Se você quer saber como o Charlie Brown Jr. começou, por que escolheu esse nome e qual o nome verdadeiro de Chorão, errou o lugar. Porque aqui nesta entrevista Chorão conta para Luka, nossa colunista e locutora da Rádio Rock, sobre outras coisas, muito mais profundas: o que pensa da vida, do dinheiro, da banda e de si mesmo.
Texto: Luka
Fotos: Silvio Romualdo
Quando você se ligou que a banda "tinha conseguido"?
Tem várias fases de conseguir, né? Na época que a gente
era underground e surgiu uma gravadora, foi um "conseguimos". Quando
a gente se faz sucesso tocando aqui na 89 (a Rádio Rock de São
Paulo) também foi louco. A primeira vez que ouvi Charlie Brown na rádio
foi na 89. Eu tava na Marginal Pinheiros lotaaada e fiquei imaginando quantos
carros estavam escutando aquela porra. Isso foi um "consegui". E o
legal é ainda se estusiasmar com as coisas, porque quando a coisa começa
a virar estagnação, fodeu.
Qual é a coisa mais chata de ter uma banda famosa?
O mais chato é que muitas vezes você não pode achar chato:
ter que trabalhar quando você não quer.
E o que é muito legal?
Eu gosto de fazer show, eu nasci pra isso. O sucesso é um fator, o papo
comigo é música.
E viagem, você não estressa?
Estresso pra caralho. O mais foda é pegar oito horas de ônibus
pra cá, seis horas de ônibus pra lá e mais um tanto pra
outro lado sem dormir, comer. É foda viver de Baconzitos e Coca-Cola,
dormir e comer mal. Por isso que eu engordo e emagreço, engordo e emagreço.
E eu não vou pra praia e fico branco pra caralho.
Hoje você tá feliz com o seu visual?
Eu sou gordo assumido, feliz pra caralho. Tô sossegado, adoro comer. Procuro
emagrecer pra ficar bem pro show, agitar no show e não me cansar muito.
Mas se você está pesado e pula muito, no dia seguinte tá
com dor no pé, no joelho. E tem que fazer outro show. E o pessoal de
amanhã merece o mesmo show de ontem e anteontem - e melhor até,
porque hoje eu tenho a obrigação de saber uma coisa a mais do
que ontem, ou de, no mínimo, não cometer o mesmo erro.
É verdade um parada que você foi fazer um jantar à luz
de velas e acabou colocando fogo no seu apê?
Isso foi quando O Coro Vai Comê! tava começando a estourar (meados
de 1997), um mês depois que o som começou a rolar. Minha casa já
não tinha luz. Mas beleza: eu tinha uma pá de vela e acendi todas
para comemorar que ouvi meu som na 89. Aí chegou um momento de atividade
física sexual (risos) e depois a gente repousou. Só que, quando
acordei, a casa tava pegando fogo e eu quase morri, porque tinha um botijão
de gás bem do meu lado. O apê era bem pequeno, um cômodo
só. Eu falei pros caras da gravadora: "Meu , eu não tenho
onde morar e se vocês não fizerem alguma coisa, eu vou lá
pra gringa, porque meu sonho sempre foi ir para lá entregar pizza".
Hoje em dia você segura sua família financeiramente?
Seguro. Uma vez eu comprei um apartamento de frente pra praia em Santos. Era
um puta apê, eu botei tudo o que eu podia, me endividei mais um pouco,
e dei pra minha mãe. E ela odiava aquilo, sabe? Morava o prefeito embaixo,
o não-sei-quem em cima, só gente bacana. Ela não se sentia
bem. Minha mãe é uma pessoa humilde, que gosta de gente humilde,
de partilhar copo de açúcar, xícara de café, essas
coisas de vizinho que a burguesia não tem. Aí ela foi morar no
interior, depois cansou de ficar sozinha e voltou pra Santos, pra um apê
que eu aluguei. Minha irmã também tem uma apê que eu comprei.
Eu procuro ajudar da maneira que posso. E isso me dá prazer.
O Marcelo D2 levou um monte de prêmios no VMB (Video Music Brasil) em
categorias que você concorria. Como foi?
Pô, fiquei tão feliz de ver o cara ganhar que eu não pensei
que deveria ser a gente. Juro por Deus! Porque o cara merece. Ele quebrou vários
tabus, foi preso, discriminado, impedido de tocar em várias cidades e
é um puta artista, um puta talento, uma puta personalidade, é
um maconheiro sensacional (risos). Eu saí de lá como se eu tivesse
ganhado todos os prêmios daquela noite.
Qual a importância que você dá pro dinheiro?
Eu acho que o dinheiro não é sinônimo de superioridade.
O dinheiro é uma conseqüência do seu trabalho, da expansão
que o seu trabalho toma e do quanto você se dá pra aquilo. Hoje
em dia não faço outra coisa na vida além de ser do Charlie
Brown, ser o cara que tá nas paradas. Hoje tô aqui falando contigo,
amanhã gravo um clipe, faço uma música, depois faço
outra... Então acho que meu dinheiro eu mereço!
O que você ouve hoje?
Ouço muito mais som gringo do que nacional. Tenho uns 5 mil discos, e
só 150 deles são nacionais. Mas me entusiasmo quando ouço
Detonautas, sinto saudades do Marcelo NOva, admiro o D2. Gosto de coisa nova,
coisa antiga... Tô sempre escutando meus discos do Dead Kennedys, Suicidal
Tendencies, Beastie Boys Black Sabbath, Run DMC e, ao mesmo tempo, ouço
banda nova pra caralho.
Você tem vontade de ter um projeto paralelo?
Pô, eu adoro os caras da minha banda. Direto o Champignon olha pra mim
e fala: "Gordão, tu é foda". Eu viro pra ele e falo:
"Baiano, tu é demais". Com o Marcão e o Pelado rola
a mesma coisa. É por isso que eu não me vejo trabalhando sozinho
no estúdio.
Mas como seria o Chorão solo?
Ia ser o tipo de som que eu faço, só que com um pouco mais de
experimentação, porque não ia ter o conceito Charlie Brown
tão forte. Eu iria dar umas piradas, fazer um som com colher, levar a
guitarra pra gravar no banheiro, gravar a batera num corredor que reverbera
pra caralho, uns negócios diferentes. Já que o disco é
meu, o prejuízo também seria meu (risos).
Você sente que tem muita gente que puxa o saco?
(Cinco segundos de silêncio) Não sei... As pessoas olham pra mim
de uma maneira tão estranha que eu não sei se é admiração,
medo, recalque...
Dá pra sacar os "sacanas"?
Pra se conhecer alguém de verdade, basta dar um poderzinho. Tem nego
que acha que só porque trabalha num jornal e tem um poderzinho pode falar
o que quiser. Mas eu não tenho problema com jornalista.
Você tem problema com o quê?
Eu tenho problema de calvície e de obesidade (risos)!
Você é um cara espiritualizado?
Eu acredito piamente em espírito, na vida após a morte. Pra mim,
a religião legal é o espiritismo, uma mesa branca que fala de
Jesus, que fala de Cristo, Deus, espíritos, anjos, da energia, ruim e
da energia positiva.
E reza?
De vez em quando. Às vezes eu começo a rezar e quando vou ver
já tô cantando um rap. Acho que rezar é como comungar com
Deus. É falar a real normalmente, e não frases feitas. E esse
papo de: "Quero que Deus me ajude"... Você é que tem
que ajudar Ele, porque Deus tá fodido (risos). Não precisa salvar
o mundo, é só não acabar com ele.
Gosta de coisas bizarras?
Eu tenho muito vídeo louco, tem um que é de dentista só
arrancando dente, tenho vídeo de cachorro grudado, tenho tanto vídeo
escroto! O "Jackass" virou brincadeira de criança perto dos
meus vídeos! Gosto de freak show, gosto de ver corrida de carro desses
malucos que vão a milhão só para bater. Tenho uma caixa
com vídeos do Zé do Caixão e gosto de ver tudo isso. Mas
você pode ver que eu não sou um cara freak, eu não tenho
um osso de baleia na orelha.
E arrependimentos, você tem?
Eu teria arrumado menos brigas com zeladores de prédio, taxistas, seria
menos folgado com alguns PMs. E teria apanhado bem menos na cara.
Já bateu medo de perder o sucesso?
Eu não penso muito nisso. Acho que eu tô na metade da trajetória.
Gosto tanto de trabalhar que eu ainda vou incomodar muuuita gente (risos). Os
incomodados que se mudem, porque eu vou incomodar pra caralho ainda, se Deus
me permitir.
E o seu selo?
É, eu vou mostrar no ano que vem. O segredo do sucesso é esse:
"Feche tua boca"! Não diga o que vai fazer... Eu vou montar
um selo (leia box) e vem novidade por aí!
Como está a carreira internacional da banda?
A gente tá bem, muito bem em Portugal, nós vendemos um disco e
meio (risos). Tô zoando. A gente fez uns festivais em Portugal e tava
bombado. Estamos começando a ficar uma banda grande lá. Tocamos
junto com Orixas, Alanis Morissette, Peter Murphy do Bauhaus, The Cure, Chemical
Brothers.
Momento Marília Grabriela (risos): qual seu maior defeito?
Não controlar minha raiva: eu fico puto e quebro tudo. Depois fico consertando...
O ruim é que tem certas coisas que não têm concerto.
E outra coisa que eu não perdôo é não ter estudado.
Parei na sétima série. Eu sei o suficiente pra escrever você
com dois "esses" (risos).
E a qualidade mais forte?
É reconhecer o talento dos outros. E não ser egoísta. Não
tenho diferenças com ninguém, as pessoas que têm comigo.
Eu amedontro, porque chego chegando.
Tem mais algumas novidade pra jogar na nossa mão?
(misterioso) Aguardem... o filme!
O "acústico valvulado
Ele não sabe fazer poesia, mas que se dane. Chorão está
se lixando para gente chique e de gosto refinado. O recado está na nova
música Não Uso Sapato e parece certeiro quando se fala no acústico
de sua banda, o Charlie Brown Jr. Pela primeira vez desde o CD desplugado dos
Titãs, um "Acústico" é gravado sem cordas e com
o vocalista em pé e bem disposto no palco. E saiu algo elétrico,
mesmo com os instrumentos fora da tomada. "Pô, a gente é uma
banda de rock", justifica Chorão.
Com cinco discos lançados desde a estréia, há seis anos,
a banda viu que era a hora de gravar o acústico. Não foi o primeiro
convite: a MTV havia convocado os santistas para o programa logo após
o lançamento de "Preço Curto Prazo Longo", em 1999.
"Ainda era muito cedo. Agora é a hora legal de fazer algo diferente.
Estamos no meio de uma turnê bem-sucedida", diz, queremos ganhar
mais público. Estamos no meio de uma turnê bem-sucedida",
diz, desmistificando a imagem de um acústico só servir para resgatar
artistas esquecidos.
Os ensaios duraram dois messes e a escolha do repertório atendeu às
músicas que funcionavam mais ao violão, além das inéditas
(Não Uso Sapatos e Vícios e Virtudes) e as covers: Hoje, do Camisa
de Vênus, com Marcelo Nova; Samba Makossa, de Chico Science, com Marcelo
D2, e Obá Lá Vem Ela (Jorge Ben). No próximo ano, o Charlie
Brown tenta tirar da gaveta o projeto de um filme: a história de um produtor
picareta apoiada em apresentações da banda, que devem povoar todo
o longa. "É um filme B, não esperam um "Cidade de Deus",
avisa Chorão.
Salve bizarrice
Outro plano de Chorão é lançar um selo, ainda sem nome
mas já com uma banda no cast: O Carnal Desire. "Vai ser para gravar
essa banda. Não vai vender nada. O cara é gordo, feio, banguela
e ainda é polícia", conta. Amigos da galera do Charlie Brown
desde a época em que o vocal só cantava em inglês, o Carnal
Desire esbanja bizarrices nas 40 músicas compostas pelo vocalista, o
soldado da PM Tarso Wierdak. Além de muitos bandidos, ele já teve
de enfrentar uma tropa de mulheres iradas com sua músicas "sensíveis"
como Calvice Vaginal e Pênis Siameses (!?). "Cerca de 90% de nossas
letras são verídicas, como Churros Assassino. Escrevi logo após
comer um doce e quase morrer de diarréia", poetiza o figura Tarso.
O vocal já é conhecido dos fãs do CBJr.: ele é o
segurança do clipe Só Por Uma Noite. O estilo sexycore continua
nos shows. O pesado PM aparece vestindo sunga, botinha, máscara, luvas
e colete. "E distribuo revistas pornôs", completa. A banda ainda
não começou a gravar o CD, mas a escolha do repertório
deve ficar toda por conta de Chorão. "A garotada vai amar o nosso
som. Eu sou o Xuxão", brinca.
Marcos Sérgio Silva"
A revista trás um pôster da banda... foto de uma das noites da
gravação do Acústico Mtv.
A revistas trás outras matérias, tais como: a expectativa quanto
ao Metallica no Brasil, já cancelado há tempos, mais bandas novas
na coluna da Luka, João Gordo papai, das conzas: os LPs, gringo, gringo
e mais gringo... além do Rodox, com o mais novo integrante: Canisso.