Temporal, lama, cerveja e muita, muita diversão!

Corneteiros se arriscam em tempestade de outono para desatolar sprinter do Kiko no bairro Veredas Liberdade, mas acabam com lama da cabeça aos pés.

    No início da noite de ontem alguns corneteiros passaram por uma provação. Depois da cerveja, do pôquer, da peteca e do churrasquinho saboroso no sítio do Vítor, nossos heróis foram surpreendidos por um temporal ao estilo paulistano. A chuva derrubou postes e árvores, fazendo com que a turma ficasse presa no local.

    Eram cerca de seis horas da tarde, e chovia como se fosse um dilúvio. Preocupado com um compromisso de trabalho, o corneteiro Kiko decidiu, heroicamente, se embrenhar com sua van estrada à dentro, desbravando caminhos até então desconhecidos. Cerca de dez minutos depois ele voltou ao sítio, à pé. “Tem um poste caído na estrada”, disse. Alguém, ao fundo, resmungou irônico, enquanto enchia seu copo: “mas isso eu já sabia, bobão”. Ele não ouviu. E ninguém parece ter ouvido, porque, dez minutos depois, todos entravam em seus carros, dispostos a desbravar outros caminhos mais desconhecidos ainda. E não deu outra: mais dez minutos e a van do Kiko estava enfim atolada, e agora sim, de forma enfaticamente definitiva.

    Entre resmungos e reclamações, o grupo formado por corneteiros e alguns novos entusiastas da causa se prostraram na traseira da perua (com o perdão do trocadilho mal elaborado), dispostos a atolar seus pés no barro para tirar a van do atoleiro. Infelizmente não obtiveram sucesso em sua peleja. A cada meia hora o carro andava dois metros, em uma estrada de terra (entenda-se barro) que mais parecia a Serra da Piedade, tamanho era o trabalho que dava galgar seus caminhos.

    Depois de muito trabalho para convencer o proprietário da van a abandonar seu veículo e ir embora do local de carona em um dos carros de passeio que estavam de prontidão, os corneteiros finalmente conseguiram voltar para as suas quentinhas e confortáveis casas, são e salvos, não sem antes dedicarem as pérolas abaixo a este futuro jornalista:

No frigir dos ovos do empurra-empurra da van, diz Wesley (irmão da Grã e cunhado do Thiago): “eu não desisto! Se todo mundo botasse força ali...” (o "ali" era a roda).
Kiko discute com seu pai ao telefone, inventando mentiras: “havia 17 homens para empurrar o carro, e mesmo assim não demos conta...”.
Thiago fala aos ventos, mas pra todo mundo ouvir: “o Kiko é um otário; mas eu tô com dó dele”.
Pacu responde, mais reservadamente: “o Heriberto é que é um otário, pois está botando medo no Kiko”.
Ao que a Simone dá a sua opinião: “Eu falei com o Vítor mais de mil vezes pra gente ir embora cedo, pois ia chover... (parênteses — a Simone sempre fala com o Vítor um monte de coisas mil vezes: não olha pras meninas, Vítor; não chama as meninas pra jogar peteca, Vítor; já te falei que este tal de Ton é má influência, Vítor; etc)”.
Kiko, já desesperado, em resposta a uma tentativa de entrevista da parte deste repórter: “vá pra puta que pariu!”.
Heriberto, em um comentário completamente deslocado e desnecessário: “arruma um trator...”.
Gra, soltando uma frase feita: “o que não tem remédio...” (deduz-se o resto).
Igor: “eu estou muito feliz com este momento...” (claro, o cara bebeu vodka, cerveja e rum a noite anterior inteira...).
Otacílio: “este é um momento importante, rola a interação entre as pessoas...” (definitivamente eu não devia ter entrevistado o Otacílio).
Igor: “mas faltou o gás de geladeira...” (explicações, vide fonte).
Gra, em fala mais deslocada que a do Heriberto: “o Thiago está fudido”. (até agora este repórter está querendo entender o que ela quis dizer com isso).
Pra piorar tudo, este repórter ainda saiu no déficit de R$ 7,00 perdidos no pôquer. Indo embora, contudo, ao ver a latinha que me restou após todo o infortúnio da noite, elaborei a máxima do dia, a ser compartilhada agora com meus companheiros: Se o carro afunda na lama, ao menos eu tenho uma Brahma!

Ewerton Martins, o corneteiro repórter
em 23 de abril de 2007 - edição especial