NÃO ME
DEIXES!
Debruçada
nas águas dum regato
A flor
dizia em vão
À corrente
onde bela se mirava...
“Ai, não
me deixes, não”.
“Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares
à amplidão.
Límpido ou
turvo, te amarei constante;
Mas não me
deixes, não!”
E a corrente
passava, novas águas
Após as
outras vão;
E a flor
sempre a dizer curva na fonte:
“Ai. Não
me deixes, não!”
E das
águas que fogem incessantes
À eterna
sucessão
Dizia
sempre a flor, e sempre embalde:
“Ai, não
me deixes, não!”
Por fim
desfalecida e a cor murcha,
Quase a
lamber o chão,
Buscava
inda a corrente, por dizer-lhe
Que a não
deixasse, não.
A corrente
impiedosa a flor enleia,
Leva-a do
seu torrão:
A
afundar-se dizia a pobrezinha:
“Não me
deixaste, não!”
Autor:
Gonçalves
Dias.
Deve ter
escrito pensando no grande amor de sua vida, “Ana Amélia Ferreira do Vale”, a
qual não pode ficar, porque a família da moça não o aceitou como noivo.
Gonçalves Dias morreu no navio naufragado na costa maranhense em
1864, aos 41 anos. Salvam-se todos à bordo, menos o
poeta que pode ter sido "arrancado de seu torrão como a pobrezinha da flor
eternizado em seu poema"