Marcão mergulha fundo no rock and roll no novo álbum do Charlie
Brown Jr.
Uma das qualidades da banda santista Charlie Brown Jr. é o ecletismo
de seu rock, que assimila estilos como ska, hip-hop, reggae e heavy. Com essa
visão musical aberta, instrumentos bem tocados e boas letras, o grupo
emplacou sucessos como Confisco, Rubão e Não é Sério.
Em seu quinto CD, Bocas Ordinárias, o Charlie Brown Jr. volta às
suas raízes pesadas e abusa de guitarras distorcidas e músicas
fortes. O elemento pop está presente, mas, como nos álbuns anteriores,
sempre com honestidade. A faixa Papo Reto (Prazer é Sexo, o Resto é
Negócio) já invadiu as programações das rádios
de todo o Brasil.
O responsável pelas seis cordas no grupo é Marcão. O guitarrista possui técnica eficiente e grande capacidade de criar bases, linhas e texturas marcantes, que servem, antes de tudo, à composição. Até o terceiro álbum da banda, Nadando com os Tubarões, ele contava com a companhia de Thiago Castanho nas guitarras. Com a saída de Castanho da banda, em 2001, Marcão teve de se adaptar como único guitarrista. Seu trabalho em Bocas Ordinárias mostra que a banda acertou ao não chamar outro músico para o lugar de Castanho. Marcão forma com Champignon (baixo) e Pelado (bateria) o power trio ideal para os vocais rap-rock de Chorão. Suas bases distorcidas ou limpas são incrementadas com detalhes que enriquecem as canções. Além dos estilos variados das músicas, em Tarja Preta Marcão relembra a fase em que gostava de tirar músicas de virtuosos como Nuno Bettencourt, Yngwie Malmsteen e Van Halen, mostrando grande habilidade no instrumento. Com boas composições e ótimos músicos, hoje o Charlie Brown Jr. é uma das melhores bandas de rock do Brasil.
ENTREVISTA
Como foi o processo de composição para Bocas Ordinárias?
Minha preocupação quando componho é nunca fazer coisas iguais às que já fiz. Não quero que uma música fique igual à outra, essa é minha luta. No novo disco, ficamos três meses ensaiando juntos e todos assinam as músicas. Criamos muito pela intuição. Não há um método, apenas vemos se está soando bem ou não. Chegamos à conclusão de que todo instrumento é importante para a música. Se eu tiver uma base de guitarra legal mas a linha de baixo for ruim, ou vice-versa, a música fica estragada. Por isso, um tenta colaborar com o outro. Tem bases de guitarra que foram idéia do Pelado. A guitarra, quando está em trio com baixo e bateria, deve ir para uma freqüência que destoe do baixo.
Como você acha que o Charlie Brown Jr. evoluiu com o passar dos anos?
Em 1996, a gente era mais pesado e o som era mais trabalhado do que o de hoje. No novo álbum, regravamos Tarja Preta, uma música do início de nossa carreira. Ela é bem elaborada em termos instrumentais, era uma onda que a gente tocava muito no começo. Éramos bem pesados, uma mistura de Biohazard com Pantera ou Suicidal Tendencies. Não tínhamos preocupação com conceitos e padrões de mercado, as músicas eram bem mais longas. Mas sempre tivemos o sonho de viver de música. Na época, a gente chegou à conclusão de que não adiantava nada nós tocarmos sons que gostávamos e ficarmos restritos a isso. Passamos a curtir outras coisas e abrimos a nossa mente. Incluímos groove e timbres mais limpos nas músicas. Procuramos evoluir até chegar ao resultado do primeiro disco, que tinha um som mais leve. Hoje, de certa forma, estamos voltando às nossas raízes. O som não chega a ser heavy metal, mas é mais pesado, pra cima e com arranjos melhores.
Você acha que a guitarra poderia ter mais espaço no Charlie Brown Jr.?
Todos da banda me dão o espaço que eu quiser. Não é uma limitação que o grupo me impõe, é questão do estilo das músicas que nós compomos. Minhas vontades guitarrísticas são realizadas ao vivo, quando temos maior liberdade e fazemos solos mais longos. Fiquei satisfeito com a sonoridade do disco, a banda voltou a ter um som mais direto e rocknroll. O clima está muito legal no grupo.
Tocar no Charlie Brown Jr. parece divertido e sério ao mesmo tempo.
Concordo. Somos muito amigos e há muita descontração. O Charlie Brown Jr. começou como um projeto de tocar por diversão, mas cada um sempre deu o melhor de si, com mais atitude do que frescura.