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Audaciosamente indo e voltando no tempo

DivulgaçãoEm 2001, “Jornada nas Estrelas” atingia matutamente seu quinto derivado televisivo, revisitando o passado num prólogo chamado “Enterprise” - série ambientada 100 anos antes das experiências de Kirk (e Cia.) pelo infinito. A nova empreitada buscava mostrar os passos iniciais da humanidade mergulhando no espaço sideral, revelando como foram os primeiros (des)encontros intergalácticos e estabelecendo as bases para estendermos o (fantástico) universo criado por Gene Roddenberry em 1966.

Sob a tutela da dupla Rick Berman & Brannon Braga (produtores de longa data da família “Trek”), esta nova “Jornada” buscava se diferenciar dos co-irmãos estelares quebrando algumas tradições icônicas, por exemplo, alterando sensivelmente as relações entre terrestres e vulcanos. Apesar das mudanças, visando conseguir novas audiências, o prequel não conseguiu alavancar bons índices, em parte pelo normal esgotamento do franchise (acumulando anos de ininterrupta exibição), mas - sobretudo - pela ineficiência em agradar um público descontente com certas direções adotadas, muito contrastantes, visto as diretivas estabelecidas ao longo das décadas.

Trekkers de todo mundo bradaram como autênticos Klingons logo na estréia, revoltados com o uso de uma canção (a bonita “Faith of the Heart”) em substituição ao hino instrumental costumeiramente utilizado para abrir cada episódio. Contudo, nada comparado aos inúmeros narizes torcidos com a vilanização proposital do (antes) sapiente povo de Spock. A raça, protagonista do "primeiro contato" na Terra, tornou-se antagonista de seus supostos protegidos, pois ficaram temerários demais vislumbrando seres-humanos atingindo às estrelas "antes da hora" - sem o preparo adequado. Evidentemente, como aconteceu - aliás - em todas as encarnações de “Star Trek”, as coisas melhoram bastante no passar das temporadas. “Enterprise” chegou a seu quarto ano ainda com fôlego (já em formato HDTV). Todavia, a nave fora recolhida pela própria Paramount, alegando um baixo custo-benefício. Argumento acrescentado/usado num temporário (e estratégico) "final" estipulado pelo estúdio para dar um “descanso” à sua marca principal. Que demonstrava sinais de desgaste.

Restando aos fãs a opção de rever Archer e sua trupe - novamente - agora em DVD. Pelo menos, enquanto o novo filme (XI) não chega (está programado para 2009). O luxuoso box lançado (há tempos) no Brasil segue a versão americana, disponibilizando para o espectador brasileiro os mesmos 26 capítulos (mais extras) contidos na cobiçada caixa importada.

1º Temporada

O “Ano I” de “Enterprise” até começa bem, com o episódio piloto “Broken Bow” abrindo as cortinas para a trama principal, envolvendo uma tal “Guerra-Fria Temporal”. Bem construída, esta etapa começa (espertamente) apresentando os personagens (destaque para o já falado Capitão Archer, encarnado por Scott Bakura como um "Han Solo" da Frota Estelar), mostra alguns elementos considerados canônicos (especialmente os arcaicos pré-modelos de fasers, teletransporte, etc...) e aposta na sensualidade da oficial de ciências vulcana (aka subcomandante), T’Pol (vivida por Jolene Blalock). A cena da descontaminação - onde ela e o oficial de engenharia (Charles 'Trip' Tucker, interpretado por Connor Trinneer) aparecem com pouca roupa em closes sapecas - causou polêmica e alguns pensamentos obscuros nos (assanhados) admiradores fogosos. Alguns erros (já citados nos parágrafos acima) ou acertos costuram a trama com boas seqüências de ação - usando efeitos especiais apurados (que - merecidamente - renderam o Grammy na categoria). Outro colírio é o austero visual da nave, mais militarizada (ares estilo submarino). Demonstrando as maravilhas de uma Direção de Arte fazendo valer o alto investimento no desenvolvimento dos cenários. Pra fechar, ainda temos a rápida aparição de James Cromwell (do filme “Jornada nas Estrelas XII - Primeiro Contato”) reprisando seu (importante) papel como Zefram Cochrane.

“Luta e Fuga”, o terceiro episódio ("Bow" é duplo), exercita algumas complicadas/perigosas situações encontradas quando se está há anos-luz de casa. Especialmente para Hoshi Sato (Linda Park faz a oficial de comunicações oriental), uma acadêmica inexperiente em missões espaciais, contudo, essencial para o êxito desta aventura (em particular). Essa moça (minha personagem predileta) representa muito bem uma das convenções adotadas por Berman e Braga: colocar na (única) espaçonave terráquea - dotada de dobra fator 5 - pessoas comuns, sem a (outrora) sensibilidade evoluída das figuras como Picard (de “A Nova Geração”) ou Sisko (de “A Nova Missão”). Deixando claro que (aqui) a narrativa motriz (em detrimento ao enredo) se concentrará (de vez) nas personas. Agora, mais falíveis e tinhosas.

“Explorar Novos Mundos” faz a “equipe de descida” chegar num planeta pressupostamente inabitado. Maravilhados, os exploradores acabam encurralados na caverna local - durante a repentina tempestade que os recebe. Lá, eles suspeitam que “não estão sozinhos”. Esta “desconfiança” acaba servindo como desculpa para ilustrar as recorrentes relações atribuladas de T’Pol e seus companheiros (dominados pelas “emoções”). Se não provoca suspiros, este conto “de terror” ao menos ostenta uma fala inesquecível, quando o cão Porthos (um mimo) desembarca festivamente em solo extraterrestre. Prestem atenção nele!

“Inesperado” é o debutante com vertente cômica. A descoberta de um "carona" camuflado deflaga uma série de contatos cordiais - até demais. Desembocando numa “relação íntima” como jamais experimentada pelo homo-sapiens. Agrada com a mesma qualidade non-sense da “Série Clássica” - sem se esquecer dos marcantes Klingons, evidentemente.

“Terra Nova” se caracteriza atabalhoadamente como um dos mais fracos desta safra, mostrando os remanescentes da abandonada colônia título. Desestimulante na medida errada. A trama “batida” (e reaproveitada por centenas de shows parecidos) revela uma falta de originalidade muito preocupante. Sem falar na obviedade do clímax... Curiosamente, este capítulo foi dirigido por LeVar Burton, o Geordi La Forge de “A Nova Geração”. E só.

“O Incidente Andoriano” acaba beneficiado postumamente, pois o tal “incidente”, envolvendo vulcanos e andorianos (seres azuis com anteninhas) escoará para outros (notáveis) pontos no futuro da saga. Tornando este capítulo necessário-memorável para que possamos entender o desenrolar de “Enterprise”. Inclusive, em suas últimas temporadas. Roxann Dawson, a híbrida B'Elanna Torres do seriado “Voyager”, ataca como diretora.

“Quebrando o Gelo”, oitavo da lista, novamente confronta os lógicos seres de orelhas pontudas com os “falíveis” habitantes do terceiro planeta em órbita deste nosso sol amarelo. O “boneco na neve” (principalmente depois de receber um “pequeno” incremento) salva do marasmo uma desastrada tentativa de exploração ao gigante cometa gelado.

“Civilização” entrega para Archer alguns segundos de “conquistador de corações” - bem ao estilo Kirk, que sempre cobiçou lindas aliens humanóides. A investida de um bando hostil em uma sociedade pré-industrial também escancara (outra vez) o mimetismo de outras (tantas) historietas similares. Uma pena. Vale só pelo precursor beijo inter-racial.

“Mercadores no Espaço” firma seus olhares no navegador Travis Mayweather (o sorridente Anthony Montgomery), de uma geração nascida em cargueiros estelares. Estes, atacados por piratas espaciais. As origens do personagem e sua função na Frota são questionadas, assim como as mudanças propiciadas pelo “progresso” dos novos motores espaciais. Perde impacto por não fazer justiça à figura mais mal-aproveitada desta temporada. Travis merecia um tratamento melhor - muito melhor. LeVar Burton retorna à direção.

“Frente fria” continua os eventos abordados no "piloto". Mostrando a “Enterprise” recebendo vários convidados, alguns deles secretos, como o “agente do futuro” - viajando no tempo para capturar, justamente, o passageiro que salvará nossos heróis quando “algo” sair errado - sobretudo, do previsto nos registros históricos. Bem interessante. Apesar de levantar mais questões do que soluções. Direção de Robert Duncan McNeill, o Tom Paris de “Voyager”.

“Inimigo Silencioso” tenta ser o pronto "episódio recheado de ação", colocando a classe NX-01 contra um perigoso e desconhecido combatente “super” poderoso. Só que tudo é desperdiçado pelo plot central, onde Hoshi precisa descobrir a comida predileta (já arquitetando uma festa surpresa de aniversário) do oficial tático Malcolm Reed (o Inglês Dominic Keating). Se ao menos tivessem ficado no (necessário) upgrade do arsenal...

“Caro Doutor”, como o nome já entrega, concentra-se no simpático médico alienígena Dr. Phlox (excepcionalmente caracterizado pelo inspirado John Billingsley). Sendo provado (ética e tecnicamente) enquanto precisa achar uma urgente cura para a doença que assola o mundo dos Valakians. O esboço prévio da regra (posteriormente) conhecida como “Primeira Diretiva” (essencial em “Jornada nas Estrelas”) e a narração (em off) feita pelo citado denolubiano (com sua visão única, inteligente e otimista sobre nós, humanos), conspiram para construir um dos melhores momentos (sem dúvida) deste “enlatado americano”.

“Cães Adormecidos” retorna com os perigosos Klingons, quando uma nave deles é encontrada inerte na atmosfera de um gigante planeta gasoso. A "operação resgate" ganha outros contornos quando os “socorridos” fazem tudo para não cooperar. Tensão e muita claustrofobia compõem o restante do trágico cenário. Situações difíceis, amparadas por personalidades conflitantes, ajudam a manter este ritmo. Ótimo episódio.

“Sombras de P’Jem” prossegue com as disputas entre Vulcano e Andoria. Agora em outro território, de influência vulcana. Acontece que rebeldes locais, simpáticos à causa andoriana, resolvem seqüestrar alguns membros da “Enterprise”, por acaso, visitando cordialmente um novo mundo sem saber da existência destes perigosos terroristas. Só a cena em que T’Pol e Archer ficam constrangidamente amarrados “cara a cara” já vale uma olhada.

“Nave Auxiliar Um”, um capítulo bem "barato" (para manter o orçamento desta temporada em patamares controlados), acabou se saindo melhor do que previsto. Trip e Reed acreditam que a “Enterprise” fora destruída por asteróides. Assim, começam uma lutar contra o tempo, sozinhos, numa nave auxiliar avaliada e com pouco oxigênio. Boas discussões, aliados ao desespero dos “condenados” frente à imensidão espacial (clamando pelo milagre de serem encontrados) garantem este eficiente (excelente) episódio (menor no conto geral).

“Fusão”, o 17º episódio nesta contagem, permite T’Pol reencontrar seus semelhantes. Para seu azar, estes vulcanos contatados são diferentes, não reprimem suas emoções. Aos poucos, a sisuda oficial termina cedendo às novas experiências - que podem ser perigosas pra ela. Os “mitos” relacionados aos humanos e os efeitos do contato com eles (principalmente na personalidade da subcomandante) deixam as coisas um pouco melhores.

“Planeta Errante”, o pior de todos os capítulos deste set, mostra um absurdo reencontro de Archer com uma figura do seu “passado remoto”, sem contar a bizarra companhia de caçadores profissionais, acampados próximos ao local de desembarque (numa estranha localidade) dos recém chegados membros da “Enterprise”. Descartável em todos os sentidos.

“Aquisição” volta com a temática “engraçada”, desta vez, articulada pelo inusitado (bem-sucedido) plano Ferengi para adormecer os tripulantes e abordar a “Enterprise”, saqueada por eles. Cabe a Trip, o único membro “acordado”, tentar salvar seus companheiros, enquanto anda "pra lá e pra cá" só de pijama (azul). O interesse dos seres orelhudos pelas homologas pontiagudas de T’Pol compensam a promessa (não concretizada) de vermos ela (e todas as demais fêmeas da nave) como escravas (sexuais) dos mercadores alienígenas. No elenco, temos Ethan Phillips, lembrado por seu papel como Neelix em "Star Trek Voyager".

“Oásis”, outro golpe baixo, conta uma estranha história de sobrevivência, envolvendo certa nave perdida/abandonada - considerada fantasma. De tons absurdos, o roteiro inconstante reveste este episódio com incontáveis incongruências, pouco verossímeis. Estragando um "mistério" cuja natureza já era totalmente sem graça. Todavia, trás Rene Auberjonois (o Odo de "A Nova Missão") numa participação especial - como "pai da mocinha encantadora".

“Detidos” coloca Archer numa cadeia lotada de Sulibans - seus inimigos mortais desde o capítulo inicial. Acontece que a convivência com os detentos mudará (consideravelmente) sua visão sobre eles. Um inusitado spin-off da problemática global que permeia a telesérie.

“Vox Sola”, para quem se lembra de “Arquivo X”, passa como o “Monstro da Semana”, aquele episódio onde Mulder e Scully confrontavam alguma aberração desconexa da mitologia central. Aqui, a invasão de uma criatura desconhecida adquire esta mesma função, como nas aventuras dos dois detetives. Diverte. Até por mostrar um pouco do cotidiano da tripulação - eles têm até um cinema! Roxann Dawson assume novamente a direção.

“Herói Decadente”. Uma embaixadora vulcana acusada de criminosa é extraditada com segurança pela "Enterprise" - ameaçada por seus perseguidores. O confronto entre humanos e vulcanos ganha um novo capítulo, esmiuçado na dinâmica entre T'Pol e V’Lar. Bons diálogos expõem (novamente) as influências do serviço prolongado numa nave terráquea.

Neste “Travessia no Deserto”, Archer é confundido com um "grande guerreiro" - quando seus feitos são deturpados por boatos. Acaba envolvido na guerra-civil alheia, tendo que atravessar o enorme deserto (carregando seu adoentado engenheiro chefe) em busca de proteção/sobrevivência. Temos vários defeitos aparentes neste material (equivocado), vide a repetição das mesmas temáticas usadas nas outras franquias baseadas em "Star Trek".

“Dois dias e Duas Noites” fecha o arco das "comédias" despretensiosas. Este risível episódio leva a tripulação (de licença) para a paradisíaca Riza, lar de locações exóticas e muitas paqueras. Tem um tom light, com certeza. Todavia, nem sempre acerta naquilo que o público deseja. Resvalando, exemplificadamente, no significado extraterreno da palavra “Kiwi”. A direção ficou a cargo de Michael Dorn, o Tenente-Comandante Worf de “A Nova Geração”.

“Onda de Choque - Parte 1” encerra esta etapa armando o cenário para a próxima, seguindo necessárias ramificações no desenvolvimento da misteriosa "Guerra-Fria Temporal". Neste instante, ameaça real para a continuidade da missão “Enterprise”. O episódio amarra pontas soltas, inventa perguntas complexas e retorna ao esquema de ação/aventura (com bons efeitos) do início (em “Broken Bow”). Deixa uma saudável ansiedade pela 2º parte...

 

 

Extras

Concentrados (basicamente) no último disco, os extras de “Enterprise” são relativamente bacanas, doravante cumprirem uma função mais burocrática neste volume. O conjunto nos entrega cenas excluídas - em muitos episódios (só que elas não estão finalizadas, sem mixagem ou outros arranjos de pós-produção) e uma boa trilha de áudio dos criadores Rick Berman & Brannon Braga no episódio-piloto (lógico). Além dos espertos comentários em texto transcritos por Michael e Denise Okuda para três capítulos (“Broken Bow”, “O Incidente Andoriano” e “Vox Sola”), bem aos moldes dos DVD’s lançados com os longas da linha “Jornada nas Estrelas” - as curiosidades nerdísticas destes adendos textuais fazem a alegria daqueles gamados nas informações/curiosidades levantadas pelo "historiador" Okuda.

Todavia, boa parte das informações localizam-se nos diversos feattures que cobrem os bastidores, documentando o notável processo de realização/criação desta “trekserie”. Os “erros de gravação”, especialmente, são imperdíveis, principalmente pelas gargalhadas gostosas de Jolene, interprete (nem um pouco parecida) da gelada T’Pol. O fato das peças estarem legendadas (em português) merece alguns elogios rasgados (afinal, nem sempre isso acontece). Trailers e Easter Eggs (estes não legendados, viu só?) fecham o pacote.

Quanto à caixa, nada a reclamar, prática e bonita na medida. Os menus seguem o visual dos displays característicos da tipologia “Star Trek”. Assim como são fiéis às nomenclaturas padrões. Por isso, demora (um pouco) para se acostumar com eles, principalmente para os “não-iniciados” - apesar de elegantes. E eficientes. O "senão" fica para a parca qualidade nas imagems, “bichada” pelo irritante efeito grain (“areia”) na tela - permanente por causa da péssima transferência in vídeo. Um defeito custoso para um produto tão atraente.

 

Carlos Campos

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