CHARLIE BROWN JR. "Tamo aí na atividade"

"Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar". A frase do grande homeboy pernambucano Chico Science (1967-1997) bem poderia ter saído da(s) boca(s) nada ordinária(s) de Chorão (vocal), Champignon (baixo), Marcão (guitarra) e Pelado (bateria), a rapaziada do Charlie Brown Jr. Com uma diferença apenas, os passos do CBJ são dados em cima de uma prancha de skate ("Di SK8 eu vim" e "Di SK8 eu vou").

Com a urgência que caracteriza a sua trajetória desde a estréia em 1997 (Transpiração contínua prolongada), a banda de rock #1 do Brasil - com mais de dois milhões de discos vendidos - nem bem deixou o Acústico MTV/2003 (500 mil CDs e 100 mil DVDs) esfriar e já lança o sétimo CD: Tamo aí na atividade (EMI). O trabalho marca o reencontro do CBJ com Rick Bonadio (Br'oz, Rouge, Acústico MTV Ira!), produtor dos dois primeiros álbuns do grupo.

Banda de rock #1 da Brasil? Sim. Os muito (in)sensíveis que me perdoem, mas Charlie Brown Jr. é fundamental. Nenhuma outra banda atual do Brasil combina competência instrumental (o baixista Champignon, por exemplo, ganhou o Prêmio Multishow de Música Brasileira 2004 de melhor instrumentista) com discurso sincero e em sintonia com as ruas e a molecada como o CBJ (nesse sentido, Chorão é o Renato Russo de hoje).

Tamo aí na atividade reitera as virtudes desses corações imperfeitos de Santos. O grupo não planejava lançar um disco agora. Chorão pensava em gravar a trilha do filme O magnata, que tem roteiro seu e direção de Johnny Araújo, responsável por clipes do CBJ e Marcelo D2. O projeto cinematográfico - estrelado por Paulinho Vilhena - atrasou e o CBJ, já cansado do Acústico MTV, decidiu gravar o novo CD. Os fãs agradecem.

Os caras nunca soaram tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo, mas sempre classe A. O skate punk melódico que forjou o caráter do CBJ espraia-se por Champagne e água benta (com baixão funky), So far away, Todos iguais e Indicados para o Prêmio Nobel da Paz ("Muitas drogas vão te oferecer/ E as suas respostas vão dizer quem é você/ O mundo livre vai te condenar/ Cuidado com os indicados com o Prêmio Nobel da Paz!").

Quem nasce perto do mar carrega a maldição do ska reggae - e o ritmo jamaicano, devidamente turbinado pela pegada da banda, aparece desta vez na faixa título do CD. Assim como o hip hop, outro elemento importante na estética do CBJ, que ressurge bem arranjado em Malabarizando (Quem é de fé continua com a gente), na linha old school; na ótima e curtinha Cheirando cola; e nos vocais e scratches de Chorão em Di SK8 eu vim e Di SK8 eu vou.

A experiência do Acústico MTV, quando a guitarra distorcida cedeu espaço para os violões e as harmonias (simples e eficientes) das canções foram ressaltadas, influencia os arranjos de Eu vim de Santos sou Charlie Brown (um samba rock maneiro com pitada de hip hop), Longe de você e a reveladora O lixo e o luxo: "Não vou mais me importar falar de mim/ Eu sou, eu nasci, eu me criei assim/ Estar com quem eu gosto é o que me faz feliz/ Eu conheço o lixo, o luxo/ Sei quanto vale uma vida, eu vivo a vida.../ Ela deve ser vivida com liberdade/ Eu já fiz a guerra, eu já fiz a paz.../ Eu sou o lixo, eu sou o luxo/ Eu sou o ódio, eu sou o amor". Alguém duvida?

É, um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar. Os loucos conscientes Chorão, Champignon, Marcão e Pelado sabem disso. E sabem também - sem falsa modéstia, please - que a fina sintonia estabelecida com a vibe e o pensamento da juventude urbana não é um "produto" que pode ser criado em laboratório ou estimulado por pseudo intelectuais de plantão. Muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos, homeboys.

Hagamenon Brito