"Coluna do Hyder" - Fabio
"Hyder" Azevedo
Unser vs.
Andretti

Um dos
duelos mais famosos e comentados da Champ Car pode ter tido o seu epílogo
esse ano.
O final da última Indy
500 foi totalmente imprevisível, mesmo para uma corrida em que existem
muitas variáveis envolvidas para vencê-la, mais do que em qualquer outra
prova. Azar de Tony Kanaan, o melhor piloto nessa 91ª edição, culpa da
chuva, que em um oval, impede a continuidade de uma corrida. Sobre a
cobertura desta prova pela televisão não tenho muito a acrescentar ao que
já foi comentado pela imprensa. Acredito que está na hora de respeitarem o
espectador, pois tanto amadorismo afugenta a audiência e os possíveis
patrocinadores.
O que poucos devem ter notado, é que um dos duelos mais famosos e
comentados no início dos anos 1980 e no final dos anos 1990 pode ter tido
o seu epílogo esse ano. Naquele período Al Unser Jr. e Michael Andretti
eram as revelações, grandes talentos e herdeiros de duas legendárias
dinastias do automobilismo norte-americano. Antes que os alguns venham
insinuar que se tratava de mais um caso de nepotismo, tão comum nas
instituições públicas do nosso país, digo que nesse caso ocorreu um fato
bem diferente. Antes de eles serem filhos de grandes campeões, Al Jr. e
Michael tiveram brilho próprio, garantido por força de muito trabalho,
grande determinação e inúmeras poles, vitórias e um total de três títulos
de pilotos e duas edições das mais famosas 500 milhas do mundo.
O ano era 1988. Al Unser Jr., então piloto da Galles e Michael Andretti,
na Kraco, prestes a se transferir para a poderosa Newman Haas, travavam um
equilibrado e brilhante duelo para ver quem seria o principal desafiante
do imbatível Penske PC17 pilotado por Rick Mears e Danny Sullivan, que
seria o campeão da temporada. Os chassis Lola eram levados ao limite nas
disputas entre esses ases da Champ Car. Era comum saírem algumas "faíscas"
em alguns desses encontros. O amadurecimento de ambos veio com o tempo. Al
Jr. despontou para categoria um pouco antes, sendo mais constante e
detalhista. Já Michael parecia de início sentir o peso da sombra de Mario.
Somente em 1989, após seis temporadas, o jovem Andretti estava preparado
para correr ao lado do seu querido pai.
Um momento marcante na carreira desses dois gênios ocorreu em 1989, no
circuito de Indianápolis. Michael estava impossível ao volante do Lola
Chevy em sua estréia em 500 milhas na equipe de Carl Haas e Paul Newman
quando um problema mecânico encerrou com suas chances de vencer. Enquanto
Al Jr. esteve envolvido na maior disputa por uma vitória na história do
automobilismo que foi finalizado com aquela manobra arriscada executada
por Emmo nas últimas voltas.
Unser Jr. conquistou magistralmente o título de 1990, sempre com Michael
seu encalço. A equipe Penske vinha de um ano vencedor em 1989, só que na
temporada seguinte, o fracasso instaurou-se por conta do sistema de
amortecedores e câmbio do PC 19. Foi um campeonato de muito trabalho e
desenvolvimento para os lados de Reading. Em 1991 o equipamento estava
competitivo, mas o grande do ano foi o jovem Andretti. Até mesmo na
boataria que envolveu o nome dos dois na Fórmula 1 no início dos anos
1990, existia a rivalidade. Al Jr. havia sido cogitado na Benetton para
1992, tendo como companheiro Michael Schumacher enquanto Andretti,
contrariando os conselhos de Émerson Fittipaldi, seria simplesmente o
companheiro de Ayrton Senna em 1993.
Para as temporadas seguintes houve mudanças consideráveis: Michael havia
retornado da fracassada temporada na Europa assinando com a Ganassi já Al
Jr. deixou a decadente Galles e transferiu-se para a poderosa Penske,
quando em 1994 obteve mais um troféu campeonato e da Indy para a sua
estante. Nos anos seguintes começou lentamente o processo de decadência
para Unser devido à queda de rendimento da Penske com o péssimo motor
Mercedes e Michael Andretti passava de estrela a coadjuvante de Christian
Fittipaldi nos anos de 1999 e 2000. O ano de 1999 marcaria a saída de Al
Jr. da Penske e o fim de sua carreira na Champ Car, indo parar novamente
na Galles, que agora estava na IRL. A experiência na nova categoria foi um
grande fracasso, com apenas alguns poucos bons resultados, em especial, a
vitória em 2003, quando voltou de um tratamento para desintoxicação
alcoólica.
Enquanto isso, Michael Andretti foi demitido da Newman Haas, migrando para
a equipe Green, que depois se tornou a atual Andretti Green. Hoje Michael
administra uma operação com quatro carros e, nos últimos dois anos na Indy
500, utilizou um quinto carro pilotado por ele na tentativa de conquistar
a sonhada vitória que, como piloto, nunca conseguiu, já que como dirigente
possui duas vitórias. Uma época bastante dura para Michael foi ao tempo da
grande disputa entre ele e Paul Tracy em querer ser o maior "braço duro"
do grid.
Era comum ambos estarem envolvidos em uma mesmo confusão durante as
corridas. Em 1996, alguns pilotos (mas precisamente Maurício Gulgelmin,
Paul Tracy e Robby Gordon) que haviam sido vítimas de Andretti nas
primeiras corridas daquele ano, mandaram confeccionar uma camiseta com um
desenho dele com bengala, óculos escuros e a seguinte inscrição: "Michael
Andretti - Escola de Pilotagem Para Cegos". Evidente que o clima ficou
pesado e a Cart, através do Tim Meyer, teve de intervir para a que a
situação não piorasse ainda mais.
A carreira destas duas feras começou de maneira distinta e o final de cada
uma também foi assim. Al Unser Jr. enfrentou problemas com a polícia, com
a bebida e o e o cigarro, vício que carregava de longa data. Lamentável
que um herói de tantas gerações de norte-americanos e um vencedor nato
esteja em um momento tão delicado em sua vida particular. Michael
Andretti, ao contrário, é um empresário bem-sucedido, que possui equipes
competitivas na IRL e ALMS, uma empresa de marketing, além de uma rede de
concessionárias de automóveis.
Algo que poucos lembram era da atitude superior dos dois em relação à
imprensa esportiva norte-americana que tentava jogar um contra o outro,
sempre disposta a colocar lenha na fogueira, só que uma coisa que eles
tinham em comum: nunca foram vaidosos e com ego inflado. Não eram os
melhores amigos um do outro, só que existia um respeito muito forte entre
eles, por tudo que experimentaram e suas carreiras, desde a infância
acompanhando os pais nas pistas, e depois convivendo com a glória e o
ostracismo. Dois grandes mitos, e que para quem teve a oportunidade de
acompanhá-los, jamais esquecerá da forma como competiam. Com muita
determinação, garra e qualidade de pilotagem. As vitórias falam por si
mesmas.
Um grande abraço fiquem com Deus e até a próxima.
Fabio "Hyder" Azevedo
http://blogdohyder.blogspot.com

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Torcedor do Vasco da Gama
e da Associação Atlética Anapolina, fã da Penske,
atualmente sou Analista de Tecnologia da
Informação mas continuo apaixonado pelas corridas como
nunca. Todas as semanas, falarei sobre as minhas experiências na
categoria, além de contar histórias dos bastidores que poucos
conhecem.
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