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Misturando dourado mágico e vermelho demoníaco

DivulgaçãoEste é um blockbuster (atipicamente) alternativo. Tanto quanto era a série em quadrinhos do “vermelhão” título. Diferente de outras adaptações que buscam na Nona Arte ícones clássicos como Batman e Homem-Aranha, o longa de Guillermo Del Toro segura as pontas com uma figura pouco conhecida no meio - até entre os fanboys de carteirinha. Trazendo às telas um trabalho de vertentes autorais (já presentes no original criado por Mike Mignola em 1993) e bem alimentado pela - brilhante - pirotecnia artesanal (esta, a serviço da tal liberdade criativa). Assim, diferente dos semelhantes cinematográficos, “Hellboy II: O Exército Dourado” aposta forte no apuro do design tradicional (envolvendo efeitos de cenografia, maquiagem e bonecos). Deixando a CGI, tão difundida atualmente, restrita aos momentos onde ela acaba sendo - realmente - indispensável. Seguindo os paradigmas de seu elogiado “O Labirinto do Fauno” (ganhador, justamente, de três Oscars), Del Toro constrói um universo mágico riquíssimo em detalhes (aka níveis/significados multifacetados).

Passeando - livremente - num precioso limiar entre terror e conto pueril, o diretor mexicano concerta diversos erros (tipo, clichês aos montes) que prejudicaram seu primeiro "Hellboy", lançado em 2004. Visivelmente envolvente e apostando (de vez) nas criaturas mágicas, a película usa o que a anterior tinha de melhor (um herói protagonista diferente/dignamente interpretado pela cara-metade Ron Perlman) e maximiza a nova fórmula com seqüências de ação empolgantes. Porém, aquém das batalhas épicas, algumas delas envolvendo “exércitos dourados” e monstros gigantescos, "Hellboy II" escancara (mesmo) o passeio pela “toca do coelho”. Aventurando-se - completamente - no mundo fantástico escondido sob os olhares humanos. Apresentando uma profusão de interessantíssimos seres míticos, sejam eles co-protagonistas, coadjuvantes ou reles figurantes. Todos devidamente retratados com esmero. Assim como o vasto multiverso (secreto e sagrado) que habitam, tão chamativo quanto.

Tudo mostrado com uma pegada - excepcionalmente - trabalhada de forma imaginativa. Da introdução ilustrativa aos profusos momentos de pura letargia, como a poética queda sob o carro e a beleza sublime dos últimos vestígios deixados/lançados pelo “Elemental” abatido. A magnitude desses quadros apenas esbanjam o nítido capricho na elaboração deste “panteão de aberrações”, não por acaso, a grande atração deste longa-metragem. Sobressaindo-se pelo aspecto visual, muito dos personagens também se destacam pela personalidade enlaçada à poderosa imagem que os revestem, como o “anjo da morte” e a “criança tumor”. Sem falar do próprio Hellboy, cada vez mais engraçado e debochado. Principalmente, nas tentativas de “se revelar” pra mídia. Na voz e na postura de Perlman, o agente demoníaco acerta - inclusive - nos acordes humanizados. Apesar de posar de “super-herói implacável” na hora da pancadaria (sem se amedrontar diante de cada “cara feia”). Além de sempre bem acompanhado pelos parceiros de investigação, com direito a cientista ectoplásmico (Seth McFarlane), uma adição ao grupo que luta contra as - prolíferas - ameaças apocalípticas.

Deixando ganchos para uma eventual terceira parte, o filme chega a partir de uma premissa inexistente nos quadrinhos homônimos, contando com um enredo (envolvendo uma iminente guerra entre "humanos X raças imaginárias") desenvolvido exclusivamente pras telonas (com auxilio de Mignola em pessoa) - entregando uma colorida mitologia que consegue superar (amplamente) o longa anterior e honrar a versão impressa (jamais esquecida, independente dos “desvios” na narrativa). Algo que, só aumenta as expectativas pelos vindouros projetos de Guillermo (vide “O Hobbit”). Possibilitando - igualmente - um retorno aos redutos de Hellboy, futuramente (probabilidade já acenada pelos produtores, isso, desde que as bilheterias sejam condizentes, claro, com a excelência do presente conteúdo...). Uma “alternativa” muito bem-vinda as incontáveis HQs “menos pessoais” que adentram nossos cinemas, anualmente.

 

Carlos Campos

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