Data: Qua Jan 28, 2004 8:39 pm
Assunto: Fábulas do futebol: O amarelão e o bode
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O último confronto direto entre o Ramalhão e o São Caetano (antes do de hoje) aconteceu no Bruno Daniel , no dia 26/3/2000, válido pela série A-2. A partida era cercada de muita expectativa, diante do ocorrido no último confronto anterior a esse: naquela oportunidade, última rodada da A-2 de 1999, os dois times, mais o América, brigavam por uma vaga na final contra a Ponte Preta (que já valeria o acesso para a A-1), e o São Caetano recebia o Santo André precisando apenas empatar para ir à final. Mas o Ramalhão venceu por 1 x 0, decretando o acesso do América. Agora os dois times da região iriam enfrentar-se novamente, com ligeiro favoritismo para o São Caetano, que desde o ano anterior disputava a Série B do Campeonato Brasileiro (onde, por sinal, foi eliminado - também em casa - pelo Santa Cruz).
Numa tentativa de ridicularizar o Ramalhão, um grupinho de torcedores do São Caetano (desculpem a redundância, afinal todos os torcedores do São Caetano, juntos, formam um grupinho...) resolveu criar um novo símbolo para o adversário, a ser "estreado" no dia do clássico: um bode. Como saiu no Diário do Grande ABC:
"A inspiração para provocar o inimigo saiu como forma de troco pelo inconformismo da derrota fatal do Azulão para o Santo André (1 a 0), no final de 1999, eliminando a possibilidade de o São Caetano subir para a divisão de elite em 2000. "Nós levamos uma chifrada que doeu muito e daí nasceu a idéia do bode. É uma brincadeira sadia, mas que acirra a rivalidade. O Palmeiras não era periquito e virou porco? O Corinthians não era mosqueteiro e agora é chamado de gambá? O Santo André agora é o bode. Se precisar, vamos registrar em cartório", sorriu Augusto Folco, o Gustinho, 66 anos, morador do bairro Olímpico e um dos torcedores mais populares do clube."
A resposta da torcida ramalhina viria num verdadeiro golpe de mestre de marketing.
No dia do clássico, a diminuta torcida caetanense veio com a ridícula provocação: "boooodeeee... boooodeeee..." Em resposta, a torcida do Santo André abriu uma faixa, onde havia um pássaro amarelo e a frase: "O Ramalhão não tem medo do AMARELÃO!". Uma referência às seguidas derrotas do "azulão" em partidas decisivas. Até hoje não sei quem teve a sacada genial.
As risadas foram inevitáveis e na mesmo hora a torcida começou o coro, que continuou por todo o jogo: "ê ê ê, amarelão do ABC!" O clássico terminou 0 x 0, mas no final todos falavam da criativa faixa do amarelão, e a ofensa do "bode" ficou em segundo plano. Resultado: o "amarelão" criado pela torcida ramalhina pegou, ganhou o mundo, sendo adotado até pelos grandes órgãos de imprensa após as seguidas derrotas do São Caetano nas finais da Copa JH, do Brasileiro 2001 e da Libertadores. Nunca um apelido se mostrou tão adequado.
Por outro lado, o despropositado "bode" logo foi esquecido (acho que nem seu criador se lembra mais dele...).
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