Data: Seg Mar 14, 2005 11:51 am
Assunto: "Inversão de valores"
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O trecho abaixo, de matéria do Futebol Interior contendo declarações do ex-treinador do Ramalhão, Luiz Carlos Ferreira, diz muito a respeito da condição atual do Santo André:
"Acho que hoje em dia é muito difícil dirigir o Santo André, porque existe uma inversão de valores, certamente por causa da conquista do título da Copa do Brasil, ano passado", explicou Ferreira. Ele continuou explicando: "Às vezes, me sentia muito cansado. Esta foi a quinta vez que voltei para o clube, onde sempre fui unanimidade. Mas desta vez foi diferente, com muitas cobranças. Hoje, por exemplo, nós perdemos para o Corinthians, o que é um resultado normal", explicou o técnico. Ele não quis se prolongar nas explicações, mas deixou claro que pensava diferente da diretoria."
Foi muito interessante a menção sobre "inversão de valores". No passado, LCF dirigiu por várias vezes o Ramalhão e "sempre foi unanimidade", mas desta vez a situação era totalmente diversa. É claro que tinha que ser: nas outra ocasiões, o Ramalhão ainda estava buscando chegar onde está agora. O time agora é detentor de um título nacional e de uma vaga na Copa Libertadores, o que nas vezes anteriores que o Ferreira esteve por aqui, era apenas sonho.
E aqui está, a meu ver, o cerne da situação. No pensamento do técnico, o Ramalhão continua a ser um time pequeno, que alcançou a posição atual de destaque por mero acaso ou por uma sorte incrível, e que passada a maré voltará a ser o mesmo time pequeno que sempre foi.
Já o pensamento da torcida é completamente diverso. Achamos que o Ramalhão subiu um degrau na hierarquia do futebol brasileiro e que precisa buscar consolidar-se na posição atual. E para isso precisa de uma boa campanha na Libertadores, para calar os críticos e a mídia que acham que a vaga poderia estar "em melhores mãos"; e, mais importante, conseguir no segundo semestre o acesso à Série A, obtendo assim um lugar na elite. Para alcançar esses objetivos, o time precisaria ser tão bom ou melhor que o de 2004.
Não se trata, portanto de "inversão de valores", mas de expectativas diferentes. Ao contrário do ex-técnico, queremos que o Santo André cresça e apareça. Mas Ferreira vê o Ramalhão como time pequeno e assim o montou e dirigiu. Declarar que "perder para o Corinthians é normal" é o resumo desse pensamento. Contra El Timón, o Ferreira escalou o time num 4-5-1 com 3 volantes, mostrando que ia jogar para perder de pouco. Resultado: foi dominado todo o tempo, e se conseguiu dois gois no final, evitando um vexame maior, foi graças unicamente ao esforço dos atletas. Ora, para uma equipe na condição atual do Santo André, perder em casa nunca pode ser considerado um resultado normal, seja qual for o adversário!
A presença de LCF no comando do time era incompatível com as expectativas da torcida, que sempre soube disso e desde o início condenou a contratação do técnico. É bem verdade que a implicância tinha muito a ver com a forma que LCF deixou o Ramalhão no ano passado para dirigir o Sport. Mas não resta dúvida, ao menos para mim, que a torcida sempre teve noção de que ele não era o treinador adequado para o momento da equipe.
Já a parte final da matéria, ao mencionar que o Ferreira "pensava diferente da diretoria", na minha opinião afasta-se um pouco da realidade. Todos os fatos mostram que, muito ao contrário, o entendimento do técnico de que o Ramalhão é um cordeiro vestindo momentaneamente pele de lobo é partilhado por boa parte da diretoria, ou pelo menos por quem realmente manda. Do contrário LCF não teria resistido, por exemplo, à derrota para o São Caitano (contra o União de Araras poderia ser considerado apenas um acidente de percurso).
Talvez já possamos dar razão ao Hélio dos Anjos, que, ao deixar o Ramalhão sem dirigi-lo em uma única partida, deu a entender que a diretoria pensava pequeno e que tal pensamento não estava de acordo com as condições da equipe.
Quanto ao possível boicote dos jogadores ao LCF e brigas no vestiário relatadas nesta lista, acho melhor não entrar em detalhes. Não é a primeira nem será a última vez que fatos assim ocorrem em equipes de futebol, e de técnicos que agem dessa forma, nosso futebol está cheio. Nem sempre é fácil a convivência de um grupo de homens com seus respectivos egos...
Bem ou mal, LCF já é passado e agora temos de pensar no futuro. Como será o Ramalhão com Sérgio Soares no comando? Honestamente, não quero jogar farofa no ventilador de ninguém, mas continuo com dúvidas quanto à capacidade de reação do time. Por conta dos últimos maus resultados em casa, saímos da zona de classificação para a Copa do Brasil, pois o Marília nos superou no saldo de gois, e logo atrás vêm São Caitano e Paulista para entrar também nesse páreo. (E ainda devemos agradecer à Inter de Limeira, pois do contrário os amarelos também já teriam nos ultrapassado.) Agora tornou-se fundamental vencer a Santista, dos ex-ramalhinos Andradina e Nelsinho. Já na Libertadores, temos que conseguir ao menos um empate contra o Palmeiras na quarta.
Pena que não verei essa partida. Na quarta-feira, ao mesmo tempo que o Ramalhão entrar em campo, estarei voando para Goiás. Não para buscar o Chamusca (hehehe), mas a trabalho.
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