Restaurantes saciam apetite de clientes à força

Com salitre não será mais preciso comer para ficar satisfeito

Enganando a Fome

Noturno Codex

 

bandex

 

Em tempos de programa Fome: Zero-a-Zero, é irônico perceber que alguns restaurantes colocam salitre na comida, especialmente os que têm um preço fixo, popular ou não. O aditivo induziria artificialmente uma sensação de saciedade.

 

Cito o Fome: Zero-a-Zero apenas por ele ser essa febre de consideração pela nutrição, uma grande mobilização em torno do assunto. Por que ele em si não tem nada a ver diretamente com este universo onde vivo, onde as pessoas têm dinheiro para pagar ao menos um buffet na hora do almoço. E mesmo pagando barato, ou até justamente por isso, são enganadas.

 

E sei lá qual seria a desculpa para usar o salitre. Deve ser “tempero”. O motivo, óbvio: o lucro do patrão. Se o cliente for lá e comer tudo o que sente vontade, saciar mesmo a fome, vai acabar dando prejuízo. Por isso eles têm que aditivar a comida!

 

Minha avó já me dizia que no exército, salitre na comida é praxe. Para esvaziar logo o refeitório, sei lá. Não entendo bem essa lógica de “fingir que alimentou” o efetivo militar, com uma tática que ainda por cima dá sono. Como diz ela, “é o fim da picada”.

 

Muito além da boa malandragem, esse tipo de prática é sacanagem, uma pirataria alimentar. Sempre coisas importantes como essas são varridas pra debaixo do tapete – quer mais importante que estar bem alimentado? Comida é sagrada.

 

Não pense que nossa reportagem pesquisou alguma coisa para escrever essa matéria. Apenas fomos no restaurante ao lado e constatamos. Ele segue a média dos restaurantes aqui denunciados, já que também existem restaurantes de verdade.

 

No buffet tudo sempre parece apetitoso. Mas acaba por aí. Nota-se que a refeição é industrializada, feita num ritmo apressado. Por mais que tenha tempero, a comida continua sem sal. Não tem o carinho da comidinha caseira. Parece não ser feita para o paladar, mas apenas para encher e te dispensar logo da mesa, porque outros precisam usar seu lugar.

 

Na próxima vez que for almoçar, note, se quiser, o gosto do salitre na comida. Experimente o feijão. A diferença é sutil, porque estão adulterando o combustível de quem tem voz para reclamar.

 

Perceba também os “salitres” de tantas outras coisas que se consome, nos produtos e serviços em geral.

 

 

Propaganda enganosa: restaurantes ‘vegetarianos’ servem bisteca

“Só saladinha não tem graça”, diz dona do Buffet Terra Verde

 

 

Para um vegetariano como eu, que não come nada que berre ou esperneie antes de morrer, é revoltante entrar e pagar um restaurante dito vegetariano (uma puta placa “green” na entrada) e, lá pro final do buffet, ler um desgraçado EMPADÃO DE FRANGO, que te faz olhar ao redor, assustado, imaginando ter entrado no lugar errado. E encarar o prato desconfiado: Será que a carne é mesmo de soja?

 

Nos lugares em que isso aconteceu, questionei os responsáveis. Acho que foi mesmo um lobby dos carnívoros que gostam da (ótima) alimentação vegetariana, mas sentem-se sem opções ali. Os proprietários querem agradar a gregos e troianos, atraindo os carnivorae para a terra verde prometida. O lobby vegetariano deve ter funcionado em alguma churrascaria e eles ficaram com inveja. Mas para quem dificilmente entra em churrascarias, preferindo ir ao Ganges ver os crematórios, não adianta nada de ter saladas lá.

 

Noturno Codex, natureba, é colunista do Mail Sensorial.

 

 

 

Mas a+:

 do blog de Rebeca Presley

:: Quarta-feira, Abril 09, 2003 ::

Hoje eu estou com muita fome! E por isso com dor de cabeça também. Daí não consegui ler muito. O pior de tudo é que agora vou querer descontar na janta o que eu não comi no almoço. Resultado: vou ficar com sono e não vou conseguir ler!


A comida do Bandex é terrível para dar sono! Ninguém descarta a tese de que Eles colocam muito salitre na comida. Mas, para piorar, não é só o salitre. Outro dia li que quando nos alimentamos, o nosso corpo produz a leptina, que é uma substância que dá a sensação de saciedade. A leptina por sua vez, inibe a produção de hipocretina, uma outra substância que ajuda o organismo ficar em alerta, por isso a gente fica com soooono.... E olha só que outra coisa legal, quando nós dormimos o corpo também produz leptina. Quando não se dorme o suficiente o cérebro interpreta a falta de leptina à falta de alimento, o que induz à ingestão de carboidratos e, conseqüentemente, à obesidade.

 

Conclusão: devo dormir bem e comer bem!

 


Mas a+:

do blog de Francismar Lemos

 

[3/27/2003 02:10:03 AM] : De volta ao BANDEJÃO

 

 

O restaurante universitário é o lugar ideal para que você conheça todo o tipo de animal. Há os que comem e os que são comidos às vezes mortos, às vezes nem tanto - já que estou em uma faculdade pública e o que comanda é a democracia, nada impede algumas larvas de bem com a vida brincarem em uma salada de legumes. É neste ambiente de pura integração social, onde você tosta duas horas sob o sol do meio na fila para comprar seu tão valioso tíquete, que eu passei almoçando e jantando por três anos de vida acadêmica. Meu estômago, que até pode ser comparado com um incinerador, então decidiu não digerir mais um grama que fosse daquela comida com tempero que reza lenda ser de salitre.

 

salitre . [Do cat. salnitre, pelo esp. salitre.] S. m. 1. O nitrato de potássio; nitro. Salitre do Chile. 1. O nitrato de sódio extraído das grandes jazidas naturais dos Andes (Chile) e utilizado como adubo nitrogenado mais facilmente assimilável pelas plantas.

 

O jeito foi me virar, aprendi a cozinhar, passei a comprar super marmitas que eu dividia entre almoço e janta, comer sanduíches de disque lanches - uma experiência para você temer realmente uma disenteria de madrugada, rezando para que tudo acabe bem. Enfim, nos últimos dois anos (é eu ainda não me formei) eu não cheguei perto do BANDEJÃO, vulgo restaurante universitário (o nome é dado porque ao invés de se usar pratos, usa-se uma bandeja grande com divisões para colocar a comida).

 

Segunda feira passada, depois de não ter almoçado e com o estômago fazendo barra nas minhas costas, resolvi dar uma segunda chance àquele prédio grande, com uma entrada feia e o cheiro que você leva para vida inteira. Foi uma dessas decisões que você faz como qualquer outra. Paguei os dois reais - sim, é realmente barato, é subsidiado, e estão querendo aumentar para R$ 3,64 - entrei na fila, que na janta é bem menor, e comecei a ver minha bandeja lotar de comida. Primeiro o feijão, ai o arroz em cima do feijão, a mistura do dia, uma sub mistura para encher o bucho e então a salada. Sobremesa quando o pessoal da administração tá de bom humor. Escolhi meu lugar perto do suco, que também é de graça e você bebe o quanto quiser - não há o que reclamar - e dei as garfadas saboreando aquele gosto de comida feita em tambores de duzentos litros. Saí satisfeito, é realmente um bom lugar.

 

Meu estômago só precisava de um tempo e uns coolers novos.

 

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