Quisera
eu ser ventania,
Alçar
vôo nas alturas,
Atingir
com alegria
Brancas
nuvens, sem agruras,
E
vencer a imensidão.
Quisera
eu ser um bólido,
Fulgurante
e ruidoso,
Rasante,
fugaz e sólido,
Cortando
os céus, majestoso,
Vindo
a cravar-me pelo chão.
Quisera
eu ser um relâmpago,
Um
raio, um lampejo de luz,
Me
desprender desde o âmago,
Tamanha
é a força que se produz,
Chego
a soar como um trovão.
Quisera
eu ser um rio,
Curvilíneo,
amplo, caudaloso,
Caminhando,
vencendo o desafio,
Chegando
ao oceano, vitorioso,
E
ser agora mar, não mais ribeirão.
Quisera
eu ser a chuva,
Que
cai no seio da terra, temporã,
Vivificando
o arroz, o trigo, a uva,
Molhando
a relva, confirmando o amanhã,
Chuva
suave, que é divina benção.
Mas
não sou.
Sou
apenas um rochedo,
Desgastado
pela ventania,
Sinto
o bólido como um torpedo,
Me
pondo aos pedaços de agonia,
Eu,
que sou uma pedra no chão.
Sou
apenas um pedregulho,
O
estrondo do trovão me atinge,
Cedo
ante tremendo barulho,
Tamanho
desconcerto me aflige,
Me
vejo em pedaços, já de antemão.
Sou
sólido, sou rocha bruta,
Mas
vou cedendo ao desafio,
Pois
a cada nova fissura,
Vai
vencendo a persistência do rio,
Que
me mata lentamente pela erosão.