Setembro 2.002
História do Movimento
Homossexual
– Introdução: desde os primórdios -
Em anterior publicação, apresentamos
um resumo cronológico da história do Movimento Homossexual. Desta vez, seguiremos
com capítulos mais detalhados, partindo sobre a sua história desde épocas
antigas até o momento atual. Acreditamos que a sua leitura dá asas a muitas
reflexões sobre o contexto atual, coisas que não sabíamos ou não compreendíamos
poderão ser desvendadas, além de revelar a importância da organização, da
mobilização das pessoas junto às mudanças sociais. O texto a seguir, bem como
os demais têm como fonte um texto produzido pelo Partido Socialista dos
Trabalhadores-Unificado.
A Homo e a heterossexualidade são diferentes orientações sexuais que convivem lado a lado desde os primórdios da humanidade. Estudos antropológicos realizados em todo o mundo demonstram inclusive que em grande parte das sociedades primitivas, os homossexuais exerciam um papel de importante destaque, sendo respeitados como conselheiros, curandeiros ou em outras tarefas.
Estes
mesmos estudos nos levam a crer que a opressão ao homossexual pôde, em parte,
ser explicada no mesmo contexto em que se originou a discriminação e a opressão
contra as mulheres. A introdução da propriedade privada e a transformação das
antigas sociedades matriarcais em patriarcais, como foi analisado por Engels,
em a Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, por exemplo,
provocou alterações nas relações sociais e sexuais. A necessidade de se
determinar quem era o herdeiro das propriedades acumuladas submeteu as mulheres
ao domínio masculino e deu início à discriminação em relação à toda atividade
sexual que não tivesse na reprodução “controlada” seu objetivo.
Esse processo, obviamente, teve ritmos próprios nas diferentes sociedades do mundo antigo. Em civilizações como a romana, e principalmente a grega, a homossexualidade seguiu sendo respeitada quando ligada aos rituais sagrados, na iniciação dos adolescentes na vida adulta, e mesmo ao aparato militar ( como no famoso “bando sagrado de Tebas”, um exército formado exclusivamente por amantes homossexuais).
Com
o desenvolvimento e a expansão do cristianismo como religião dominante, a
discriminação contra os homossexuais adquiriu formas elaboradas, e a prática da
homossexualidade começou a ser não somente condenada pela sociedade, como
também punida de forma exemplar. A questão da reprodução aqui ganha novos
contornos; a relação sexual que não tivesse como conseqüência produzir
descendentes dentro de um dado modelo familiar, era considerada imoral e
antinatural.
Desta
forma, em seu período de maior poder, na Idade Média a partir do século XI, a
Igreja desenvolveu uma caça contra os homossexuais e todos aqueles que se
levantavam contra a moral católica. Além das centenas de lésbicas que foram
queimadas como bruxas, homossexuais em geral, eram usados como “lenha” para as
fogueiras purificadoras da santa igreja.
Somente
no século XIX, contudo, surgiu o termo “homossexualismo” para denominar as
relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. O termo foi rapidamente vinculado
a uma “doença”, que deveria ser tratada. Essa concepção vigorou em grande parte
do mundo até os anos 80, quando a Organização Mundial de Saúde, em 1985,
finalmente retira o “homossexualismo” da lista das fatalidades patológicas,
justificando-se contra qualquer tipo de discriminação e violência contra gays e
lésbicas. Tal medida foi em grande parte conseqüência da mobilização do
movimento homossexual internacional.
Um dos mais sangrentos exemplos dessa violência foi dado pelo nazismo, durante a II Guerra Mundial, que enviou centenas de milhares de homossexuais para a morte, nos campos de concentração. Os homossexuais eram marcados com o triângulo rosa, que anos mais tarde se tornaria um dos principais símbolos da luta contra a opressão homossexual.