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Uma produção indigesta

DivulgaçãoDuas semanas antes de assitir “Batman - The Dark Knight” percebi, em uma loja de roupa de cama perto da minha casa, que os lençóis do novo filme já haviam chegado. Pra mim, foi quase uma decepção saber que uma criancinha sonhadora dormiria naqueles lençóis, pois minha expectativa era de que este novo capítulo cinematográfico do morcegão fosse algo muito mais adulto, aterrorizante, diferente do que já tínhamos visto em termos das adaptações de quadrinhos para as telas.

Contudo, bastou assistir a primeira cena para que eu pudese afirmar que estamos à frente de uma produção histórica, e não existe exagero nenhum ao empregar este termo. Não bastasse se tratar, dentro do gênero, da melhor história (disparada) que este escritor já viu na sala escura, outro fator marcante é que este acabou sendo o último trabalho de Heath Ledger, um ator que demonstrou aqui possuir um potencial extraordinário, fazendo-nos lamentar por demais sua morte precoce e turbulenta.

O coringa representado por Ledger é uma síntese de tudo o que “Cavaleiro das Trevas” apresenta de novo. Começando pelo figurino esfarrapado, com uma maquiagem borrada e cabelos despenteados, o arqui-rival de Batman é tudo o que o fã mais otimista poderia esperar. Dono de um sarcasmo cruel e de um discurso ácido com forte teor psicológico, ele surpreende com reviravoltas avassaladoras, parecendo sempre estar no controle da situação. Muitas cenas são dignas de - no mínimo - uma indicação para o Oscar.

Talvez o grande acerto dos criadores neste repaginado Batman, desde o início da série, com “Batman Begins”, foi trazer o universo fantasioso dos super-heróis para uma realidade mais palpável e verossímil. O roteiro apresenta, na dose certa, uma relação mais profunda  entre o protagonista, seus conflitos pessoais e responsabilidade perante a sociedade, dando um tom autoral que muitos outros da categoria tentaram empregar e não conseguiram, como no emblemático “Hulk” de Ang Lee. Além disso, o produto nos oferece um ângulo mais amargo e realista do sacrifício inerente da figura heróica, de uma forma geral.

Sinceramente não acredito que a película se torne um sucesso astronômico de bilheteria ou estoure na vendas de subprodutos mercantilistas (como os tais lençóis e fronhas para travesseiros que me assustaram anteriormente). É uma história indigesta, que incomoda mesmo horas depois de deixarmos a sessão. Pode até enganar alguns expectadores desavisados que esperam um típico blockbuster das férias de julho. Entretanto, para aqueles que prezam por uma boa opção de cinema, é um título para ver e rever.

 

João Pedro Teles

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