Data: Sex 18 abr 2008 9:45 pm

Título: Ramalhão Tur: tem galinha no Porto



  • O que faz que uma pequena vila no litoral de Pernambuco seja eleita, por cinco anos consecutivos, como a melhor praia do Brasil (pela revista Viagem e Turismo)? Foi com essa pergunta na cabeça que eu e minha esposa programamos nossa viagem de férias para Porto de Galinhas. A vila, famosa pelas suas piscinas naturais, certamente deveria ter algo mais a oferecer, e lá fomos nós para a cidade preferida do Luciano do Valle.

  • Porto não é, a rigor, uma cidade, mas um distrito de Ipojuca. E é tal a quantidade de cartazes da Prefeitura de Ipojuca ao longo da estrada que leva a Porto, louvando as realizações da Administração do município, que cheguei à conclusão que a maior obra daquela cidade deve ser a produção de cartazes.

  • Entre Recife e Porto de Galinhas são 60 km, percorridos em 1 hora por estrada em boas condições. Quer dizer, boas condições se você evitar ir para lá nos finais de semana e feriados prolongados: do contrário, irá sentir-se em casa num dos congestionamentos monstro que acontecem por ali nessas situações. E as paisagens no caminho não colaboram para amenizar o estresse do trânsito. Em qualquer direção até onde a vista alcança, a vista monótona é uma só: cana, cana e mais cana. A impressão que dá é que Pernambuco inteiro é um imenso canavial, o que não está muito longe da realidade. Pernambuco é o terceiro maior produtor de cana-de-açúcar do país e as usinas têm enorme importância na economia local.

  • A origem do nome da vila é bem conhecida, mas não custa repetir. Com as restrições impostas pela Inglaterra ao tráfico de escravos da África no século XIX, o governo colonial, meio a contragosto, proibiu que navios negreiros atracassem nos portos brasileiros. Para contornar a dificuldade, os “importadores” nordestinos passaram a fazer o desembarque num local isolado ao sul do Recife, e anunciavam a chegada da “carga” com a senha: “Tem galinha d' Angola no porto”. Hoje, as galinhas talhadas na madeira (em geral em troncos de coqueiro) são a marca registrada da vila, espalhadas por toda a parte.

  • Desta vez fugimos do esquema pacote pronto e viajamos por conta própria, escolhendo pela internet uma pousada entre as muitas opções disponíveis. O resultado acabou compensando financeiramente, pois os pacotes normalmente são para hotéis distantes da vila, em geral bastante caros, e o hóspede acaba tendo que comer no hotel, o que aumenta o custo. Já na vila há diversas opções de alimentação. A pousada que escolhemos, bastante confortável, ficava logo na entrada da vila e recebe muitos hóspedes europeus, especialmente escandinavos, que simplesmente adoram a região.

  • Imagine-se uma sonolenta vila de pescadores, com uma rua principal de terra e algumas transversais, com casas simples com cadeiras e redes nas fachadas, crianças jogando bola no meio da rua... Pois bem, Porto de Galinhas era assim há uns vinte anos. Hoje tudo mudou: a rua principal virou calçadão, que fervilha à noite e nos fins de semana; as casas humildes deram lugar a boutiques, restaurantes e lojas de artesanato. Só a pequena igreja continua no mesmo lugar, e as praias continuam as mesmas. E que praias! A orla de Porto estende-se por mais de 15 km, com praias para todos os gostos. O ideal é fretar um bugue e conhecer logo a orla toda, e depois escolher a sua praia. Os que preferem conforto e badalação ficam no centro da Vila, junto às piscinas naturais, ou na praia do Cupe, um pouco mais ao norte. Os aventureiros e surfistas vão para Maracaípe, onde também fica o mangue, para onde os turistas são levados para um programa no mínimo curioso: observar cavalos marinhos. Sinceramente, prefiro deixar os bichinhos em paz. No extremo norte da orla fica Muro Alto, um verdadeiro piscinão sem nenhuma onda e com peixinhos nadando aos pés... Coisa de louco. Só a proximidade do porto de Suape e a falta de uma melhor infraestrutura estragam a perfeição do lugar. Há algum tempo a praia ganhou dois imensos resorts, um ao lado do outro, destinados a um público de altíssimo poder aquisitivo – estrangeiros em sua maioria.

  • O tempo ideal para ficar na vila são 4 a 5 dias, tempo suficiente para conhecer todas as praias locais e visitar os arredores, como Carneiros e Tamandaré ao sul, e Cabo de Santo Agostinho – que os pernambucanos juram que foi o verdadeiro lugar de descobrimento do Brasil, antes do Cabral - ao norte. Mais tempo do que isso e já começa a faltar o que fazer. O ideal é montar um pacote combinando 5 dias em Porto e outro tanto em Recife. O que não se pode fazer é deixar de ir a Porto de Galinhas, pois – sem trocadilhos – o lugar vale muito a pena.

  • (Abaixo, as famosas piscinas naturais, e logo abaixo, Muro Alto.)





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