Nos limites da imaginação fértil
Certas atrizes - realmente - impressionam desde cedo. Arrancando ótimas atuações, independente de serem jovens. Muito jovens. Com Jodie Foster foi assim. Lá trás, aos 12 aninhos ela já despontava em “Táxi Driver” (1976), filme-estréia da futura ganhadora do Oscar por “Silêncio dos Inocentes” (1991). Avançando um pouco no tempo, Abigail Breslin balançou platéias (pasmas) com tamanho carisma - demonstrado no elogiadíssimo “Pequena Miss Sunshine” (2006) - que valeu uma indicação para a atriz-mirim na citada premiação da Academia hollywoodiana. Separadas pela idade, mas nutrindo semelhante talento precoce, elas se juntam agora em “Ilha da Imaginação”, filme infantil “para toda a família” cujo maior apelo recai (sobretudo) na - excepcional - dupla de co-protagonistas femininas. Mostrando, mesmo numa produção mais leve e filmisticamente descontraída, o quanto cada uma delas pode acrescentar de relevante às telas da Sétima Arte.
Tocada pela insaciável Walden Media (de "Crônicas de Nárnia"), especialista no gênero fantasioso, o título (que não podemos confundir com “Ilha da Fantasia”, seriado ícone dos anos 70), apesar de seguir uma linhagem menos “mágica”, trabalha o “imaginário” de forma bem condizente dentro da notória categoria. A encantadora Abigail (daquelas que sonhamos em apertar as bochechas gostosas, sabe?), vive com seu pai biólogo (Gerard Butler de “300”) num local paradisíaco e sequer catalogado nos mapas náuticos. Aqui, neste lídimo montante de terra cercado d'água (por todos os lados), a moçoila percorre o mundo “sem sair de casa”, deixando a recitada imaginação guiá-la através de uma série de livros. Como nos exemplares das epopéias de Alex Rover, um grande best-seller da personagem/escritora vivida por Foster. Acontece que, após uma tempestade brava, a menina acaba isolada no local, com Butler em alto mar - e possivelmente vítima de um naufrágio. “Milagrosamente”, ela consegue contatar Rover - a romancista, não o herói-endeusado como a garotinha acredita - lhe pedindo ajuda sem se dar conta desta singela “diferença”.
Jodie (a "criadora") conversa com Alex (uma espécie de consciência/dupla personalidade de sua agorafóbica personagem) assim como Breslin encontra com o ídolo em seus devaneios literários. Nestes momentos, imitando trejeitos de jogo cênico, as duas travam bons diálogos interiores e chegam a acompanhar tal contraparte imaginária nas perigosas jornadas. Aos poucos, o conto ficcional - do papel - começa a transbordar para dentro do longa-metragem, mimeticamente, emprestando diversos elementos peculiares às páginas de Alex Rover para o tipo de aventura em que a película (em si) se transforma. Por isso, existe uma sensação de “cinema fantástico” a cada trecho vencido pela obra cinematográfica, mesmo que não tão escancarado quanto em “Crônicas de Spiderwick” (outro exemplar da casa). A tal ponto, que os animais nativos da ilhota se comportam (conscientemente) como verdadeiros “amigos da família”, agindo em benefício de seus protegidos - adquirindo, desta forma, nomes prórpios (vide Galileu) e características quase humanas. Num líbero que os torna “gente”, além de elevá-los a elenco de apoio - suportando esta minguada trupe de atores humanos.
O produto, de ótimo ritmo - inclusive devido à suave edição - só dá uns solavancos quando “desprestigia” a enorme capacidade da “mocinha aprisionada na ilha”. E do público em geral, por conseqüência. Pois, acabamos sendo arrastados (pela trama) para momentos em que desconfiamos da inteligência desta garotinha. Algo que acaba depondo contra as enormes qualidades da (até então, expertinha) persona de Abigail. Tão visíveis. E esquecidos quando a mesma se vê fragilizada. Apesar de ostentar, independente disso, muito da força inerente da atuação de sua fantástica “cara-metade”. Só ajudando um enredo interessante, com graça, competência e segurança. Segurando as pontas até quando enfrenta a intimidadora presença de Foster - quase como se fosse igualmente veterana (e consagrada) tanto quanto à brilhante colega. Esta, vendo em cena (provavelmente) uma “novíssima versão” dela mesma.