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As várias dimensões de um longa

DivulgaçãoExistem inúmeras formas de analisarmos um filme. Uma das possibilidades - na hora de testar sua qualidade - é atentar se a obra consegue criar “certo clima”. Quando o expectador acaba “tomado” pela atmosfera emanada pela Sétima Arte, bingo! A coisa flui mil maravilhas. “Viagem ao Centro da Terra” engloba os elementos certeiros para satisfazer este importante requisito. Baseado no romance homônimo, escrito por Julio Verne, a adaptação tem estipe. Sua história, envolvendo a descida ao fantástico mundo localizado no coração do planeta, esta dentre as ficções-científicas mais conhecidas de todos os tempos. Com justiça, pois o conto continua tão mágico quanto fora no seu lançamento, dois séculos atrás. Porém, o grande trunfo dos produtores, a exibição em 3D deste ícone cult, acaba condenando sua apreciação nas salas tradicionais - podadas dos recursos necessários para que tudo funcione adequadamente, neste caso.

Usando de técnicas avançadíssimas, o longa-metragem consegue o (inédito) feito de ser o primeiro do gênero a aplicar tridimensionalidade - de alta definição - numa película com atores em “carne e osso”. Aproveitando as super-câmeras desenvolvidas nos projetos ultra-modernos de James Cameron (autor de “Titanic"), o popular 3D ganhou (perdoem o trocadilho bobo) novas dimensões. Por exemplo, esqueçam aquelas bobagens arcaicas dos óculos de outrora - agora, a imersão nesta rica “ambientação” surge devido à qualidade/liberdade dos recentes equipamentos, capazes de gerar imagens com enorme precisão, da telona direto para nossa retina. Principalmente em se tratando de um produto onde temos CGI a torto direito. Estes, sempre atrativos. E aqui, mais belos do que necessariamente realistas - usando/abusando duma palheta de cores virtuosa, transformando cada fotograma (retocado virtualmente) em autênticas pinturas digitais. Algo que só ajuda no processo para “dar vida” ao universo criado pelo aclamado Verne (no longínquo 1864).

Mas como já citado, existe um “porém” nesta empreitada. Aderindo as "três dimensões", os realizadores pensaram cada take filmado de “Viagem ao Centro da Terra em 3D” no tal “3D” acrescentado ao título. Assim, obviamente até, cada tomada foi redesenhada para funcionar em sintonia com a ilusão destas peças estarem saltando para o colo do público, sentado nas poltronas. Por isso, várias vezes, tanto objetos quanto seres mágicos se postam entre os personagens e a platéia, podendo “voar” livremente entre ambos. Por isso que na cena do carrinho desgovernado, assistimos cada trilho passar em primeira pessoa, pois num cinema capacidade para tal, estaríamos (dessa forma) tendo a sensação exata de estarmos lá dentro dele, junto com os protagonistas. Por isso, enfim, que estas mesmas passagens, ficam tão chatas (quase enfadonhas) quando deixam de ser assistidas pelo expressionismo óptico. Diminuídas excessivamente no bom e velho 2D, elas parecem incompletas - infelizmente, de certa forma estão. Prejudicando o (meio) trabalho do estreante diretor Eric Brevig.

No final das contas, o peso do pioneirismo cinematográfico (como queiram chamar), termina depondo contra o produto resultante, uma vez que pouquíssimos são os cinemas - no Brasil e no mundo - preparados para exibir esta “Viagem” tridimensionalmente, como se deveria. Afinal, apesar do termos um ótimo astro encabeçando o elenco (Brendan Fraser da série “Múmia”), contar com belos visuais até mesmo nas citadas projeções tradicionais e partindo de um baita romance (idolatrado por cinéfilos-leitores), o "escopo central" desta realização hollywoodiana fica desfalcado de uma importantíssima perna de sustentação. Justamente, àquela que seria essencial-primordial para dar “climatização” aos fãs. Algo, perdido ao propiciá-la apenas de forma incompleta - frustrando independente da forma. No âmbito geral, não só fica difícil quantificar suas eventuais qualidades, como - evidentemente - evidenciam-se defeitos nas cópias de "Viagem ao Centro da Terra" quando não podemos assisti-lo com a (correta) característica 3D que o acompanha, ao menos, nos cartazes promocionais.

 

Carlos Campos

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