Respirando Imunidade Musical


20/10/2005


Começa acelerado, rápido e novo. Na capa, uma guitarra com asas. Charlie Brown Jr. Imunidade Musical. As cores da noite refletidas no asfalto molhado de chuva. Este som que está rodando pela cidade. As frases que se soltam e voltam a se integrar. O Contexto. O sentido. Sem conseguir dormir outra vez, eu agradeço por ir ao encontro de quem eu quero ao meu lado. Guitarra, voz, baixo e bateria. Uma música depois da outra. Certos detalhes eu deixo para os especialistas. Estou falando de vida. Música pop? Ritmo e poesia. Rock'n'roll. Skateboard. A linguagem das ruas. Nervosa. Estridente. A ilusão trocada pela realidade. Todas as músicas são uma única música. A música que coloca tudo em movimento.

Dois amigos voltam de carro e deixam uma balada para trás, ouvindo o cd e sentindo-se vivos, eles voltam a dançar o "pogo" das rodas punks, brincando de caos organizado e comemorando a diversão que volta a contagiar na forma de música.

Uma menina olha as vitrines no shopping se vê prestando atenção na música que vem da loja de cds. Ouvindo o passeio da guitarra, ela se pergunta: Quem está comigo? Quem já não está mais ao meu lado? O que a vida me ensinou?. Ela quer aprender a se deixar iluminar pela luz de quem está com ela agora.

O taxista conduz um passageiro até o aeroporto numa manhã de céu limpo ouve a música no rádio e abre um sorriso. Tudo é motivo para falarem sobre o que alguém já fez. Quem não faz, fala sobre quem faz. Coisa séria virou motivo de piada.

Uma mãe desvia os olhos da televisão atraída pela música que vem do quarto do filho. Quando as coisas mais importantes começam a desaparecer numa confusão de enganos, alguns correm e se escondem. Mas outros ficam de pé para reconstruir os valores que nos fazem querer viver. As mudanças não acontecem ontem ou amanhã, mas sim agora.

Um advogado assiste um clip na Tv e senta para refletir sobre o que faz e sobre o que gostaria de fazer. Ele respeita a coragem de cantar dúvidas num mundo que não quer admitir dúvidas e a coragem para cantar convicções num mundo em que poucos querem assumir suas opiniões.

Um guitarrista que compra o cd ouve repetidas vezes e fica pensando porque não consegue fazer sua banda ir além dos ensaios. Fazendo seus próprios caminhos. O que parecia errado antes, agora é o que mais vale. Tem coisas que não mudam. Acreditar e persistir. Integração com linguagens internacionais. Ritmos. Que som é este? Além das fronteiras...

Um menino que caminha até a escola ouvindo seu cd player e cantando sozinho. Briguento. Não tolera desaforos. Quer aprender a provar todos os dias o seu valor. Palavras. Parcerias. Respostas. Reação. Enfant Terrible, um dia ele vai aprender a aceitar suas próprias duvidas, usar sua experiência buscando equilíbrio, esta consciente da sua posição, reafirmar suas convicções diante das situações contrarias. Seguindo o exemplo de skatistas? Skateboard, só quem anda entende. Criatividade, iniciativa e atitude num mundo sufocado pelo politicamente correto. A coragem nossa de cada dia.

Um agente de segurança que trabalha no show tenta entender tudo aquilo que acontece: barulho, multidão, ginásios, estádios, parques lotados de pessoas cantando, dançando, pulando e vibrando. Um tipo de arte que não cabe em museus.

Um fotógrafo registra a gravação das músicas e pensa nas idéias que teve e não levou adiante, os sonhos nos quais não acreditou, seus desejos sufocados pelas regras dos outros, tudo o que deixou de lado para se adequar aos procedimentos comuns, quem queria ser, quem se tornou.

Um cantor viveu aquele momento e escreveu sobre tudo o que acontecia ao seu redor. Palavras que traduziam a situação. 30 anos depois alguém volta a cantar suas palavras acompanhado por novas multidões. Ele ouve e se pergunta se as coisas mudam sempre para voltar a ser o que eram de forma diferente.

Querem mais guitarra, baixo e bateria? Aqui tem. E também loucura, liberdade, ansiedade, pulsação. Segurança? De alguma forma. Algumas vezes ele estava certo, outras vezes ele errou. Ele foi conquistado pelas qualidades dela e aprendeu a valorizá-la. Aprendeu a falar de amor. Ele já bateu de frente, já gritou mais alto e já viu apenas o que queria enxergar, mas teve a chance de mudar e não deixou passar. Eu, ele, você. Depositamos nossa confiança e fomos traídos. Quais são e onde estão os valores da nação? Madrugada? Enquanto alguns vêm e outros vão. Dirigem um carro. Esperam um ônibus. Guiam uma bicicleta. Andam de skate. Uma cidade, todas as cidades. Suor, sangue, lágrima. Satisfação, orgulho, felicidade. Faço tudo o que sempre quis e mesmo assim tem dias em que é difícil continuar. Outras palavras: corpos livres, mentes perdidas. Sim, eu, ele, você, nós.

Rap. Rock. Hard core. Ragga. Levada. Ginga. Na batida. Malandragem. Amizade. Condutas. Contra os clichês. Não esperar por novas promessas. A velha alma do blues que cria dor para curar a dor. Não trocar a liberdade pela ilusão das opções mais fáceis ou mais vistosas. Tenso. Intenso. Bom senso. Mais uma frase: vencendo o desamparo com personalidade. Cantando junto. Melodia. O som dos dedos nas cordas do violão. Palavras que dizem sem mandar recados. O que é mais importante na sua vida agora? As coisas mais complexas feitas de pequenos gestos simples guardados como segredos. Alegria, tranqüilidade. Uma tarde de domingo na companhia certa. Unidade. Harmonia. Leveza. Violino, violão. As escolhas. Piano. Sintonia. Não deixar de viver situações que são difíceis de entender. As coisas nunca são somente o que parecem ser. É muito importante ter histórias para contar.

Todas estas músicas são uma única música. E esta é a música que continua colocando a vida em movimento. É Preciso ouvir.

Texto do fotógrafo e escritor Jerri Rossato Lima