"Coluna do Hyder" - Fabio 
      "Hyder" Azevedo
      
      
      O exemplo de Gil 
      de Ferran
       
      
      
      
      Gil de 
      Ferran: prova de que  podemos aprender com os nossos erros.
      
  
      Estive acompanhando o 
      noticiário da Champ Car e, pela primeira vez, confesso que fiquei 
      assustado com o atual cenário do certame. Se as contas estão em dia e, por 
      conta dos acordos em andamento com os parceiros, poderia estar melhor se 
      as perspectivas do campeonato em si, não estivessem tão nebulosas. Sempre 
      deixei evidente meu entusiasmo pela categoria, por acompanhá-la há 20 anos 
      (lembro que a primeira corrida foi em Toronto em 1987 e depois disso, 
      fiquei "viciado" na Champ Car). Mas a saída da Ford Motor Company, assim 
      como surgem incertezas nos bastidores e o crescimento vertiginoso da ALMS 
      (American Le Mans Series) em decorrência da retração da IRL e da própria 
      Champ Car trás muito pessimismo quanto ao futuro do monoposto 
      estadunidense. Creio que este ano será decisivo, pois do jeito que as 
      coisas estão em ambos os lados, se uma reunificação não sair e as vaidades 
      e egos não forem deixados de lado, vamos ter de visitar muito os sites de 
      vídeos antigos na Internet assim como recorrer a DVDs e VHSs de corridas 
      gravadas para relembrar da época de ouro.
      
      Também estou preocupado com a ausência de pilotos brasileiros na Champ Car 
      que, diferentemente da IRL, não tem nenhum nome confirmado até o momento. 
      No caso do Bruno Junqueira, isso já era mais do que esperado por conta da 
      mentalidade das empresas brasileiras, que centralizaram todos os seus 
      patrocínios na Stock Car, devido ao pacote televisivo da TV Globo. 
      Enquanto isso, as categorias de monoposto do país estão sendo sufocadas. A 
      F-3 agoniza há anos, já a F-Renault, F-Chevrolet e F-Ford foram estão 
      extintas. Resta a F-São Paulo, mas esta é um torneio regional, e os custos 
      são altos para quem não mora no estado. Volto a citar o antigo 
      representante das Alterosas na Champ Car, pois suas atuações pífias 
      anteriores ao seu acidente de Indianápolis, em 2005, deram mostra que 
      Junqueira não era o piloto combativo e guerreiro que a equipe Newman Haas 
      buscava para ser o rival do tricampeão Sebastien Bourdais. Teve momentos 
      de brilho, mas não sabia manter uma constância e nem usar todo o 
      equipamento que dispunha, pois sempre chegava ao final das corridas com 
      muito "push-to-pass" não utilizado, em detrimento de outros pilotos que 
      utilizava totalmente o dispositivo para chegar aos resultados.
      
      Ele deveria se espelhar em um piloto que no início de sua carreira na 
      Champ Car, vivia tendo muitos altos e baixos, mas soube dar a volta por 
      cima, se tornando o campeão de dois campeonatos altamente competitivos, os 
      últimos da história recente: o brasileiro Gil de Ferran, bicampeão pela 
      equipe Penske. Gil ingressou na Champ Car por uma indicação de Adrian 
      Reynard (fabricante do melhor chassi da categoria naqueles tempos) sendo 
      bancado pela Mercedes, indo parar na equipe do legendário engenheiro Jim 
      Hall. Posso dizer que convivi com o Gil desde a época da Walker era 
      evidente que ele se sentia muito pressionado, pois cobravam resultados em 
      um momento onde não poderia ter um desempenho melhor devido a restrições 
      do equipamento. 
      
      A equipe Walker possuía o mesmo pacote Reynard Honda da Ganassi e da 
      Green, porém tinha a desvantagem de utilizar a borracha (pneus) da 
      Goodyear. Por causa disso, ele alternava ser um bestial para, em poucos 
      instantes, tornava-se uma besta por ser obrigado a anda sempre acima do 
      limite do carro. Entre tantos momentos críticos, um que resume bem aquela 
      situação, ocorreu durante a Rio 200 de 1999, quando Gil ultrapassou o 
      escocês Dario Franchitti numa manobra de genialidade e precisão antes da 
      curva 1 aproveitando do vácuo e da pressão máxima no motor Honda turbo 
      mas, poucas voltas depois, tentou repetir a mesma manobra em cima de Paul 
      Tracy. O canadense não costuma ceder sem dificultar ao máximo, é difícil 
      conseguir uma ultrapassagem limpa, pois ele sempre joga seu carro no do 
      oponente para defender sua posição, não pensou duas vezes e aconteceu o 
      enrosco entre os dois. Isso é normal em corridas, mas não logo no início 
      de uma prova. Seria mais recomendável esperar um momento melhor ao invés 
      de arriscar em um ponto cego da pista ainda mais tendo um adversário que 
      não tinha um carro bom naquele momento. 
      
      Já os momentos inesquecíveis foram muitos, como o que aconteceu no GP de 
      Vancouver em 1995, ano de sua estréia, quando levou um "chega pra lá" de 
      Al Unser Jr. na largada. Com a corrida paralisada, o brasileiro pôde pegar 
      seu carro reserva e voltar para a corrida. Graças à boa estratégia de 
      corrida da equipe do Jim Hall, que trabalhou com maestria e conseguiram 
      contorna o problema, o piloto fazer uma boa corrida e terminou a prova em 
      um excelente segundo lugar, seu primeiro pódio e melhor colocação na Champ 
      Car até então. Ou mesmo na corrida de abertura no mesmo ano de 1995 em 
      Miami onde estreou muito bem, chegando a colocar pressão no vencedor 
      Jacques Villeneuve ou ainda, na corrida de Laguna Seca onde venceu e levou 
      o título de estreante do ano, roubando-o de Christian Fittipaldi.
      
      Na Walker, especialmente em 1997, quando foi vice-campeão sem conseguir 
      uma única vitória, envolveu-se em acidentes com Gualter Salles e no mais 
      sério acidente da carreira de Christian Fittipaldi, entre outras 
      barbeiragens. Mas tudo isso tinha uma explicação. Ele nunca teve um 
      equipamento de qualidade assim como pessoal de suporte no pit da equipe. 
      Quando da época da rápida negociação com a equipe Penske, me lembro de 
      tentar saber com ele como andava as negociações, foi quando sorriu e disse 
      marotamente... "Nos vemos por lá..." depois de algumas risadas percebi que 
      se tratava da confirmação do anúncio, mesmo que em código. Ali Gil 
      conseguiu ter um ambiente tranqüilo para ser campeão, e poder mostrar que 
      não era um piloto apenas mediano, mas que era um lutador. Ele provou que 
      tinha muito mais talento do que tentava exibir nos carros da Hall e da 
      Walker. Uma vez a Kika Conschetto (assessora de imprensa dele e depois da 
      Penske) disse que ele havia recebido uma bela proposta para assumir o 
      cockpit da Stewart na F-1, na época da fundação da equipe. Como ele não 
      quis arriscar o prestígio conquistado nos Estados Unidos, mesmo sendo 
      muito amigo de Jackie e Paul Stewart, preferiu ficar na Champ Car, abrindo 
      o espaço para a chegada de Rubens Barrichello à equipe escocesa. 
      
      Gil de Ferran chegou a ser cogitado para correr na Jordan em 2004, após 
      abandonar a IRL vencendo a sua última corrida pela Penske em sua 
      despedida. Mas depois do terrível e fatal acidente de Tonny Renna no seu 
      primeiro teste com a Ganassi e dos muitos pedidos de Roger Penske para que 
      ficasse fora dos carros, fizeram com que o bicampeão da Champ Car se 
      aposentasse em definitivo. Após uma breve experiência como comentarista de 
      TV, finalmente ingressou na F-1 como diretor esportivo da Honda, vencendo 
      a desconfiança dos membros da antiga equipe BAR, já que foi indicado pela 
      matriz e pela filial estadunidense da montadora japonesa.
      
      Pois é pessoal, Gil de Ferran foi um piloto que errou muito, mas que soube 
      crescer com os erros e vencer... 
       
      Um grande abraço fiquem com Deus e até a próxima.
       
      Fabio 
      "Hyder" Azevedo
http://blogdohyder.blogspot.com                                                                              
      
       
      
        
        
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            Torcedor do Vasco da Gama 
            e da Associação Atlética Anapolina, fã da Penske, 
            atualmente sou Analista de Tecnologia da 
            Informação mas continuo apaixonado pelas corridas como 
            nunca. Todas as semanas, falarei sobre as minhas experiências na 
            categoria, além de contar histórias dos bastidores que poucos 
            conhecem.
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