DETECÇÃO DE METAIS SEM CRITÉRIO

Se realizarmos uma pesquisa em nosso país, para indicar o principal problema existente que nos aflige, as chances de alcançar a maior porcentagem seria a fome. Mas a fome, como o desemprego e a violência, são algumas das conseqüências da má distribuição de renda vigente no Brasil. A violência chega a nos assustar mais do que a fome. Esta pode ser aplacada com o pão, alimento de alto consumo e baixo preço. A violência, do assalto por exemplo, é a morte imediata, que pode ocasionar na eliminação do cidadão, devido à fome ocasionada pelo desemprego do violentador, junto com a família. Um problema é conseqüência do outro. O assalto é uma  das vertentes da violência.

É claro que muitos debatem e tentam soluções para acabar com a violência, ou pelo menos diminui-la. Infelizmente não estamos chegando a um denominador comum. Esse ano peguei um ônibus que faz o trajeto Rio-Petrópolis na Rodoviária Novo Rio, numa segunda-feira, sete da manhã. Nas imediações do Parque Gráfico dos jornais O Globo/Extra, na Rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, foi anunciado o assalto. Um dos dois meliantes anunciava o delito com a tranquilidade do fiscal que verifica os canhotos das passagens – e diga-se de passagem,

(perdoe o  trocadilho) nunca mais vi o tal fiscal, talvez despedido por contenções de despesa. “Fiquem calmos, pois nada acontecerá a vocês”, ao invés de gritos desesperados, típicos da grande maioria da classe. Apesar das palavras reconfortantes do bandido, vi minha tranquilidade violentada ao me desfazer de meu relógio, comprado com alguns suados reais, e mais onze reais em espécie. Mas o que mais me aborreceu não foi isso: foi a falha do detector de metais que sempre é acionado por um funcionário da empresa à entrada dos passageiros no ônibus, ou mesmo a falha do próprio funcionário.

Outra vez, quando precisei embarcar na mesma linha, eu transportava na minha mochila itens de informática, como um disco rígido e alguns disquetes. Temeroso de que a ação do detector de metais danificasse meus objetos, simplesmente comuniquei ao operador de detector de metais – será esse o nome da função registrada em sua carteira de trabalho? – que transportava alguns componentes de computador na mochila. Para minha surpresa o funcionário sequer pediu que a abrisse para verificação:

-         Tudo bem. Pode entrar.

Talvez me conhecesse de outras jornadas, o que não justificava. Mas teria sido esta a estratégia empregada pelos marginais para poderem viajar com as armas?

Mesmo após esse episódio, não observei novas e mais eficientes medidas adotadas pela empresa para evitar os assaltos, que não foram poucos até agora. Contudo, temendo algum processo movido futuramente por um passageiro mais esclarecido, provavelmente vítima de um assalto, creio que a empresa, que tem um nome a zelar, implementará procedimentos mais rígidos. Espero que estes não beirem o exagero.

Na fila de entrada do ônibus, o detector de metais acusa. O passageiro se surpreende.

-         Por gentileza – pede o operador de detector de metais – exponha os objetos de metal que o senhor transporta.

O passageiro tira seu cordão de ouro, relógio, aliança, um pin do Serrano Futebol Clube, seu cinto de fivela – com o cuidado de segurar as calças com a outra mão, para que não caiam – chaves e celular. O faz sem reclamar, pois está contribuindo para sua segurança, e também de seus concidadãos.

-         Desculpe, mas o detector de metais continua acusando de que o senhor ainda está de posse de algum objeto de metal – adverte o funcionário.

-         Mas não é possível! – protesta o passageiro.

-         Por acaso o senhor possui obturações em sua arcada dentária?

-         Sim, possuo. – responde o passageiro, muito constrangido.

-         Então peço, por gentileza, que o senhor me acompanhe até o consultório dentário móvel da empresa para que nosso dentista de plantão possa constatar o fato, e em seguida possamos liberá-lo para viajar.

Se as novas medidas de segurança chegarem a esse extremo ridículo, pobre do meu irmão. Sim, pobre do meu irmão: ele tem um implante de platina em sua perna direita.

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