Data: Sex Jun 18, 2004 10:33 am
Assunto: Ramalhão vive seu momento histórico
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A classificação do Santo André para a grande final da Copa do Brasil, contrariando prognósticos e também muitos interesses, é o ponto mais alto já atingido pelo clube no futebol profissional. Há apenas um ano esse momento não passava de um sonho até para os torcedores mais fanáticos: o time iniciava então a disputa da Copa Estado de SP, que ainda não garantia ao campeão a vaga na Copa do Brasil (isso só foi confirmado bem mais tarde) e preparava-se para a Série C. Desde então, os deuses do futebol têm sorrido para o Ramalhão, tanto que na temporada 2003 só perdeu para o Cruzeiro em títulos conquistados.
Seria então o caso de afirmar: a torcida ramalhina está felicíssima, a cidade motivada com o time e o futuro nos sorri. Mas, infelizmente, isso é apenas meia verdade. A cidade de Santo André tem uma dívida imensa com o clube que a representa no futebol profissional. Graças ao Ramalhão, Santo André passou a ser manchete por outro motivo que não o “caso Celso Daniel” e uma ou outra catástrofe digna de figurar nos noticiários da TV e jornais paulistanos. Apesar disso, não se vê a esperada contrapartida, o envolvimento de toda a cidade na decisão, como ocorreu em 1979 e 1981; com algumas poucas exceções, não se vê nas ruas entusiasmo condizente com a importância do momento. Está claro que somente as boas apresentações do time não bastam, o envolvimento do Poder Público e do empresariado da cidade são indispensáveis, e até o momento isso não acontece.
Igualmente, o futuro do Ramalhão parece nebuloso. Não sabemos se o clube está chegando ao seu auge ou se este é apenas um “platô” antes de escaladas ainda maiores. No alpinismo se diz que, depois que se chega a determinado ponto da escalada, não há outra saída a não ser continuar subindo, até o topo. Mas para continuar a subida precisamos do material adequado: estádio em condições, patrocinadores fornecendo o respaldo financeiro, apoio da comunidade andreense. E estamos deficientes nesses “materiais”. E se permanecermos no “platô”, acabaremos caindo ou sendo soterrados por alguma avalanche. E, o pior, tem muita gente atirando pedras lá de cima...
E a desconfiança aumenta com a decisão do STJD ontem à noite. Só quem estivesse mal informado poderia esperar desfecho diferente para o caso dos 12 pontos: deixando de lado qualquer consideração subjetiva, o Tribunal já tem pacificada a jurisprudência que a escalação de jogador irregular é sempre culpa do clube. Tanto que a decisão dos juízes foi unânime e rápida. Além disso, o próprio Ouvidor da CBF já havia antecipado, neste espaço, a decisão do Tribunal. No terreno esportivo, a decisão é final e irrecorrível; resta o caminho da justiça comum.
A conseqüência da decisão do STJD é que o Ramalhão tem grande chance de, em 2005, disputar a Libertadores no primeiro semestre e a Terceira Divisão no segundo, uma contradição vergonhosa para o futebol brasileiro. E que poderá gerar frutos indesejáveis, como a retirada da indicação do campeão da Copa do Brasil para a Libertadores, o condicionamento da indicação à presença do campeão na Série A, ou até a extinção da Copa, já defendida veladamente por alguns membros do Clube dos 13 que querem um enxugamento do calendário brasileiro para adequá-lo ao europeu.
Quem ler esta mensagem pode achar que estou sendo pessimista. Bem ao contrário, tenho fé que o Ramalhão vencerá a Copa do Brasil e conseguirá somar os 30 pontos necessários para fugir do rebaixamento na série B. Mas não podemos esquecer que grandes conquistas também trazem grandes riscos. E, felizmente, se ainda carecemos de respaldo para diminuir esses riscos, o que não nos falta é coragem para enfrentá-los.
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