Contos

Aqui serão publicados alguns contos... Histórias narrativas sobre RPG, Terror, Suspense... Enfim! Qualquer tipo de conto.
Caso você tenha alguma história, e queira publica-la me envie um e-mail.
(Não será admitido enviar histórias de outras pessoas sem os devidos créditos ao autor.)
contoselendasrpg@yahoo.com.br

Dragão das Neves

“Ele irá voltar sim, do reino onde os mais nobres e os mais valentes lutam em nome dos Deuses, usando de toda sua força e de toda sua maestria para proteger os mundos em nome da salvação e da justiça; no entanto, a sua volta à Kallian será uma volta ao Nosso Mundo, não uma volta à vida. Ele nunca mais terá compaixão ou impiedade, nunca mais será feliz ou triste, nunca mais irá amar ou odiar. Será mais frio que as montanhas de Krakenûr e mais distante que qualquer estrela da noite: esse será o seu Legado”.

O frio seca os meus lábios. O manto da minha ordem faz com que meus ossos não congelem. Será uma longa caminhada até o topo de Krakenûr, a montanha gelada de Galahall.

O meu grupo, vindo de Minastrael, pára na raiz da grande montanha com a cabeça baixa. É o sinal que não conseguimos.
A derrota dos homens do Dragão faz criar uma pequena avalanche na montanha, um sinal de que a falha de mortais como nós traz conseqüências drásticas ao mundo.Um grande estrondo abala nossos ouvidos. Somos diplomatas, guerreiros nobres, justiceiros, buscamos a paz. Volto com a certeza de que fizemos de tudo para impedir essa guerra: meus companheiros poderão dormir em paz.

Começamos a subir a estrada da colina, que termina na entrada da magnífica Fortaleza do Dragão. Esse caminho é tortuoso, mas apenas para aqueles cuja espada é usada para fins injustos. Por enquanto, o máximo que ele me faz é atrasar o passo do meu cavalo.

O vento canta de forma diferente hoje. Ele sabe o meu destino, e quer me contar. No entanto, não quero ouvi-lo, pois prevejo o pior para mim.
Já cai nas planícies de Azeroth uma vez, e não quero cair novamente. Mas o meu desejo, no final, é o desejo da Ordem. Se for a luta o destino dos guerreiros d'A Legião, então não posso evitar.

Chegamos à porta da grande fortaleza. Lentamente, ouço as correntes das roldanas que puxam a porta de aço que bloqueia o nosso caminho rumo ao Palácio. Os guardas cordialmente nos cumprimentam enquanto passamos.

Estou em casa, mas tenho a certeza que esse é o pior lugar para eu estar no momento. Trazemos más notícias, e ouvirei noticias piores ainda.

Não sei como Christian irá falar ao Supremo da nossa derrota, da nossa falha. “Ziggurath não está de acordo com os planos da Legião, meu Lorde. Eles atacarão o Reino Unido de Farathar ”. Seria essa certamente a forma mais verídica e simples de falar sobre o que sabemos.

Aproximo-me da porta do palácio, junto com o grupo. Um cavalariço chega a nós e pega os cavalos.

Tiro meu elmo, construído, assim como a minha armadura inteira, de aço élfico forjado no pico da montanha gelada de Krakenûr . É um belo elmo, em forma de uma cabeça de dragão. Coloco-o embaixo do meu braço.

O chão do lugar é claro como o gelo. Colunas de marfim sobem ostentosas para o teto. Não há tochas nem nenhum tipo de fonte de calor no lugar. O brilho mágico das paredes de safiras azuis ilumina o lugar. Um tapete branco nos conduz até uma porta, entre tantas.

Só entrei aqui quatro vezes antes.

Na primeira, entrei com meu pai, pedindo ao Supremo que me aceitasse como um soldado da Ordem do Dragão.

Na segunda, acompanhado de meu pai, vim para receber o meu título de guerreiro d'A Legião, titulo esse que defendo até hoje, com o meu orgulho que sou digno de ter graças ao meu sobrenome.

Na terceira, entrei para avisar ao Supremo que a missão do meu grupo teve sucesso, e que por mais uma vez em vinte anos a Costa do Leão conseguiu a paz e um acordo com os terríveis piratas de Tirênia... ninguém sairia ganhando em guerras daquele tipo. Meu pai estava lá, pois sabia do meu sucesso.

Na quarta vez entrei para receber o aviso de que meu pai havia falecido, e que a Ordem inteira chorava sua morte.

Christian abre a porta da sala, empurrando-a. Os quatro guerreiros entram.

A sala cheirava a orvalho. Guerreiros fortes com armaduras pesadas e lanças dentadas mantinham sua postura ao redor da sala redonda.

No alto de uma escadaria, onde quase não posso ver, há uma figura branca, sentada a um trono de pérolas brancas, fixado em uma sacada de prata. A imagem iluminada dele quase é ofuscada pelo enorme desenho de um dragão das brumas na parede às suas costas. Não consigo ver seu rosto, e sempre foi assim.

Christian dá três passos à frente. Os outros se ajoelham.

– Ó Supremo Lorde da Ordem do Dragão, nosso grupo trás notícias do reino de Minastrael e de seu governante, Rei Ziggurath.

– Levamos a proposta de paz da Legião, assegurando-o, em comum acordo com o Reino Unido de Farathar, que eles iriam usufruir as minas de ouro de Kônldun e a passagem do rio Mantis.

– Porém, o ódio em seu coração busca vingança pela morte de seu pai em Boniere, e a ambição pelo controle não só da passagem do rio, mas também pelo porto da Costa do Leão , fez dele um homem tolo e feroz. Ele busca a guerra.”

Um suspiro profundo vem de cima.

- Ziggurath ainda não sabe o que é ver a cara de dor de um povo durante a guerra. Ninguém ganhará com a busca de sua vingança. Apesar de ter aliados fortes, a Legião está contra suas ações. Nessa guerra, sucumbirá facilmente. O Dragão mandará guerreiros para ajudar aqueles que se julgam indefesos nessa hora. A Ordem esta grata pelo seu trabalho, Christian. Obrigado também a todo o grupo. Todos são merecedores das graças de Bahamut.”

Após um agradecimento do grupo, retiramo-nos para nossos aposentos que ficava no quartel, fora do palácio.

Ao sairmos de lá, vimos os rostos de guerreiros, alguns eram jovens, outros velhos, outros com muita experiência, vimos também recém iniciados.

Todos eles contavam com a nossa vitória em Minastrael. O fardo pesava muito.

Meu pai dizia que palavras podiam pesar mais do que espadas. Eu queria acreditar nisso, queria mesmo. Estávamos cansados da viagem. Uma frase do Supremo martelava minha cabeça: “ ...o dragão mandará guerreiros para ajudar...”. Não sei porquê, mas não tinha medo, nem ansiedade. Após chegar ao meu quarto, tirei minha armadura e espada, e fui dormir.

“Até o mais sábio e corajoso ser fica abalado ao ver toda sutileza e toda firmeza dos guerreiros d'A Legião. Na diplomacia, são iguais às águas do mar: belos, sedutores e, ao mesmo tempo, traiçoeiros e incansáveis. Nas batalhas, são iguais às montanhas: não importa a adversidade, eles nunca dão um passo ao lado”.

Estou em um corredor. Está escuro, poucas tochas o iluminam. As paredes e o chão são feitos de pedra. No final, há uma porta, branca, com pombas brancas ao seu redor. A porta emana uma luz. Ouço uma batida de um coração, mas não é o meu. Calmo, suave. Estou em um sonho, um sonho que me parece real. Estou nu, e não sinto nenhuma sensação de calor ou frio. Caminho até a porta.

Toco na maçaneta. Sinto-me bem ao abrir a porta.

Na sala do outro lado, vejo um poço, largo, feito de pedra. A água dentro dele é cristalina. Do outro lado do poço vejo uma porta negra. Caminho até o poço e, olhando para a água, tenho uma visão.

Vejo cenas da minha infância.

Vejo o reino de Adario aclamando o nascimento do filho do Conde de Karnakus e minha mãe chegando por uma estrada em uma charrete dourada, comigo em seus braços.

Meu pai me ergue, e me abençoa. Nobres de todo o reino vêm até mim para dar as suas graças e me louvar.

Agora como criança, vejo-me tendo aulas de espada e de etiqueta com meus tutores. Passeio entre os cavaleiros do rei, fantasiando que um dia serei igual a eles. Adoro ver suas armaduras reluzentes, suas espadas afiadas e seu estrondoso grito de guerra. Nem o mais velho dos dragões pode por em prova a bravura desses guerreiros. Minha infância foi feliz e proveitosa.

Cresci com meus dois irmãos, saboreando a justiça que o meu pai trazia ao meu povo, e a ternura com o qual minha mãe tratava seus filhos. Olho para a parede da sala e leio as inscrições:

“A ingenuidade da infância esconde os segredos do fardo que há por trás de seu nome”

Aproximo-me até a outra porta. Sinto um cheiro ruim nela. Ao abri-la, sinto-me muito mal.

Há um corpo dentro da sala, moribundo. Possui uma armadura com o símbolo do reino onde nasci, Adario.

Há corvos ao redor da sala, que possui um cheiro de enxofre, e do outro lado vejo uma porta azul, com um desenho de um dragão logo acima. Ao me aproximar do cadáver, olho nos seus olhos.

Vejo a época da minha adolescência. A trombeta de Adario soa alta e seu som é carregado pelos ventos. O chamado é feito, e os nobres do reino comparecem à batalha.

É a Guerra contra as tribos bárbaras do Oestel. Eles querem nossos pastos verdes, nossos gados saudáveis, querem as belas mulheres, as riquezas do nosso solo e as fartas fazendas que possuímos.

A sua necessidade faz a guerra. Precisamos defender o que é nosso. Meu pai e meu irmão vão para a luta. Somente meu pai volta. A dor é terrível, e nosso povo chora a morte de um herdeiro.

Vencemos as tribos bárbaras, com um custo alto. Elas voltarão, mais ferozes ainda.

Dois anos depois, eles voltaram. Dessa vez, a trombeta soou, e eu ouvi o seu chamado também. Montei o meu cavalo, que me dava velocidade nas minhas cargas e força aos meus punhos. Minha mãe chorava na minha partida, e meu pai, ao meu lado, me confortava. Esse era o peso do meu nome. Na minha espada continha a esperança de camponeses, crianças e mulheres de todo o reino.

Naquela época, já brandia a minha espada com talento. Chegando à batalha, vi ao longe os estandartes daquele povo guerreiro que já havia me feito sofrer. Parados a nossa frente, perguntei-me o que estava fazendo lá, se essa guerra tinha um fim justo ou não, e se o sentido da existência dos homens era destruir um ao outro. Minhas indagações acabaram ao ver a massa bruta de sanguinários vindo em minha direção, sedento pela minha vida.

Meu pai sacou sua espada, gritou alto e, do alto da montanha onde a tropa do nosso reino estava, disparou em velocidade com seu cavalo em direção a eles. Eu estava com medo. Fui a luta mesmo assim.

Em instantes, creio que segundos depois, estava eu lá, tendo pouco tempo entre uma espadada e outra para distinguir quem era aliado e quem era meu inimigo. Foi a ultima vez na minha vida que senti medo. Uma lança atravessou meu cavalo, e eu cai no chão.

Levantei-me, atordoado e assustado, e vi aquele homem na minha frente. Ele fincou sua lança em meu peito. Não ouvi mais nada. Olhei nos seus olhos, e pude ver a ira neles.

Quando meu pai chegou em casa, com mais um corpo enrolado em uma bandeira, minha mãe se ajoelhou. Ela não agüentaria a perda de mais um filho. Os deuses não estavam sendo justos com ela. Meu pai a abraçou, e a família chorava em frente à mansão do conde.

O povo via a cena com pesar. Um homem, com um manto preto, saiu da multidão em direção ao meu pai, senhor daquelas terras. Prontificou-se a ajudar, dizendo ao meu pai que a morte poderia dar uma outra chance a mim, se eu fosse digno de merece-la.

Pegou o meu corpo dos braços dele, e fez minha mãe acompanha-lo até as montanhas geladas de Krakenûr, sede da fortaleza do Dragão.

Eram dois dias de viagem. Lá chegando, avisou à minha mãe do destino que eu teria se voltasse à vida. Retirou meu coração e enterrou no gelo da montanha. Meu corpo seria deixado lá, ao lado do coração. Ficaram surpresos nove dias depois, quando cheguei em casa, vivo.

Agora, posso ver nas paredes as inscrições:

“Os deuses lhe deram a chance de redimir os pecados dos homens. Faça-os trilhar o caminho certo”.

Caminho até a próxima porta. Ouço um canto vindo dela. Ao abrir, me espanto com o que vejo. Há um filhote de dragão, voando na sala. Ele me olha, e dá um grito suave e que soa muito bem nos meus ouvidos, e pára no ar.

Há uma linda mulher na sala, cantando. Ela usa uma manta branca, que parece flutuar em seu corpo.

A sala esta repleta de símbolos da Ordem, e sinto muito frio. Há um espelho na sala. Aproximo-me e vejo minha partida do reino de Adario.

A partir daquele momento, luto pela justiça. Por comida a todos. Por pasto verde a todos. Luto por uma vida alegre e frutífera a todos. Acima de tudo, luto pela paz e pela união do povo do nosso mundo. Luto contra o mal e tudo que possa destruir o meu sonho.

Sei que sozinho não conseguirei isso, mas quando morrer, saberei que tentei dar uma vida digna a todos, que batalhei pelo sonho de muitos, e que minha espada sempre foi usada em nome do bem. Pela honra de meu pai, de minha mãe, de meus irmãos.

Agora vejo a minha partida para a Ordem. Meu pedido de aceitação ao Supremo. Minha consagração como membro e a festa.

Vejo a morte de meu pai, que morreu doente como sábio e defensor da honra de minha família. Meu irmão toma o titulo dele, titulo esse que era meu, mas não tive coragem de pegá-lo. Era responsabilidade demais, era poder demais...só um homem como o meu pai tinha pulso para isso.

Desejo sorte para o meu irmão. Cuide da minha mãe, caro irmão. Faça como papai: dê alegria e justiça às pessoas de nossas terras. Lute com bravura e defenda seus homens. Eu ficarei aqui de cima, nessas montanhas geladas, lhe dando todo o apoio e incentivo que posso dar.

Ouvirá o meu grito nas batalhas, e sua espada será guiada pelo meu punho, mesmo estando aqui, tão longe.

Ouço passos atrás de mim. Viro-me, e vejo meu pai se aproximando. Ele me diz:

“ O mundo clama por tua vitória. Caminhe como o vento, lute bravamente meu filho, pois és o defensor do mundo dos homens, e foste escolhido por deuses para uma cruzada em nome da justiça. Pegue a minha espada e defenda a honra dos oprimidos com ela, faça dela um instrumento da luta do bem contra o mal.”

Meu pai me entrega a espada. Ao sacá-la, vejo sua lamina reluzir um vermelho cor de brasa. Ela é fervente, mas não sinto o seu calor. Levanto-a para o alto e grito:

- Essa será a minha sina, a minha força e o meu consolo. Do lado do bem eu estarei, ou não me chamo SPATRIUS de KARNAKUS.

By Keeper of the Warriors (site: Kallian)


Quem sou eu?

“Eu sou o cavaleiro sentado em um trono apodrecido
Cuja armadura enferrujou e a espada se quebrou
Dono de um castelo abandonado e assombrado
Eu sou o lobo que uiva na colina na noite escura
Com os dentes brancos e os olhos vermelhos
Chamando por uma lua que não virá
Que esconde sua face enquanto sangra solitária
Eu sou o anjo que dedilha na harpa uma canção de morte
Tingindo de negro o anilado do céu, trazendo nuvens sombrias
Que tomam formas de pesadelos esquecidos em mentes insanas
Enquanto raios cortam o horizonte, mostrando uma luz
Que atemoriza mais do que a escuridão
Eu sou o dragão mitológico que vomita sua peçonha sobre tudo
Criado do fogo inicial que arde em suas entranhas flamejantes
Que agora nada mais é do que ossos e carne decomposta
Eu sou o homem que ajoelhado, chora em desespero
Que implora o perdão que não lhe será dado
Que clama por um deus que já morreu ou então,
Dele já se esqueceu
Eu vejo a terra convulsa se abrir em chagas, a água arder em chamas
Eu vejo sangue e fogo, as estrelas despencarem do céu sobre nós
E a lua verter sangue negro manchando a terra
Eu cantarei a canção da destruição, a canção da guerra infinda
A canção dos inocentes perdidos com as faces manchadas de lágrimas
Meu pranto será essa canção, mas a escreverei com teu sangue
Que em minhas mãos, insistiu em derrama-lo em vão.”

Retirado do Flog “Taverna do RPGísta”