![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||
Sou uma aberração | ||||||||||
Por Mariana Albanese | ||||||||||
Quando eu mudei da minha primeira casa, na Barra da Lagoa, o proprietário quis ser simpático, e desejou: “espero que você seja feliz, arrume um namorado e case”. Procurando uma casa para morar, encontrei uma senhora crente, que me disse: “tenho uma casinha para alugar pra você morar com seu namorado, ou sozinha...”. Ser solteira em Florianópolis é ser uma aberração. Claro que estou falando da ala mais conservadora da cidade, embora ser solteiro não esteja nos planos de quase ninguém por lá. E não é uma coisa “ter namorado” . É morar com ele. Fora que o povo lá é tão machista, que quando os caras vêem uma mulher jovem com criança, ficam saidinhos. Parece que desperta o instinto paternal, ou qualquer coisa representando a função da mulher como parideira. Eu fazia todo dia o mesmo trajeto: ônibus até o terminal da Lagoa, e de lá par ao trabalho. De vez em quando pegava carona na estrada. Dá para contar nos dedos as vezes que algum cara puxou assunto do nada comigo. Agora, todas as vezes em que levava meu vizinho de cinco anos para trabalhar comigo, era certo: alguém ia puxar assunto. Os que não conversam, sorriem. E o papo é irritante: “como ele é bonitinho, quanto anos têm?”. E os piores: “eu também tenho um gurizinho que é a coisa mais linda”. O melhor é que eu chegava na estrada com o menino, levantava a mão e logo parava alguém. Sozinha, ficava criando raiz, lá parada. Lógico que na temporada, a coisa muda, a putaria aumenta e as coisas voltam ao seu estado normal. Pena que essa oxigenação dure apenas dois meses. |
||||||||||
![]() |
||||||||||
Voltar | ||||||||||