O atual modelo de Universidade
que está sendo implantado no Brasil, evidenciado pelo processo de
sucateamento das Universidades públicas e pelo aumento do número
das privadas, representa os interesses das grandes potências hegemônicas
do mundo capitalista globalizado. Com a intensificação da globalização
as relações entre os interesses das superpotências com
as reformas ocorridas no Brasil e os efeitos que as especulações
e mudanças macroeconômicas provocam na economia e no dia a dia
do povo brasileiro ficam bem mais perceptíveis, porém essa
ligação ou dependência é histórica. Poderíamos
citar aqui inúmeros acontecimentos que deixam clara a relação
entre as questões que envolvem diretamente o povo brasileiro com interesses
e fatos vinculados aos países que possuem o poder hegemônico
capitalista. Porém, o objetivo desse trabalho é analisar esse
vínculo apenas na dimensão que envolve a Universidade Estadual
de Goiás. Será mostrada a relação entre o modelo
de funcionamento dessa Universidade com os ajustes propostos pelo projeto
neoliberal no campo do ensino superior brasileiro.
A Universidade Estadual de Goiás, criada através da Lei nº
13.456 de 16 de abril de 1999, foi resultado do agrupamento de IES isoladas
que se constituíram em unidades. É considerada a maior Universidade
brasileira em quantidade de câmpus. Atualmente possui 30 unidades,
com 103 cursos regulares de graduação e o número aproximado
de 35 mil discentes. “Grande parte das unidades funcionam em prédios
adaptados de escolas estaduais. Não foram construídas bibliotecas
adequadas, laboratórios” (Ferreira, 2002), enfim, as condições
estruturais são insuficientes para a consolidação de
uma Instituição comprometida com ensino-pesquisa-extensão
de qualidade.
Para facilitar a compreensão do vínculo da UEG com o neoliberalismo
partiremos de uma breve análise das crises estruturais capitalistas
que são as reais motivações das grandes reformas político/econômicas.
Periodicamente, o capitalismo vem sofrendo algumas crises estruturais que
atingem diretamente o lucro das empresas dos países desenvolvidos
e provocam grandes mudanças no modelo econômico de acúmulo
de capitais. O grande paradoxo é que essas crises se configuram principalmente
graças a superprodução. Uma dessas crises estruturais
ocorreu na década de 30, teve como marco histórico a queda
da bolsa de valores de Nova York e trouxe consigo mudanças nas políticas
econômicas implantadas pelos países capitalistas que passaram
a adotar o modelo Keynesiano. Outra grande crise estrutural ocorreu na década
de 70 forçando os países capitalistas a deixarem de lado o
modelo Keynesiano para adotar o modelo neoliberal.
Karl Marx e Friedrich Engels já alertavam sobre as constantes crises
capitalistas:
“Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa
de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das
próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia,
que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre
a sociedade, a epidemia da superprodução [...] E por quê?
Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados
meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio.
As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem
o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo
contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições,
que passam a entravá-las [...] De que maneira consegue a burguesia
vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de
grande parte das forças produtivas; de outro lado, pela conquista
de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos.”
O problema da crise de 29 estava centrado principalmente na não solidificação
do mercado, o que provocou uma demanda incapaz de absorver a produção.
A criação de uma demanda realmente sólida parecia ser
a solução. Os governos dos países centrais capitalistas
passaram a investir em obras públicas com o intuito de mascarar os
altos índices de desemprego e aumentar o poder de consumo da população.
Keynes, economista inglês que fazia sérias críticas à
teoria econômica clássica, atribui à criação
“de uma demanda maior fornecendo meios para as pessoas gastarem, e considerar
o auxílio desemprego não como um débito orçamentário,
mas sim como um meio para o aumento da demanda e conseqüente estímulo
à oferta” (Rezende, p.211), como solução para a crise
de superprodução. Essas idéias passaram a ser aos poucos
incorporadas pelos países capitalistas dando origem a um novo modelo
econômico chamado de Keynesiano.
Após a Segunda Guerra Mundial esse modelo se concretizou ainda mais
e os investimentos dos governos capitalistas, tanto na consolidação
do pleno emprego (obras públicas e criação de empresas
estatais) quanto em aspectos de caráter social (saúde, educação,
transporte, previdência social, comunicações, etc), estabeleceram
o chamado Estado de Bem Estar Social. Parte do gasto da população
que seria destinado a essas necessidades passou a ser utilizado no consumo.
Ao mesmo tempo o capitalismo vivenciava um período de grandes avanços
tecnológicos que resultou na automação dos processos
produtivos, aumentando a produtividade e proporcionando uma conseqüente
redução do números de operários, ou seja, um
número menor de mão de obra estava produzindo um volume cada
vez maior de mercadorias (Rezende, p. 302).
Nos anos 70 os países industrializados sofreram um problema chamado
de estagflação que consistia em altos índices de inflação
e baixo crescimento econômico. Assim como na década de 30, o
capitalismo estava sofrendo uma crise estrutural causada, paradoxalmente,
pela superprodução.
“Quarenta anos depois da primeira grande crise do capitalismo no século
XX, os países industrializados experimentam uma segunda crise, que
se prolonga pela década de 80, cujas conseqüências em termos
de desequilíbrios macroeconômicos, financeiros e de produtividade
se espalham pela economia internacional. [...] O caráter produtivo
da crise é atribuído às mudanças no paradigma
tecnológico, que passam a ser chamadas de Terceira Revolução
Industrial” (Soares, 2000, p.11).
O próprio estágio de desenvolvimento do capitalismo, que passava
por uma fase já diferenciada, com grandes monopólios e disputas
entre grandes corporações, internacionalização
dos mercados e intensificação da informatização
juntamente com outros avanços tecnológicos, foi o fator
principal que desencadeou a crise. Porém os economistas neoclássicos
“decretaram a morte do Keynesianismo como se tudo fosse culpa de políticas
econômicas erradas e não o resultado de uma transformação
estrutural do próprio capitalismo” (Fiori, p. 117). Os países
centrais passaram então a procurar quais as razões para a crise,
adotando a explicação da economia política neoliberal
que dizia ser
“...causada pelo poder excessivo dos sindicatos e dos movimentos operários
que haviam pressionado por aumentos salariais e exigido o aumento dos encargos
sociais do Estado. Teriam, dessa maneira, destruído os níveis
de lucro requerido pelas empresas e desencadeado os processos inflacionários
incontroláveis” (Chauí, 1999).
Ou seja, para os neoliberais o grande culpado da crise não é
o próprio sistema com suas contradições causadas pelo
acúmulo de capitais e sim a política do Estado de Bem Estar
Social juntamente com as idéias de Keynes. Iniciou-se então,
uma série de reformas neoliberais com intenção de superar
a crise. Essas reformas ocorreram no âmbito político, econômico
e cultural trazendo graves conseqüências sociais. Muitas vezes
foi utilizada a força militar para implementá-la, como foi
o caso do Chile, primeiro país da América Latina a sofrer esses
ajustes. O neoliberalismo centrou-se principalmente na “desregulamentação
dos mercados, na abertura comercial e financeira, na privatização
do setor público e na redução do Estado” (Soares, 2000,
p. 16). Assim como no liberalismo do século XIX, “por trás
de todas essas medidas está a idéia central de que é
o livre jogo das forças de mercado, sem nenhuma interferência,
o que levaria a uma melhor utilização dos fatores produtivos
em benefícios de toda a coletividade” (Soares, 2000, p. 15).
Neste contexto, a educação é redefinida e compreendida
como um setor de serviços não exclusivos do Estado, podendo
ser realizada por instituições não-estatais, entendidas
como organizações sociais prestadoras de serviços o
que difere do entendimento da universidade enquanto instituição
social (Chauí, 1999). “Trata-se, enfim, de transferir a educação
da esfera da política para a esfera do mercado, negando sua condição
de direito social e transformando-a em uma possibilidade de consumo individual”
(Gentili, 1996, p. 19).
As conseqüências desses ajustes no campo educacional está,
principalmente, na desestruturação do ensino público
e no conseqüente incentivo ao ensino privado. Para ilustrar essa afirmação
basta observarmos que o número de instituições privadas
de 1989 à 1998 passou de 764 para 842 enquanto que o número
de instituições públicas federais no período
de 1980 à 1998 passou de 56 para 57 (Sguissardi, 1999, p. 16).
A realidade presente na Universidade Estadual de Goiás nos permite
colocá-la como um bom exemplo do cumprimento das propostas neoliberais
para a educação superior brasileira. Podemos dizer que a UEG
não é uma instituição e sim uma organização
social, dada a sua dependência aos vínculos estabelecidos com
o mercado privado, além disso, as organizações sociais
“são constituídas sob a forma de fundações de
direito privado ou sociedade civil sem fins lucrativos”. (Cunha, 1999, p.
44) A UEG é mantida pela Fundação Universidade Estadual
de Goiás – FUEG e constantemente recebe ajudas financeiras da Fundação
Universidade do Cerrado - FUNCER. A diferença entre organização
e instituição social traz algumas preocupações:
“Uma organização difere de uma instituição por
definir-se por uma outra prática social [...] está referida
ao conjunto de meios (administrativos) particulares para a obtenção
de um objetivo particular. Não está referida a ações
articuladas às idéias de reconhecimento externo e interno,
de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas
como estratégias balizadas pelas idéias de eficácia
e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo
particular que a define. Por ser uma administração, é
regida pelas idéias de gestão, planejamento, previsão,
controle e êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua
própria existência, sua função, seu lugar no interior
da luta de classes...”
Por outro lado,
“...a instituição tem a sociedade como seu princípio
e sua referência normativa e valorativa, enquanto a organização
tem apenas a si mesma como referência... a instituição
se percebe inserida na divisão social e política e busca definir
uma universalidade que lhe permita responder às contradições
impostas pela divisão. Ao contrário, a organização
pretende gerir seu espaço e tempo particulares aceitando como dado
bruto sua inserção num dos pólos da divisão social,
e seu alvo não é responder às contradições
e sim vencer a competição com seus supostos iguais” (Chauí,
1999).
A idéia de organização social traz consigo o conceito
de qualidade total que vinha sendo empregado nas administrações
empresariais e acabou sendo incorporado à educação pelo
neoliberalismo.
“ Desta forma, a relação do empresário com a escola
não diferiria muito da relação do empresário
com qualquer outro negócio. O que os neoliberais querem é transformar
a escola em negócio e para tal torna-se imperativo implantar na escola
as técnicas empresariais de gerenciamento e organização.
Dentro deste quadro, a filosofia da qualidade total desempenha um papel central,
praticamente insuperável. [...] A utilização da qualidade
total no projeto neoliberal para a educação mostra que o neoliberalismo
não vai se contentar em organizar a educação em forma
de mercado ou mesmo orientar a educação institucionalizada
para as necessidades da indústria, mas que tentará reorganizar
o interior da educação desde as salas de aula até a
própria escola, visando reduzí-la a partir dos esquemas de
organização do processo de trabalho (Júnior, 2000, p.
77 – 80).
O Programa de Qualidade Total foi aprovado pelo Conselho Universitário
da UEG no dia 16 de fevereiro de 2001. Esse programa trata o estudante da
UEG não como acadêmico em formação através
da pesquisa, do ensino e da extensão e sim como cliente. Em relação
aos servidores, é proposta do programa o treinamento, desconsiderando
a idéia de formação humana.
“Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação
dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habilitá-los
técnica, social e ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar
a função social da educação de forma controlada
para responder às demandas do capital” (Frigotto, 1999, p. 26).
Observa-se também que a docência não é considerada
pela qualidade total no programa da UEG. Para os neoliberais e portanto,
para a UEG:
“A qualidade é medida pela produtividade, orientada por três
critérios: quanto uma universidade produz, em quanto tempo produz
e qual o custo do que produz. Observa-se que a pergunta pela qualidade não
indaga: o que se produz, como se produz, para que ou para quem se produz,
mas opera uma inversão tipicamente ideológica da qualidade
em quantidade. Observa-se também que a docência não entra
na medida da produtividade e, portanto, não faz parte da qualidade
universitária o que aliás justifica os contratos flexíveis”
(Chauí).
Até maio de 2002 o número total de docentes era de 1.213 sendo,
134 concursados, 95 efetivos e 984 comissionados. Estando portanto, a Universidade
com mais de 80% dos professores com “contratos flexíveis” (Comissionados
e Pró-Labore). Esta realidade que impossibilita a formação
de um quadro permanente, interfere de forma considerável na qualidade
dos cursos oferecidos pela UEG, se contrapondo ao seu slogan: “Universidade
pública, gratuita e de qualidade.”
Outros dados também nos permitem afirmar que para a UEG docência
realmente não faz parte dos critérios que tornam possível
a qualidade universitária. Até março de 2001 o número
total de professores era de 955 sendo, 16 doutores, 126 mestres e 813 especialistas
e graduados, o que representa: 1,7%; 13,1%; 85,2%, respectivamente.
Para fins de comparação com outras realidades do ensino superior
brasileiro, a tabela abaixo nos mostra o quanto a UEG está com a titulação
de seus professores bem abaixo da média de instituições
de ensino superior de qualquer natureza, seja pública ou privada.
Qualificação
Natureza da Instituição
|
Doutorado
Nº
%
|
Mestrado
Nº
%
|
Graduação/
Especialização
Nº
%
|
Total
Nº
%
|
Federal
|
13.170 28,9
|
16.371 35,9
|
16.070
35,2
|
45.611
100
|
Estadual
|
9.948
32,5 |
7.003 22,9
|
13.670
44,6 |
30.621
100
|
Privada
|
7.955
8,9
|
22.108 24,9
|
58.827
66,2
|
88.890
100
|
Fonte: Sinopse Estatística do Ensino Superior
- Graduação - 1998. Bras&iaccute;lia: MEC/Inep, 1999. citado
por Sguissardi, 1999, 19, adaptada.
O vocabulário
utilizado pelos neoliberais apropria-se de conceitos que foram bandeira de
luta dos sindicatos e movimento estudantil e os lançam de forma distorcida,
com outro sentido, como é o caso de: “qualidade universitária”;
“avaliação universitária”; “autonomia universitária”;
“flexibilização”. Já vimos como a qualidade universitária
é substituída pela qualidade total. A flexibilização
entra na adoção de contratos flexíveis de professores
e funcionários. A avaliação universitária, defendida
pelos sindicatos, também é no Brasil distorcida com a presença
do Provão que desempenha um papel fundamental no controle da aplicação
do projeto neoliberal a nível curricular. E o outro conceito freqüentemente
utilizado e deturpado pelo discurso neoliberal é o de autonomia universitária:
“a idéia de autonomia [...] buscava não só garantir
que a universidade pública fosse regida por suas próprias normas,
democraticamente instituídas por seus órgãos representativos,
mas visava, ainda, assegurar critérios acadêmicos para a vida
acadêmica e independência para definir a relação
com a sociedade e com o Estado. [...] Ao ser transformada em organização
administrada, a universidade pública perde a idéia e a prática
de autonomia [...] Para cumprir as metas, a universidade tem ‘autonomia’
para ‘captar recursos’ de outras fontes, fazendo parcerias com as empresas
privadas” (Chauí, 1999).
A UEG adota essa prática de captação de recursos do
setor privado com freqüência. Na unidade de Goiânia, o Centro
de Convivência construído recentemente foi financiado por verbas
adquiridas com a venda de ingressos para um projeto de extensão universitária.
A grande maioria dos projetos de pesquisa e extensão dependem diretamente
do apoio financeiro privado para se viabilizarem. Sobre isso Luiz Antônio
Cunha, ao analisar os contratos de gestão entre as organizações
sociais e os governos, já dizia: “Os recursos previstos nos orçamentos
governamentais poderiam ser completados com a receita da cobrança
pelos serviços prestados” (Cunha, 1999, p. 44).
Além disso, essa universidade que se diz gratuita possui, aproximadamente,
60% de seus estudantes pagando mensalidades sendo, a grande maioria do Programa
de Licenciatura Parcelada, além dos estudantes de pós-graduação
e de cursos seqüenciais. (Ferreira, 2002) Sem dúvida, o projeto
neoliberal pretende privatizar a educação. Mas no campo educacional
a privatização se dá de maneira um pouco mais complexa
do que em outros setores. Não se vende escolas como foram vendidas
empresas estatais.
“A privatização envolve uma dinâmica onde se combinam
três modalidades institucionais complementares: 1) fornecimento público
com financiamento privado (privatização do financiamento);
2) fornecimento privado com financiamento público (privatização
do fornecimento); 3) fornecimento privado com financiamento privado (privatização
total) (Gentili,1998, p. 75).
O primeiro ponto explicitado por Pablo Gentili (privatização
do financiamento) é o mais presente na UEG. O financiamento para a
Universidade, a partir do ano 2003, será fornecido pelo pagamento
dos cursos seqüenciais, pós-graduações e parcelada,
além dos outros meios de captação de recursos (projetos
de extensão, patrocínios, cobranças de taxas diversas),
somados ao financiamento do próprio governo que garante 3% da arrecadação
do estado à UEG.
O segundo ponto (privatização do fornecimento) é mais
evidente no Estado de Goiás com o Programa Bolsa Universitária
que financia o pagamento de mensalidades de aproximadamente 15 mil estudantes
em Universidades privadas. Esse programa demonstra que privatizar nem sempre
significa Estado Mínimo mas, pelo contrário, muitas vezes representa
a atuação eficaz do Estado à favor de grupos ou corporações
privadas que passam a controlar o campo educacional (Gentili, 1998, p. 87).
Outra problemática fundamental presente na UEG e que a identifica
com a lógica neoliberal é a adequação dos cursos
à demanda do mercado. Até março de 2002 dos 103 cursos
72 eram de formação de professores para atender as exigências
previstas pela nova LDB. O curso de administração em turismo
fica situado na cidade de Caldas Novas, maior polo turístico de Goiás.
O curso de química industrial e de farmácia está situado
na cidade de Anápolis, local onde congrega o maior pólo farmo-químico
da América Latina. O próprio Governador do Estado, em documento
referente a universidade, encaminhado para a Assembléia Legislativa,
afirmou que as propostas encaminhadas “terão reflexos positivos na
formação do universitário para a sua qualificação
para o trabalho”.
O trabalho tem, evidentemente, a sua importância como um dos parâmetros
para a formação do estudante universitário, mas a ele
deve ser acrescidos valores éticos, sociais e políticos, visando
a formação para uma “cidadania ativa e desenvolvimento das
múltiplas dimensões dos seres humanos.” (Frigotto, 1999,
p.96) Porém, a perspectiva neoliberal mantêm ênfase no
aspecto, onde
“a educação serve para o desempenho do mercado e sua
expansão potencializa o crescimento econômico. Neste sentido,
ela se define como a atividade de transmissão do estoque de conhecimentos
e saberes que qualificam para a ação individual competitiva
na esfera econômica, basicamente, no mercado de trabalho” (Gentilli,
1995, p. 104).
A omissão da participação política da maioria
dos docentes, discentes, servidores e de toda a comunidade resulta na consolidação
desse modelo de Universidade que não representa os interesses da sociedade
civil. A própria maneira como se organiza a UEG, espalhada em diversas
cidades distantes umas das outras, dificulta a organização
do movimento estudantil e dos sindicatos de professores e de servidores.
A situação precária que se encontra a UEG só
poderá ser mudada mediante o esforço organizado da comunidade
acadêmica. A partir de defesas sólidas por melhores condições
estruturais, melhores salários, concursos públicos para professores
e servidores, ensino-pesquisa-extensão com qualidade socialmente referendada,
e, principalmente, contra a expansão desenfreada da universidade,
estaremos resistindo ao avanço das políticas neoliberais dentro
da UEG. Somente assim, ficará claro que, para a comunidade acadêmica
da UEG, em primeiro lugar está o homem e não as vontades do
mercado. Certamente, com a ação política organizada,
veremos o fim da exclusão que a UEG nos aponta e teremos, não
só essa, mas várias universidades brasileiras gratuitas, com
qualidade e em quantidade suficiente para por fim à injustiça
do acesso ao ensino superior. E, principalmente, construiremos uma universidade
que discuta as grandes questões sociais com autonomia e independência
financeira em relação à interesses privados.
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