"Razões de Amar"

J. G. DE ARAÚJO JORGE
Gosto de ti
Desesperadamente:
Dos teus cabelos de tarde
Onde mergulho o rosto,
Dos teus olhos de remanso
Onde me morro e descanso;
Dos teus seios de ambrósias,
Brancos manjares, trementes,
Com dois vermelhos morangos
Para as minhas alegrias;

Do teu ventre – uma enseada
Porto sem cais e sem mar
Branca areia a espera da onda
Que em vaivém vai se espraiar;
Dos teus quadris, instrumento
De tantas curvas, convexo,
Das tuas coxas que lembram
As brancas asas do sexo;

Do teu corpo, só de alvuras,
Das infinitas ternuras
De tuas mãos, que são ninhos
De aconchegos e carinhos,
Mãos angorás, que parecem
Que só de carícias tecem,
Esses desejos da gente...

Gosto de ti
Desesperadamente!

Gosto de ti, toda, inteira,
Nua, nua, bela, bela,
Dos teus cabelos de tarde
Aos teus pés de Cinderela,
(há dois pássaros inquietos
em teus pequeninos pés)
– gosto de ti, feiticeira,
tal como tu és...