Como
Sebastien Bourdais se tornou piloto da Champ Car
Por Wallace Michel

Bourdais não era a primeira opção da Newman Haas, porém provou ser um fora
de série desde o início.
Depois de uma temporada
vitoriosa em 2002, quando conquistou o título de pilotos com o brasileiro
Cristiano da Matta após nove anos, além de dar a única conquista para os
motores Toyota na Champ Car, obtendo 7 vitórias, 7 poles, 7 melhores
voltas e liderar 637 voltas, a equipe Newman Haas, sediada em Lincolnshire,
Illinois, vivia um momento de incerteza sobre o futuro: de uma vez só o
time perdia a sua dupla de pilotos. Cristiano foi para a Fórmula 1, para
correr pela equipe oficial da Toyota, enquanto o outro brasileiro, o
experiente e grande acertador de carros Christian Fittipaldi, rumava para
a Nascar.
Sem outra opção, a equipe comandada por Carl Haas e Paul Newman, se viu
obrigada a procurar por substitutos que estivessem no nível esperado por
um time que desde a sua fundação em 1984 estava acostumado a disputar
vitórias e campeonatos. A primeira vaga foi preenchida antes mesmo o final
da temporada. O escolhido foi a então jovem revelação brasileira Bruno
Junqueira que acabava de ser vice-campeão e chegava com status de primeiro
piloto e principal favorito em vencer a temporada de 2003, juntamente com
o canadense Paul Tracy. Mas a escolha do outro piloto foi bem mais
complexa.
A Newman Haas começou uma seleção que reuniu em uma sessão de testes de
três dias no circuito de Sebring, além de seu novo piloto, Bruno
Junqueira, mais quatro pretendentes oriundos de categorias de acesso; Jon
Fogarty (campeão da Fórmula Atlantic), Sebastien Bourdais (campeão de
Fórmula 3000), Ricardo Zonta (campeão de World Series) e Bryan Sellers
(campeão de Fórmula Ford 2000 nos Estados Unidos). No total, cumpriram
mais de 1000 milhas no traçado da Flórida.
Testando com o carro ainda equipado com o motor Toyota e o regulamento de
2002, o objetivo era focalizar os testes nos pilotos, concentrando no
resultado de cada um, já que eles tinham conhecimento do pacote que
estavam usando. Os quatro pilotos tiveram um bom desempenho em condições
meteorológicas muito instáveis, e mostraram serem merecedores de um lugar
na equipe. Não seria fácil escolher o companheiro de Bruno. O grande
favorito era Ricardo Zonta, por conta de suas passagens vitoriosas na
Fórmula 3 Sul americana, Fia GT, Fórmula 3000 e World Series, além da
experiência na Fórmula 1.
No primeiro dia de testes, numa segunda-feira, o brasileiro Zonta
completou 110 voltas com pista seca. Ele terminou o dia com o tempo de
51s9. O piloto utilizou três jogos de pneus novos, mas no último deles já
estava escurecendo e o treino foi encerrado depois de 10 voltas.
No segundo dia, Zonta só andou na parte da tarde e completou cerca de 40
voltas e andou por 1h30. Pela manhã, o teste foi comandado pelo
norte-americano Jon Fogarty. Zonta foi um segundo mais rápido que o
campeão da Atlantic, que já conhecia o circuito e testava pela terceira
vez com um carro da Champ Car. Com pneus novos, Zonta marcou o tempo de
51s2, considerado muito bom pela equipe. O brasileiro simulou algumas
paradas nos boxes, voltando rápido para a pista. Depois, a equipe pediu
para que ele andasse num ritmo forte e ao mesmo tempo economizasse
combustível.
Na quarta-feira, a equipe seguiu os testes com Sebastien Bourdais. Então o
francês impressionou os integrantes da Newman Haas com o seu excelente
desempenho. Sebastien completou 150 voltas e fez o tempo de 51s2,
repetindo a melhor marca estabelecida por Zonta, um piloto com muito mais
experiência do que ele. Assim Bourdais foi convidado para testar novamente
com a equipe no mês seguinte.
Foram mais dois dias de testes novamente em Sebring. Bourdais conduziu o
Lola-Ford e conseguiu cumprir 320 quilômetros na sua adaptação ao bólido
sob condições de tempo ideais. "Só pudemos proporcionar a Sebastien um dia
de testes em dezembro, porque tinha outros compromissos, por isso
consentimos em dar-lhe uma segunda sessão de testes. Rapidamente retomou o
ponto em que havia deixado esses ensaios", disse na época Brian Lisles,
chefe de equipe da Newman Haas impressionado com a habilidade técnica do
piloto.
"Andei com as especificações de 2003, e a sensação foi ligeiramente
diferente, devido à redução de potência, mas o desempenho é muito
semelhante. Com mais tempo, penso que poderia ter rodado muito perto do
tempo conseguido em dezembro. A equipe e eu trabalhamos bem em conjunto",
afirmou Sebastien, esperançado em ser o escolhido para a vaga.
Então o jovem francês, na época com 23 anos, teve de enfrentar a última e
mais difícil avaliação: participar dos testes coletivos da Champ Car em
Laguna Seca, no fim daquele mês de janeiro, em meio a pilotos muito
experientes e talentosos como Bruno Junqueira, Patrick Carpentier, Michel
Jourdain Jr., Oriol Servia, Roberto Moreno, Paul Tracy e Adrian Fernandez.
Agora teria de provar que merecia estar no meio deles e garantir seu
ingresso na categoria.
Bourdais surpreendeu outra vez, pois além de chegar a superar o
companheiro Junqueira, foi o mais segundo rápido na somatória dos dois
dias nos testes coletivos com uma volta em 1min09s709. "Como estreante,
certamente não esperava andar tão rápido. Porém isso é apenas um teste. O
equilíbrio da Champ Car é incrível, e isso é o que me faz querer correr
aqui", declarava o francês, que sentia estar perto de assinar um contrato
com o time.
Finalmente o anúncio oficial da Newman Haas ocorreu dias antes do Spring
Training em Sebring. "No primeiro teste, o Sebastien já mostrou que pode
trabalhar bem em nosso ambiente. Acreditamos que o Bruno e o Sebastien
tenham a habilidade para vencerem muitas corridas e lutarem por outro
campeonato", disse um dos donos da equipe, Carl Haas naquela ocasião.
"A mudança para um novo campeonato é muito emocionante e fazer isso com
uma equipe que conquistou o último título é a melhor oportunidade para se
conseguir o sucesso", declarava Bourdais, que desde então passou a morar
em Tampa Bay, nos Estados Unidos.
Realmente foi o que aconteceu depois de 73 corridas, 28 poles, 44 pódios,
31 vitórias e 4 campeonatos. Agora o novo desafio desse francês nascido em
Le Mans é se descartar também na Fórmula 1, e se tornar o primeiro campeão
da Champ Car desde o canadense Jacques Villeneuve, a se destacar na
categoria máxima do automobilismo mundial. Coragem e talento ele tem de
sobra.