METRÔ EM PETRÓPOLIS
Vocês leram ‘METRÔ EM PETRÓPOLIS”. Era a plataforma eleitoral, cavalo-de-tróia de um candidato a vereador
nas eleições de 2008, num comício que presenciei no distrito da Posse,
Petrópolis, num descampado à beira da Estrada União e Indústria. Ora – pensei, com as sobrancelhas e os braços cruzados – o que esses candidatos não fazem para conseguirem ser eleitos! Onde já se viu, metrô em Petrópolis?? E o pior é que a população se entusiasma, e ainda acredita! Segundo o candidato, o slogan já estava criado pelo seu staff: COMPANHIA PETROPOLITANA DE TRANSPORTES TRAZENDO O FUTURO: DA CHARRETE AO METRÔ. E como se construiria o Metrô Petropolitano?, indagariam os menos sonhadores.
Se você ainda não conhece direito a Cidade, tente acompanhar: o projeto seria construir os trilhos um pouco acima do nível de água dentro do canal que abriga o rio Quitandinha que corta a Rua do Imperador. Imagine a cena futurística-surreal: quando o canal tivesse o nível de água aumentado devido a uma chuva mais forte, os vagões seriam impermeabilizados e hermeticamente fechados, como “vagões submarinos”, abastecidos de oxigênio e com direito até a periscópio para o condutor. Seria o primeiro metrô submarino do mundo. “Não tem como dar errado” - continuava o candidato em seu discurso. O metrô petropolitano seria até atração turística e aumentaria a receita da cidade, sem contar no desengarrafamento do trânsito e geração de novos empregos. A estação inicial seria a
ANTIGA RODOVIÁRIA saindo da mesma, passando pela segunda, que ficaria nas imediações do Obelisco, e se chamaria CENTRO HISTÓRICO, tomando o rumo para a terceira estação CORONEL VEIGA, CASTELÂNEA, PONTE FONES, até chegar à estação QUITANDINHA, cujos passageiros desembarcariam a poucos metros do famoso hotel. A futura linha 2 teria sua construção iniciada um ano após a inauguração do metrô petropolitano, um afluente que levaria à Praça da Liberdade, passando pela Casa de Santos Dumont e UCP, Catedral, Casa do Barão de Mauá, Palácio de Cristal, Piabanha, e teria uma parada à entrada da Rua Mosela – um pouco antes, aliás, para não atrapalhar o trânsito – e seguiria para o Bingen, que, em se tratando de um grande bairro, teria, no mínimo, umas três ou quatro estações, findando
no TERMINAL RODOVIÁRIO LEONEL BRIZOLA. “Só falta mandar construir uma linha 3 estilo montanha-russa pra conectar, via metrô, Petrópolis com Caxias, descendo a serra”, pensei, furioso.
Indignado com tamanha ofensa aos eleitores, diante da enorme mentira, não maior que meu amor à cidade, o melhor que eu tinha a fazer é descruzar os braços (as sobrancelhas não o fiz, por querer manter minha cara de revolta) e voltar pra casa para analisar melhor o candidato em quem deveria votar.
Bem, me perdoe se esses lugares e ruas que citei te pareçam estranhos, caso você não conheça Petrópolis, mas se ainda estiver aí na Internet, entre no site http://www.netpetropolis.com.br/home.php que dará, pelo menos virtualmente, para ter idéia desses lugares.
A gente acaba perdendo por completo a credibilidade nos políticos por causa de episódios como esse, e confesso que após essas últimas eleições fiquei decepcionado com alguns candidatos e suas promessas tiro-no-escuro, bocas-de-urna, compra de votos. Nasce a comparação das eleições como escolher entre AIDS e câncer: quem é o menos pior? Quanto custa um voto para vereador? Daqui a pouco eles vão fazer até uma tabela de preços: votos para vereador, um saco de feijão, uma garrafa de cachaça; votos para deputado (aí vai valorizando): um par de sapatos de couro usados mas em bom estado, um ingresso para o cinema; para prefeito: uma cesta básica, um talãozinho contendo 15 vales-transporte. E em boca-de-urna fechada não entra voto, não é verdade?
Não, caros leitores e eleitores, não acho a política desprezível: grande parte dos políticos é que o são. Acho até uma heresia chamarem de “santinhos” aqueles panfletinhos com a foto, o nome, partido e número do candidato, que pode transformar seu mandato num inferno para nós. Concordo em parte com o que disse um certo apresentador de televisão numa mesa redonda, uma tirada filosófica-humorística: os políticos fazem na vida pública o mesmo que fazem na privada. Concordo em parte, pois não são todos.
Desde que a democracia voltou a esse país pós-anos-púmbleos, depois da minha maioridade não desperdiço um voto. Faço questão, pois é através do voto que conseguirei ajudar de alguma forma a mudar alguma coisa nesse país, que diabos! Quantos não lutaram até a última gota de sangue, e até desapareceram, para que tivéssemos esse nosso direito de volta? Você poderia ainda não ter nem nascido nessa época, mas em consideração a esses heróis dos tempos da
ditadura, pelo amor de Deus, vote. Mas vote com consciência. Não vá atrás daquele pensamento: qualquer um que entrar vai roubar do mesmo jeito! Não generalize. Há boa gente na política, como que na polícia também. Sejamos justos, amigos. Mudemos nossos conceitos para que nosso Brasil possa mudar também!
Apesar da meu eterno e insistente, mas não burro, positivismo, um amigo meu protagonizou um episódio há pouco tempo, quando visitou um candidato a deputado federal na Câmara do Rio de Janeiro, algo que me faria nunca mais acreditar nessa classe. Mas, como falei, sou um eterno positivista. Quis saber a proposta do candidato caso fosse eleito e resolveu vê-lo em seu gabinete, numa manhã de quarta-feira. Foi recebido muito cordialmente pelo seu solitário acessor:
- Bom dia. Gostaria de falar com o candidaato. É possível?
- Pois não – respondeu-lhe, com um aperto de mão o acessor. Tenha a bondade de aguardar.
Esperando, distraidamente, após dez minutos foi chamado a entrar na sala do candidato, quando percebeu que seu relógio Rolex havia sumido de seu pulso, como num passe de mágica.
- Ilustre – falou com voz baixa – queira mme perdoar. Mas antes de entrar aqui em seu gabinete eu tenho certeza de que meu relógio estava no meu pulso. Não tive contato com outra pessoa além de seu acessor. No entanto, acredito que ele possa ter...
O candidato interrompeu-lhe pedindo licença por alguns minutos e foi à recepção do gabinete, onde ficava o acessor. Voltou pouco tempo depois, com o relógio em sua mão.
- Desculpe, senhor candidato, mas eu não qqueria de maneira alguma ter causado constrangimento pelo fato de o senhor ter pedido a ele para devolver meu relógio.
- Não se preocupe – respondeu, tranqüilameente o candidato. – Ele nem
percebeu.
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