“A VALSA”

 

 
 Tu, ontem,
 Na dança
 Que cansa,
 Voavas
 Côas faces
 Em rosas
 Formosas
 De vivo,
 Lascivo
 Carmim;
 Na valsa,
 Corrias,
 Fugias,
 Ardente,
 Contente,
 Tranqüila,
 Serena,
 Sem pena
 De mim!
 
 Quem dera
 Que sintas
 As dores
 De amores
 Que louco
 Senti!
 Quem dera
 Que sintas!
 - Não negues,
 Não mintas
 - Eu vi!...
 
 Valsavas:
 - Teus belos
 Cabelos,
 Já soltos,
 Revoltos,
 Saltavam,
 Voavam,
 Brincavam
 No colo
 Que é meu:
 E os olhos
 Escuros
 Tão puros,
 Os olhos
 Perjuros
 Volvias,
 Tremias,
 Sorrias
 Pra outro
 Não eu!
 
 Quem dera
 Que sintas
 As dores
 De amores
 Que louco
 Senti!
 Quem dera
 Que sintas!
 - Não negues,
 Não mintas
 - Eu vi!...
 
 Meu Deus!
 Eras bela,
 Donzela,
 Valsando,
 Sorrindo,
 Fugindo,
 Qual silfo
 Risonho
 Que em sonho
 Nos vem!
 Mas esse
 Sorriso
 Tão liso
 Que tinhas
 Nos lábios
 De rosa,
 Formosa,
 Tu davas,
 Mandavas
 A quem?!
 
 Quem dera
 Que sintas
 As dores
 De amores
 Que louco
 Senti!
 Quem dera
 Que sintas!
 - Não negues,
 Não mintas
 - Eu vi!...
 
 Calado,
 Sozinho,
 Mesquinho
 Em zelos
 Ardendo,
 Eu vi-te
 Correndo
 Tão falsa
 Na valsa
 Veloz!
 Eu triste
 Vi tudo!
 Mas mudo
 Não tive
 Nem galas
 Das salas,
 Nem falas,
 Nem cantos
 Nem prantos,
 Nem voz!
 
 Quem dera
 Que sintas
 As dores
 De amores
 Que louco
 Senti!
 Quem dera
 Que sintas!
 - Não negues,
 Não mintas
 - Eu vi!...
 
 Na valsa
 Cansaste;
 Ficaste
 Prostrada,
 Turbada!
 Pensava,
 Cismavas,
 E estavas
 Tão pálida
 Então;
 Qual pálida
 Rosa
 Mimosa,
 No vale
 Do vento
 Cruento
 Batida,
 Caída
 Sem vida
 No chão!
 
 Quem dera
 Que sintas
 As dores
 De amores
 Que louco
 Senti!
 Quem dera
 Que sintas!
 - Não negues,
 Não mintas
 - Eu vi!...

 

 

 Casimiro de Abreu