algo do libertarismo do movimento
hippie. "Rave é uma festa em que as pessoas podem pirar no visual e nas
atitudes e ninguém recrimina ninguém", vibrava a psicóloga Andréa
Costa, 23 anos, à vontade na maquiagem carregadíssima, com olhos pintados de
azul e rosto coberto de purpurina. A temperatura de uma boa
rave, dizem os especialistas, é medida pela vibração do público dançante
— muitas vezes turbinada por drogas como ecstasy, uma espécie de tempero do
mundo clubber, unha e carne com a imagem das megafestas. O apogeu de qualquer
rave, grande ou pequena, é quando o dia começa a clarear. Quase ninguém
percebe, porque estão todos de óculos escuros. E continuam dançando
freneticamente. Para mais uma geração, a vida, finalmente, é uma
festa!!!!