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A ninja e o guerreiro do infantil brasileiro

DivulgaçãoRenato Aragão merece palmas, psit. “O Guerreiro Didi e a Ninja Lili” é (inacreditavelmente) o 47º longa-metragem (!) do comediante cearense. Didi, sua eterna cria, já arrastou algo em torno de 130 milhões de expectadores aos cinemas, durante dezenas de obras - feito invejável e particular na cinematografia brasileira. Um dos mais ativos produtores desde a “retomada”, Renato trabalha em família, escalando - nos últimos tempos - sua própria filha como parceira de tela, companhia esta, “vazia” desde os inesquecíveis clássicos filmados com Dedé, Mussum e Zacarias. Lívia Aragão, ou simplesmente Lili, acompanha o pai famoso, com a maturidade de quem nasceu artista, ganhando espaço e co-estrelando uma peça vigorosamente no alto de seus 9 anos de idade, num produto moldado - exclusivamente - para a turma imatura que a pequena (notável?) representa.

Para sermos completamente honestos, sequer podemos comparar as películas recentes com os antigos trabalhos de Didi Mocó Colesterol Novalgino Mufumbo. Não só Renato está desfalcado dos outros “Trapalhões”, como também, o humor universal por eles realizado - direcionado para crianças de todas as idades - ficou mesmo na saudade. As novas empreitadas assumem um diálogo rasgadamente infanto-juvenil, portanto, menos contumaz na hora de encantar "certas" platéias adultas. A “criancice” costumeira do humorista, antes símbolo de uma diversidade capaz de atingir a todos (em espírito), hoje contenta um nicho específico, os “baixinhos”. Target único deste atual conteúdo (politicamente correto). Assim sendo, Lili naturalmente aparece para trocar idéias com os garotos e garotas de sua geração. Numa necessidade clara de “atualizar” o estoque de referências para contentar a (exigente) juventude moderna.

Nesta esfera, o título se ampara sem vergonha alguma - logo na rolagem dos créditos iniciais - nos bem-sucedidos mangás. Está tudo lá, temas, lutas típicas, tela dividida (imitando os quadrados que separam cada imagem nos - propriamente ditos - quadrinhos), linhas de ação (aqueles riscos indicando movimento, ostentado ao fundo de cada cenário modificado). Ou seja, o diretor Marcos Figueiredo acabou criando um guia completo para alegrar jovens cinéfilos pulverizados diariamente pela overdose de desenhos animados japoneses. Afinal, para chegar à gurizada de hoje, é vital falar uma linguagem que as mesmas entendam. Neste mundo recheado de “Narutos” e “Pokemons”, Didi sobrevive (como pode) se adaptando a concorrência. E cedendo aos pedidos "orientais" do - globalizado - público-alvo. Quem sabe este não seja o segredo para sua contumaz longevidade (comercial) na Sétima Arte?

Lançado (expertamente) em plena comemoração do centenário da imigração japonesa, “O Guerreiro Didi” apenas vangloria a farta atração dos produtos nipônicos, reconstituídos pela imaginação tradicional de Renato e Figueiredo. Nesta reorganização estrutural, a costumeira “palhaçada” tão presente nos programas televisivos protagonizados pelo embaixador oficial da UNICEF, perde espaço em favor da dinâmica aventuresca. Mesmo que sem abusar da “violência” na hora dos confrontos. Coreografados pastelonicamente. Desta nova faceta - inexistente na filmografia construída após “O Noviço Rebelde” - surge (obrigatoriamente) um maior cuidado estético com os aspectos técnicos (privilegiados, já que a trama - situada no início do século XX - ganha contornos extras por ser de “época”), tornando a atração muito bonita de ser vista. Alguns degraus acima do nível visual padrão para o clã Aragão.

Apesar dos inúmeros contratempos, condizentes com a ineficácia em arranjar situações risíveis até para quem passou pela infância há tempos - e sofrendo bastando quando comparado com os grandes feitos dos “Trapalhões”, esta nova empreitada consegue, pelo menos, uma boa distância do status quo apresentado nos projetos prévios. Ganhando maior vivacidade - incorporando uma série de elementos diferentes e capazes de atender várias das reivindicações cotidianas dos fãs mirins de carteirinha. Sortudos, ironicamente, na hora de aprovar/apreciar esta atual fase sem levar em conta (num ardor saudosista) as históricas sagas oitentistas estreladas por Renato e Cia. - lembradas ostensivamente pelos críticos já “crescidos”. Alguns deles, rodados demais para entrar, novamente, no clima das palhaçadas inocentes. Provando que, neste caso especificamente, ser adulto atrapalha muito...

 

Carlos Campos

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