ENCONTROS ON LINE
Num fim de semana, a pessoa solitária em casa tem como único elo com o mundo um computador ligado na Internet. Vê na máquina a oportunidade de amenizar a solidão e mudar o rumo de sua sorte, encontrando alguém on line, aparentemente na mesma situação e com objetivo semelhante.
Tentar conhecer alguém pela Internet é completamente diferente de como conhecer alguém na vida como ela é. Quando o sem-sorte nos relacionamentos descobre um jeito novo, diferente e mais fácil de se comunicar com seus semelhantes, dá pulos de alegria. É quase um antídoto para sua timidez e estorvo.
O Internauta entra em alguma sala de chat ou programa de conversação em tempo real e pesquisa de alguma forma alguém com as características básicas desejadas e formula a clássica pergunta : "- Quer teclar?" (ou seja, "quer conversar?" - na gíria dos chats...). Jamais se dirigiria para alguém sentado ã beira-mar, num banco, perguntando se gostaria de conversar naquele momento, principalmente nos grandes centros urbanos, por diversos motivos pessoais.
Nos programas de conversação em tempo real pode-se buscar alguém pelo sexo, idade, localidade e até certas preferências pessoais. E dessa busca poderá sair uma excelente amizade e quem sabe até um grande amor. Na pior das hipóteses poderia amenizar um pouco a solidão naquele instante. Essa é a vantagem dos chats, a facilidade de aproximação, algo muito natural no mundo www.
Infelizmente as desvantagem são maiores. O internauta não tem certeza se a pessoa com quem está "teclando" realmente possui as características básicas desejadas por ele. Não se vê o rosto, não se ouve a voz, nem se sente o perfume. Não há química. Em vez de voz e rosto, tela e letras, ainda assim letras frias, de linguagem de máquina. Em circunstâncias normais é muito difícil de se obter alguma emoção.
Mas a ânsia em dar fim à solidão possibilitando novos relacionamentos é tanta que acaba por passar por cima desses "detalhes químicos" que básicos, podem ser fundamentais. Ou fatais.
A solidão, abstinência sexual involuntária e dificuldade de relacionamentos é a infeliz trindade que martiriza os freqüentadores de chat, que vêem na Internet uma solução para esses problemas. Começa-se uma conversa e depois de alguns minutos de troca de palavras abrem seus "livros da vida" com poucas cerimônias, sem a noção verdadeira com quem está fazendo isso, então sua tranqüilidade e até sua vida pode estar pela tecla DELETE.
E para "deletar" a curiosidade e saber quem está do outro lado da tela é sugerida uma troca de fotos, que podem mostrar internautas-locutores mais jovens um ou dois anos, com aparências melhores. "Tudo bem, ninguém está se vendo agora, quem sabe nos encontraremos daqui a um mês, então terei um tempinho pra melhorar minha aparência" ......
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O resultado disso, num encontro que passa do mundo virtual para o real, pode ser frustrante e desconfortante, e ambos podem ficar embaraçados ao constatarem que a sua "alma gêmea virtual" não correspondeu à grande expectativa gerada, isso por volta de 80% dos casos. Declaro essa porcentagem não por experiência própria, mas por incursões na Internet, troca de idéias com navegantes da grande rede mundial e leitura de artigos e notícias relacionadas em diversos meios de comunicação. |
Continuando com as porcentagens, acredito que os 20% restantes ficariam divididos entre duas categorias: a dos finais felizes - sim, algumas relações que começaram pela Internet deram em casamento, e foram felizes para sempre - e dos finais trágicos, perigosos, que se transformam em notícias escritas a sangue.
Os freqüentadores de chat não são apenas os sem-sorte. Nessas salas podem estar muitos ladrões, estelionatários e assassinos também, tanto que nos diversos meios de comunicação já foram divulgadas histórias sobre encontros na Internet que viraram destaque na parte de crimes. Quem está por trás daquele nick* que você vê em sua tela? Menos pior se for um fetichista praticante de cyber sex*, que se excitam com a simples troca de palavras apimentadas, cuja intenção a princípio é atingir o orgasmo. Mas, cuidado! Estamos sujeitos à violência que pode começar por futuros encontros marcados pela Internet. Uma das poucas semelhanças do mundo virtual com o mundo real é que em ambos existem pessoas boas e más, só o tempo de conhecimento, pisar nos ovos e uma pitada de sensibilidade podem ajudar.
Não quero desestimular as pessoas a buscarem amizades ou algo mais íntimo através da Internet, nem dizer que ela é perigosa. Não, longe disso! As atitudes precipitadas e inconseqüentes dos navegadores é que são. É também um veículo, como o carro - embora de comunicação, mas que como o carro você deve saber usar, guiando consciente, responsável e cuidadoso. Minha mensagem principal, quando decidi por colocar minha opinião no ar, é essa.
Portanto, navegue. Converse com as pessoas, aumente seu círculo de amizades e busque seu grande amor, mas nunca se esqueça que existem dois mundos: o real e o virtual. O virtual é mágico e colorido, e o real é a vida como ela é, as pessoas, e muitas delas podem estar bem longe dessa mística.