• retorna para excertos
• Sumário
• O Autor
• Prólogo
• Prefácio
• Proêmio
• Glossário
• Bibliografia
• español •
Título: "Cosmosofia: Princípios Esotéricos... uma Síntese"
PROÊMIO
Que a Sabedoria vos mostre a Realidade da Verdade.
SABEDORIA
Sabedoria é a expressão pura e cristalina do conhecimento direto e inequívoco da realidade da verdade; é compreensão profunda e absoluta da vida. Emerge das profundezas interiores do Ser à medida que sua autoconsciência se expande e faz contato com a fonte da Vida, com a origem de sua própria existência e com os segredos do Universo. É pura harmonia e transcende todas as contradições, pois se mostra e revela como síntese. Não precisa de comunicação especial, pois na sua complexidade é muito simples. Faz-se entender, mesmo que parcialmente, por palavras, gestos, ou no maior dos silêncios possíveis. Seus enunciados não têm relação proporcional à erudição e aos conhecimentos oficialmente aceitos, pois sua essência transcende a todos eles, os quais muitas vezes só servem para forçar e danificar as células cerebrais e/ou alimentar o orgulho (o mesmo acontecendo com o esoterismo puramente intelectual, o qual é evolutivamente inútil).
Sabedoria é a própria essência da vida do dia-a-dia, a sutil manifestação cotidiana que por ter essas características muitas vezes é desprezada por muitos. É negada por aqueles que não a enxergam nem a sentem, que não a compreendem porque seus próprios véus a encobrem. Mas isso também não a afeta. Aos poucos ela vai se manifestando, degrau por degrau, para quem a quiser e puder recebê-la conforme todas as leis do Universo. Assim, a autoconsciência se aprofunda na fonte de luz da sabedoria, mas esta jamais mostra seu cerne, o fogo que a mantém. Quanto mais avançamos na sua busca, mais ela nos mostra, e também mais ela se aprofunda. A infinita sabedoria em tudo se manifesta; pode curar, transformar, transmutar e transfigurar (vide glossário: transformação, transmutação, transfiguração) os que recorrem a ela com humildade. A sabedoria é fruto da busca interior do que um dia deixamos, a busca da essência do Ser, a busca do Amor, da Realidade e da Verdade.
No Tao Te Ching lemos:
LXXXI
As palavras verdadeiras não são bonitas,
as palavras bonitas não são verdadeiras.
A habilidade não é persuasiva,
a persuasão é destituída de mérito.
O Sábio não é erudito,
o erudito não é sábio.
O Sábio não acumula posses.
Quanto mais ele faz para os outros,
mais ele possui.
Quanto mais dá aos outros,
mais ele recebe.
O Tao do Céu "favorece sem prejudicar".
O Tao do Sábio é "agir sem lutar".
Se o velho ancião sabe, nem todo velho é ancião. A sabedoria nem sempre está onde a procuramos, mas certamente em tudo ela está.
REALIDADE
A sabedoria nos permitirá compreender que a realidade não depende do pensamento racional, da mente concreta ou da opinião dos homens, e nem está subordinada à vontade da "personalidade" (Ego inferior - vide glossário). Mesmo de modo imponderável, se revela por leis precisas que são específicas ou universais. À medida que o nível de autoconsciência do homem evolui, também se modifica sua percepção da realidade. Assim, alguns consideram que a realidade se relaciona apenas com o concernente aos mundos internos e sutis e denominam a consciência do mundo concreto de pura ilusão. Outros se aferram aos sentidos externos, ao tangível, ao palpável, pois para eles a realidade é a vida concreta e pura fantasia tudo o que se basear em leis diferentes e mais sutis. Mas a realidade "é em si mesma", não é sutil nem concreta, mesmo que os véus sempre existam. Há os que percebem outra forma de realidade, a unidade da qual tudo deriva e que se revela em infinitas vibrações onde se manifestam todos os seres e os mundos, tanto os concretos como os sutis. Eles distinguem a unidade da multiplicidade, o permanente do efêmero, a essência da forma, e sabem que essa realidade está presente na mudança, no imutável, no aparente, no Vazio, no ser e no não-ser. Eles estão perto da chama da Verdade. Além dos que percebem a realidade única, há os que nela vivem. Sobre eles nada podemos dizer, pois não há como expressar com palavras o verdadeiro significado da Vida, do Amor e da Verdade.
VERDADE
De um ponto de vista absoluto, a verdade seria o que tudo abrange, a própria Totalidade imortal na sua eternidade, por palavras indefinível e inexplicável. Sobre ela pouco podemos falar ou escrever, pois o raciocínio nada pode esclarecer a seu respeito. Ela é você, sou eu, somos nós, é ninguém; é o ser e o não-ser, pois ela é tudo e o Todo. Desde os tempos sem tempo ela foi, é e será. A Humanidade sempre reconheceu que suas verdades devem florescer e se nutrir da única verdade divina. Alguém há muito tempo já disse que essa verdade absoluta é dia e noite, paz e guerra, abundância e fome e toma formas variadas, assim como o fogo que, misturado com distintas essências, recebe o nome de cada uma delas, conforme o perfume que faz exalar.
De um ponto de vista relativo, a verdade é o que condiz com as concepções que temos, o que se crê verdadeiro. Nesse sentido, o que é verdadeiro para um indivíduo em dado momento pode deixar de ser no momento seguinte, ou pode não ser para outrem. Acessar a verdade não é uma conquista, é uma dádiva que se recebe, é uma realização interior. À medida que o homem muda ou amplia suas concepções, ele ajusta o foco da própria mente; tem, portanto, diante de si outro mundo e forma novas concepções. Atingido certo desenvolvimento mental, a ele é indicado desfazer-se de toda e qualquer concepção, esvaziar-se. Será levado a contemplar a vida em si mesma, a dissolver todas as crenças.
O texto a seguir, atribuído a um Iniciado tibetano (S. Gampo), é bastante sugestivo:
"No espaço vemos surgirem e esvaecerem-se as nuvens, sem poder fixar uma morada de onde surjam e para a qual retornem. No espaço vemos brilhar o Sol, a lua, os planetas, as estrelas... Mas que é o espaço, em si?... A essência do espaço está além de toda expressão, de toda imaginação. O mesmo ocorre com o Espírito Original, vazio de essência própria, inacessível. Assim, quando o indivíduo está receptivo às novas expressões que a vida a cada instante oferece, ele se entrega ao que, embora não saiba muito bem o que é, conhece profundamente".
A Verdade não é dogmática, não se impõe, está além de qualquer conjetura cerebral e postulado concreto e, verdadeiramente, não tem adjetivos. Não é religião, mas a todas abarca, e, como reza o lema do Mahârâjah de Benares (o qual foi adotado pela Sociedade Teosófica): Satyat Nâsti Paro Dharma ("não há religião mais elevada do que a Verdade").
Vejamos algumas palavras de Jiddu Krishnamurti sobre o tema (proferidas em 03/08/1929):
"Sustento que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vocês não podem aproximar-se dela por nenhum caminho, por nenhuma religião, por nenhuma seita. Este é meu ponto de vista e eu o sigo absoluta e incondicionalmente... Se compreenderem isso em primeiro lugar, verão que é impossível organizar uma crença. A crença é uma questão puramente individual, e não podemos nem devemos organizá-la. Se assim o fizermos, ela morrerá, ficará cristalizada; tornar-se-á um credo, uma seita, uma religião para ser imposta aos outros. É isso o que todos no mundo inteiro estão tentando fazer. A Verdade é confinada e transformada em um brinquedo para os fracos, para os que estão momentaneamente insatisfeitos. A Verdade não pode ser trazida para baixo; é o indivíduo que deve fazer o esforço de ascender até ela. Não podemos trazer o topo da montanha para o vale... Apesar disso, vocês provavelmente formarão outras Ordens, continuarão a pertencer a outras organizações à procura da Verdade. Caso se crie uma organização com este propósito, ela irá tornar-se uma muleta, uma fraqueza, uma servidão e incapacitará o indivíduo, impedindo-o de crescer, de estabelecer sua unicidade, que jaz na descoberta por si mesmo daquela absoluta, incondicionada Verdade. Não se trata de nenhum feito magnífico, porque não quero seguidores, e é esse o meu propósito. A partir do momento em que seguirmos alguém, cessaremos de seguir a Verdade."
Na realidade a verdade não pode ser "seguida", ela deve ser vivida, é uma realização, um estado interior que só pode ser atingido pelo próprio indivíduo. Se for necessário, em princípio ele pode empregar alguma muleta que o ajude a levantar-se e iniciar a caminhada, sempre que saiba que é apenas uma muleta, que a empregue de forma adequada e quando não mais a precise a abandone. A manifestação existe, mesmo que seja de forma "ilusória" (transitória), e seguramente não é ao "acaso". O conhecimento dos fatos (Leis Universais) que estão ao nosso alcance (que nos regem) é fundamental, e para isso devemos estar receptivos a todos eles. Devido a que a verdade dissipa todas as ilusões e todas as artimanhas que a personalidade gosta e emprega para tentar se "salvar", ela sempre irrita e tende a ser rejeitada, sem importar por quem seja proferida ou como ela se nos apresente.
Conhecer as Leis Universais implica em vivê-las de forma total, e, pelo que tudo indica, dificilmente alguém se ilumina de forma instantânea, mágica, e sem ter o mérito para isso. A in-evolução é um processo no qual nos confrontamos passo a passo com verdades parciais, com diferentes patamares, com diferentes níveis de consciência, cada um com suas próprias leis. Esses passos podem ser acelerados, mas não saltados, mesmo que às vezes possa parecer que isso seja possível em sua aparência externa, exotérica. Temos um grande aprendizado pela frente, e se não fosse assim, para que a existência?
• retorna para excertos
• Sumário
• O Autor
• Prólogo
• Prefácio
• Proêmio
• Glossário
• Bibliografia
• español •