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Dominando a adrenalina cinematográfica

Divulgação"Adrenalina" bem poderia ser o nome de batismo deste “O Procurado”. Adaptação da HQ homônima, escrita por Mark Miller e desenhada por J. G. Jones, o título despeja nas telonas várias seqüências (visceralmente) frenéticas - e absurdas, seja pelo viés do frenesi criado pela ação transloucada ou (diretamente) pelo sentido inverossímil da coisa, envolvendo manobras radicais “impossíveis” e balas que desviam de obstáculos para atingirem alvos encobertos (algo frontalmente contrário as leis da física). Tudo, evidentemente, condizente (e semelhante) com a sabida origem quadrinística do produto, elaborado numa "realidade" (propositadamente) exagerada - se inserido, com isso, num estilo bem alternativo dentro do gênero filmístico. Elaborando, assim, um conjunto extremamente atraente - e/ou diferente. Em parte, graças (igualmente) a uma contratação “incomum” (recuando no tempo) dentro de Hollywood - buscando em Moscou (!) um comandante “improvável” para guiar esta produção americanizada.

Dirigido pelo ótimo cineasta russo Timur Bekmambetov (o mesmo de “Guardiões da Noite”), a empreitada extrapola convenções na constante correria/tiroteios de sua trama recheada por assassinos profissionais e maçonarias secretas. Deixando os papéis protagonistas centrais para a dupla James McAvoy (“Desejo e Reparação”) e Angelina Jolie (“Tomb Raider”), ambos estão estonteantes nos respectivos (adequados) personagens. Ele interpreta um - traído - agente de seguros (“quase tendo um ataque de nervos”) que herda do pai as qualidades de “matador instintivo”, ela, por sua vez, assume o papel de uma (durona) agente que fala pouco, mas que sabe fazer-se notar - visivelmente - pela "postura" (aka boa compreensão física).

Angelina sempre conseguiu (e aqui não é diferente) impor suas heroínas nos cinemas, em muito, devido ao porte atlético (invejável) e a tal “atitude nata” tão marcante/característica na famosa esposa de Brad Pitt. Ou seja, sua notável participação em “O Procurado” não chega a surpreender ninguém, pelo contrário. McAvoy, entretanto, surge - positivamente - como uma autêntica surpresa, se saindo muito bem nesta “estréia” em blockbusters de verão cobertos por efeitos especiais. O ator escocês passa com méritos no difícil teste dos filmes pipoca, tendo que desenvolver uma transição gradual de “homem comum” para “super-herói” ao longo da corrida projeção tipo “arrasa-quarteirão”. Vale ressaltar também a presença onipresente de Morgan Freeman (de “Cavaleiro das Trevas”), o veterano ator esbanja segurança ao encarnar o chefão da mega-organização “Fraternidade”, revelando uma notória experiência nos papéis de chefia (afinal, na ficção ele já foi presidente dos EUA - e até Deus - no transcorrer da prolífera/aclamada carreira). Doravante o competente elenco estar, felizmente, sob a tutela de um cineasta extremamente competente. Timur (no bom sentido) é doido. Daqueles capazes de desenvolvê-la numa criatividade absurdamente saudável na enlouquecida Sétima Arte.

A forma arrojada com que o diretor filma e lida com os aspectos narrativos - sobretudo visuais - apenas reforçam os - multiplos - emblemas “diferenciados” descobertos no elogiado material original. Apesar de ostentar diferenças claras com relação à revista, o filme traduz algumas linguagens gráficas típicas da Nona Arte. Explorando, por exemplo, balões de pensamento (transformados em off) e - referencialmente - brincando com diversos aspectos textuais - vide a formação de novas palavras quando letras sortidas são misturas ao acaso (notem quando as peças do teclado se despedaçam no ar e como as manchetes de jornal entregam o nome da própria película). Tecnicamente interessante e bastante violento (principalmente no quesito “morte sanguinolenta”), “O Procurado” sofre um pouquinho - unicamente - nas semelhanças óbvias com “Matrix”, abusando do tal Bullet Time (que acelera e desacelera a imagem) tanto quanto na consagrada ficção científica dos irmãos Wachowski. Ademais, em determinado instante, McAvoy chega a brincar (rapidamente) com seus óculos (escuros), parecidíssimos (propositadamente?) com aqueles utilizados por Neo na citada aventura pós-apocalíptica.

Independente destas comparações (normais), sendo elas justas ou não, a verdade factual é que Timur e Cia garantem o "milagroso" espetáculo pirotécnico, segurando as peripécias num intrigante limiar-misto de veracidade e moderna fantasia. Corroborando para uma experiência megalomaníaca (e impactante) que, mesmo imperfeita, se torna suficientemente capacitada - levando-se em conta sua (justa) proposta de entretenimento descompromissado, extraído nas formas taquicardíacas mais despojadas (possíveis e impossíveis aos olhares da ciência), isso no cerne da cinematografia “completamente desenfreada”. Sem qualquer misericórdia.

 

Carlos Campos

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