Forte,
corajoso e feroz para os estranhos. Dócil, meigo e carinhoso para
os de casa. Esse é o perfil de um cão de guarda. Esse seria o
perfil do Mastino Napoletano, tido por seus criadores e
compradores como o melhor cão de guarda entre os dez que compõe a
categoria. Forte, musculoso, de aparência compacta, o Mastino não
é ainda muito conhecido no Brasil, embora tenha sido introduzido
no país há mais de 10 anos.
Nos últimos anos, no Brasil, a insegurança com relação ao patrimônio
próprio levou a população, principalmente das grandes cidades, a
pensar duas vezes antes de adquirir um cão. E os cães do terceiro
grupo, os cães de guarda, subiram vertiginosamente na preferência
popular. Nos últimos cinco anos, segundo a CBKC, com exceção do
Boxer e do Fila, os cães de guarda apresentaram aumento
substancial de procura. O Mastino está entre eles e,
provavelmente, não apenas por ser um cão de guarda. Outras
características suas influenciaram na ascensão. Principalmente,
talvez, o aspecto de certa forma assustador, que, menos ou mais,
inibe intromissões indesejáveis. "O Mastino, como cão de guarda,
impressiona bem, porque ele tem a aparência externa de um monstro
pré-histórico e um coração de fada", define a criadora Glória
Xisto, de São Bernardo do Campo.
"É o cachorro mais seguro que eu conheço, que não dá preocupação à
família. É um cão fiel ao dono. Até quando ele ataca. Se o dono
chama com voz firme, ele pára onde está", completa Enrico Furio
Dominici, em Cotia. Aliada à docilidade e extrema amorosidade do
Mastino, estaria sua coragem. O cão não temeria nada. Nem o fogo.
"Pretendo, inclusive, empregá-lo como vigilante em
estabelecimentos comerciais como bancos, consultórios e postos de
gasolina", afirma Glória Xisto.
Fernando Caram
Corrêa, de Cotia, distribui em cinco itens as vantagens do Mastino:
1)
É um cão incapaz de se voltar contra o dono em situação alguma.
Mesmo se dois deles estiverem brigando, pode ser apartada a briga
que ele não ataca. É um cão plenamente confiável, mesmo com
crianças.
2)
Ele não é um mero latidor. É silencioso, calmo, movimenta-se a
passo. Só corre quando precisa.
3)
Tem um impacto muito grande em função do seu peso. Um assaltante,
por exemplo, não conseguiria conter seu ataque.
4)
Não requer nenhum tipo de adestramento para guarda. A ferocidade
com estranhos e a docilidade com o pessoal da casa são inerentes à
personalidade dele.
5)
É uma raça pura, não resultante do cruzamento de outras.
Francisco da Cunha Silva, em Florianópolis, acha que, entre outras
razões, as pessoas tendem a escolher o Mastino porque "querem sair
do vulgar e o cão é de uma raça exótica". Para ele, esteticamente,
o Mastino é o "feio-bonito" e portador de um caráter
irrepreensível.
Para Valter Armentano, de Bauru, a tendência da raça é melhorar,
"mesmo com os exemplares existentes no país". Já Francisco da
Cunha crê que o Mastino Napoletano do Brasil precisa evoluir muito
em relação aos bons exemplares italiano, principalmente por
"problemas de aprumo e movimentação".
Nosso plantel
vai bem ?
O Mastino Napoletano vem evoluindo desde que chegou ao Brasil ?
Suas
características vêm se aproximando do padrão da raça ?
Para o juiz
paulista Umberto Palumbo, especialista do terceiro grupo, "houve
uma terceira evolução" no desenvolvimento da espécie. "Pequena,
mas houve. Hoje, há exemplares razoavelmente bons. Bem melhores do
que a dois ou três anos", analisa. Segundo ele, o Mastino
Napoletano no Brasil ainda não está muito próximo do padrão da
raça. Principal problema: posteriores. "Os traseiro são muito
ruins. Há falta de angulações de joelho; as pernas são retas, como
pernas de porco. Embora não em todos os exemplares, "a
movimentação é deficiente", afirma.
Em relação ao temperamento, o juiz diz não ver problemas. "Apesar
de ser um cão de guarda, nós encontramos em pista cães bastante
sociáveis, o que demonstra seu equilíbrio emocional", assinala.
Palumbo prefere não fazer uma projeção da raça no Brasil, mas arrisca: "O
número de criadores é pequeno para conseguir resultados num curto
espaço de tempo. Deveria haver mais importações de exemplares da
Itália, maior divulgação para aumentar o número de criadores. Com
mais gente criando, e as importações grandes, a raça acaba
melhorando".
As perspectivas
para esta raça:
Quem compra, atualmente, o Mastino Napoletano, e quais seus
objetivos ?
Quem compra, hoje, no Brasil, nem sempre tem intenção de revender ou
montar um canil. Exemplo disso é Nelson Caldeira, de Guarulhos. Há
um ano e seis meses, ele comprou um casal da raça e, caso a fêmea
dê cria, ele pensa em presentear amigos com os filhotes. "Eu
sempre gostei do Mastino, já tinha lido à respeito. Então, eu
estava em dúvida entre ele e o Fila. Por acreditar ser ele mais
confiável, acabei optando pelo Mastino Napoletano. Comprei-o como
cão de guarda e, como tenho duas meninas pequenas, pensei na
docilidade dele. As duas brincam com ele sem qualquer problema,
enquanto que os outros são imprevisíveis. É um cão rústico, de
porte, que impressiona pela aparência. Já me perguntaram se são
filhotes de urso", acentua.
"Eu queria um cão de guarda e achava bonita a raça. Já havia lido
à respeito da índole do Mastino e precisava de um cão que fosse
confiável. Eu o acho bonito e sei que ele impõe respeito. Tenho
três e estou muito satisfeito. Não é esse o objetivo, mas se a
fêmea der cria, vou ter de vender os filhotes", informa Ysnard
Ennes, de Belo Horizonte.
O casal Carlo e Nedy Piacquadio, de Curitiba, compraram, há 16 meses,
cinco exemplares de Mastino Napoletano, um deles fêmea. Sabíamos
da boa índole, da afabilidade e da agressividade deles. Moramos
numa chácara, nós os adquirimos para guarda e ficamos encantados.
São muito efusivos e atenciosos. Chegam até a sufocar de tanto
amor.
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Extraído da
revista: "Cães e Companhia" n.º 77
Flash Editora
Publicada em Outubro de 1985 |