Depois de três anos sem viagens de férias, finalmente tive condiçõe$ de partir para um antigo projeto: conhecer a Paraíba. Entre os Estados nordestinos é um dos destinos turísticos menos procurados, o que não se justifica, pois embora o turismo por lá ainda esteja um tanto incipiente, a Paraíba tem muito a mostrar.
Nossa viagem no esquema pacote pronto da CVC resumiu-se à capital, João Pessoa, também conhecida como Jampa, e arredores (Campina Grande, com seu São João famoso, fica para outra oportunidade). De cara o guia local nos informou, orgulhoso, que Jampa é a terceira cidade mais antiga do país, depois de “Salvador e São Vicente” (nessa ordem...), pois foi fundada em 1565. Argumentamos que Olinda, Santo André e São Paulo foram fundadas antes, ao que o guia respondeu, parecendo um tanto ofendido: “Mas essas cidades nasceram como Vilas, e João Pessoa já foi fundada como Cidade”. Como se isso fizesse alguma diferença. Tudo bem, deixemos os paraibanos com suas doces ilusões.
Ao longo de sua existência, Jampa teve várias denominações: nascida Nossa Senhora das Neves, passou a chamar-se Filipéia quando Filipe II da Espanha passou a acumular também a coroa portuguesa. Os holandeses rebatizaram-na Frederistadt, e depois de expulsos os invasores a cidade passou a chamar-se simplesmente Paraíba. A denominação atual é homenagem ao político paraibano assassinado em 1930, fato que desencadeou o golpe de estado de Getúlio Vargas. Já há quem pense em revogar a homenagem, sob a alegação que o nome da cidade não colabora para atrair turistas. Será?
Chegar até lá não é muito fácil. A malha aeroviária brasileira reserva pouquíssimos vôos para o acanhado aeroporto Castro Pinto (ôpa!), a maioria deles de madrugada. Em geral é mais fácil pousar em Recife e percorrer o resto do caminho de ônibus. A distância entre as duas cidades é de apenas 120 km, o que faz delas as capitais brasileiras mais próximas entre si. Tanto que alguns recifenses vão a Jampa passar o final de semana.
A parte histórica da cidade, concentrada no bairro do Varadouro, não está bem preservada, mas o governo local está investindo num processo de recuperação. Um dos pontos de interesse é a antiga Igreja de São Francisco, do século XVI, hoje transformada em centro cultural.
Os vários parques e reservas de mata nativa, incluindo um imenso Jardim Botânico que ocupa 20% da área urbana, fazem de Jampa a cidade com maior área verde por habitante do país, e “a segunda do mundo” (perderia somente para Paris). São mais de 18 m² verdes por habitante, enquanto o índice recomendado pela ONU é de 12. [Até que Santo André, com cerca de 10 m² de área verde por habitante em sua área urbana (embora a Lei Orgânica da cidade estabeleça como meta chegar aos 16 m² até 2010, meta ainda distante), não faz tão feio se comparado, por exemplo, com São Paulo, que não chega a 5.]
Diferente de todas as demais capitais litorâneas do país, Jampa nasceu longe da praia. Como os navegadores portugueses não conseguiam ancorar nas praias, por causa dos recifes, acabaram subindo o rio Paraíba e fundando a cidade 10 quilômetros continente adentro. A cidade demorou a chegar à orla (e os nativos não parecem mesmo muito acostumados ao banho de mar, pois mesmo num fim de semana ensolarado as praias urbanas permanecem quase vazias), mas hoje vive um período de expansão imobiliária na região. O trânsito na orla entre Tambaú e Cabo Branco é fechado diariamente das 5 às 8 da manhã, para que os moradores possam fazer sua caminhada matinal. E também à noite o movimento de caminhantes no calçadão é intenso. Há uma lei municipal que impede a construção de prédios de mais de 4 andares na orla, o que ajuda a preservá-la e dá-lhe um certo ar bucólico.
Ao sul da orla pessoense está o ponto extremo oriental do continente, a Ponta do Seixas. É comum dizerem que a Paraíba é o Estado onde o sol nasce primeiro (desde que, logicamente, esqueçamos Fernando de Noronha, que pertence a Pernambuco). Em Jampa o sol nasce todos os dias por volta de 5 horas da manhã e se põe em torno das 17:30, o que nos obriga a readaptar nosso relógio biológico.
As principais praias urbanas da capital são Bessa, Manaíra, Tambaú (onde fica o Hotel Tropical, em formato circular, único no país) e Cabo Branco, todas de águas limpas e mornas, mas com ondas fortes na maré alta. Mas a região mais promissora para o turismo é o litoral sul do Estado, onde se destaca a famosa Praia de Tambaba, a primeira do Nordeste oficialmente dedicada ao Naturismo: ou seja, lá só se entra totalmente nu. Se eu entrei? Jamais saberão, hehehe. Mas, para os assanhados, um aviso: homem desacompanhado não entra. Para os próximos anos aguardam-se investimentos maciços em hotéis e resorts no litoral sul, principalmente de capital espanhol e português. Em breve ouviremos falar de locais como Pitimbu, Carapebus e Conde, entre outros.
Já para o norte fica a cidade portuária de Cabedelo, que abriga a “praia” do Jacaré, à margem do Rio Paraíba. Diariamente acontece lá um dos programas mais vendidos aos turistas: o pôr-do-sol, saudado pelos acordes do “Bolero” de Maurice Ravel executado ao saxofone pelo músico Jurandy, que pretende entrar para o “Guiness” pelo maior número de execuções da obra. O espetáculo é bonito, não se duvida, mas um tanto exagerado. E é preciso chegar cedo, por volta de 4 da tarde, pois depois disso o trânsito para chegar ao local vira um inferno e corre-se o risco de só chegar com o espetáculo já encerrado.
Para não dizerem que não falei de futebol, fiquei com a clara impressão que os pessoenses vivem uma situação que nós conhecemos bem. O pessoal de lá gosta do esporte e acompanha com vivo interesse o campeonato... carioca. Enquanto todos ficavam ligados na TV para ver a semifinal da Taça Guanabara entre Flamengo e Vasco, o Botafogo local levava somente 700 testemunhas ao imenso estádio Almeidão (o mesmo onde o Ramalhão bateu o Botafogo por 3 a 1, nas finais da Série C de 2003, partida em que o goleiro Júlio César sofreu fratura na perna), para uma importante partida pelo campeonato paraibano contra o Nacional de Patos. O alvinegro precisava somente do empate para ir às finais do turno. Perdeu. A capital é secundária no que se refere ao futebol no Estado, que é dominado pelos times de Campina Grande: o Treze e o Campinense. Pelo que percebi, até os times “grandes” pernambucanos têm mais torcida em Jampa do que as equipes locais.
De resto, a cidade é tranqüila, aparentemente segura e parece bem planejada em termos urbanísticos. Precisa investir mais no transporte coletivo, que é ineficiente, e em estrutura para o turista, melhorando sua rede hoteleira e o acesso aos locais de interesse; ainda assim, é um destino turístico bastante promissor. A CVC está investindo (com certeza, mais do que no futebol do Ramalhão) para levar mais turistas de São Paulo para lá.
A foto do alto foi tirada junto ao Farol do Cabo Branco, perto do ponto extremo oriental. Abaixo, mais duas imagens marcantes da Paraíba: a área histórica do Varadouro e a deslumbrante Praia Bela, no litoral sul. Podem babar, mas cuidado com o teclado.
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