89 Rock

Anthony Kiedis

89- O que você tem a dizer para os fãs que ficaram sem ingresso para o show em São Paulo?
AK- Foi uma situação ridícula. Nossa agenda estava lotada e nos avisaram que só poderíamos tocar um dia no Brasil. Eu disse: "Mas não vamos tocar no Rio?" E disseram: "As pessoas estão esperando no México e temos de fazer um vídeo". Eu peço desculpas por fazer apenas um show no Brasil.

89- Como você encarou a saída de John Frusciante da banda?
AK- É tão difícil sobreviver quando você está com o piloto automático ligado... Claro que foi a última coisa no mundo que esperávamos que aconteceria, mas foi o que deveria ter acontecido. A última vez que viemos pra cá (1993) pensávamos ter perdido a química de nossa banda. Criamos uma coisa juntos, mas tivemos que tocar aqui sem uma das pessoas que nos ajudou a inventar essa fórmula. Mas, ao mesmo tempo, queríamos continuar a tocar o nosso som.

89- Quando você escreveu My Lovely Man, que é uma canção para um amigo, muita gente entendeu a faixa como sendo uma música de amor. E também o fato de você ter beijado Dave Navarro na boca. O que rola na real?
AK- Hey, eu não beijei Dave na boca... Foi ele que me beijou (risos). Que foi uma coisa que discutimos, pois estávamos de saco cheio de ficar filmando um clipe durante o dia inteiro. Foi combinado que, para aquele plano, a gente daria um pequeno beijo e nos afastaríamos. Ele então me agarrou e não parou de me beijar. Foi quando o nosso advogado disse: "Você não pode colocar essa cena no vídeo". Então, a gente disse: "OK, nós vamos colocar essa cena no vídeo só pra fuder com esses caras (risos)". Quanto à letra de My Lovely Man, eu escrevi, mas nós fizemos a música juntos. Não vejo nenhuma conotação sexual nela. É apenas sobre um amigo que morreu, e do qual eu sinto falta...


Flea

89- Como foram as gravações de Californication? Ouve alguma história engraçada ou estranha?
Flea- (irônico) Tem umas histórias muito engraçadas... Me diverti muito... (falando sério) A verdade é que eu estava tão deprimido nas gravações... Meu coração estava partido, tive problemas com uma garota, e tudo que fiz durante o tempo todo foi chorar, ficar caído no chão, na posição fetal, muito deprimido. Então, durante as gravações, juntei todas as forças que restavam para me concentrar.

89- Como você e Anthony se conheceram?
Flea- Eu tinha 15 anos e estava na escola, quando o conheci. Eu estava dando uma chave de braço num cara. Ele merecia uma lição e estava dando uns croques na cabeça dele. Anthony veio até mim. Eram os anos 70 e todo mundo tinha cabelo comprido e ouvia Led Zeppelin, menos ele, o que me chamou a atenção. Ele veio e disse: "Larga o cara!" Eu falei: "Ah, OK". E então a gente se sentou junto na classe e decidiu viajar pra esquiar nas montanhas. Foi assim que ficamos amigos. É uma amizade que envolveu muitos altos e baixos. Nessa época, eu tocava numa banda da escola como o Hillel Slovak (primeiro guitarrista dos Peppers, morreu de overdose em 88) e o Jack Irons (baterista) e, quando encontrei Anthony, começamos o Red Hot Chili Peppers.

89- E como Chad Smith entrou na banda?
Flea- Muitas coisas aconteceram, os integrantes mudaram e, 11 anos depois, conhecemos o Chad. Ele nos foi apresentado por uma garota de cabelo vermelho, que disse: "Conheço um cara que come baquetas no café da manhã". Eu disse: "Manda ele pra gente".


John Frusciante

89- O que você diria para quem está pensando em tomar drogas pela primeira vez?
JF- As vezes eu penso em coisa brilhantes para dizer sobre o assunto. Mas acho que isso envolve muita responsabilidade. Acabo falando do melhor jeito que as drogas pode fucionar. Eu costumava apenas falar de como era bom usar drogas. Mas agora minha vida está completa sem o uso delas. Elas provavelmente abriram algumas partes do meu cérebro, mas eu acho que posso reproduzir pela música todas as sensações das drogas sem precisar usa-las.

89- Você faria uma campanha contra as drogas?
JF- Não. E eu não acho que as pessoas que fazem são sempre sinceras. Eu fui preso, mas não tive a chance de fazer uma campanha: fui direto para uma clinica de reabilitação, em Los Angeles, tive de ir as aulas semanais pra falar do uso de drogas com mais outros 30 perdedores. Foi como eu paguei pelo meu erro.

89- Mudando um pouco de assunto, é verdade a história de que você teve de mostrar uma ereção pra entrar na banda?
JF- Não. Eu lembro de ter inventado essa história quando tinha 19 anos. Foi durante as filmagens do clipe Higher Ground. Saiu publicado em varias revistas. E isso foi repetido muitas vezes. Uma coisinha que você diz ecoa milhões de vezes.


Chad Smith

89- Vocês chegaram a ser acusados de agitadores da confusão que rolou no festival de Woodstock?
CS- Não tivemos nada a ver com os incêndios. Mas para algumas pessoas parecem ter ficado bravas porque um dos maiores alto-falantes não estavam funcionando. Foi uma pena isso ter acontecido. A gente foi tocar com uma boa intenção.

89- Vocês acham que projetos como o Jubilee 2000 (projeto beneficente comandado pelo ex-Jane's Addiction, Perry Farrell) podem acabar com a pobreza do mundo?
CS- Tudo o que é dado com amor e compaixão vai ajudar de alguma maneira. Acho que a única resposta para os problemas da humanidade é que as pessoas consigam ter paz dentro de se próprios. Quando fizeram We Are the World (do projeto USA for África), eu achava graça, pois parecia tão hipócrita, ridículo. Um grupo de popstars tentando salvar o mundo. Parecia tão bobo. Mas tudo o que é feito com amor e bondade é bom. É o que eu acho.