O
que faz que uma pequena vila no litoral de Pernambuco seja
eleita, por cinco anos consecutivos, como a melhor praia do
Brasil (pela revista Viagem e Turismo)? Foi com essa pergunta na
cabeça que eu e minha esposa programamos nossa viagem de
férias para Porto de Galinhas. A vila, famosa pelas suas
piscinas naturais, certamente deveria ter algo mais a oferecer, e
lá fomos nós para a cidade preferida do Luciano do
Valle.
Porto
não é, a rigor, uma cidade, mas um distrito de
Ipojuca. E é tal a quantidade de cartazes da Prefeitura de
Ipojuca ao longo da estrada que leva a Porto, louvando as
realizações da Administração do
município, que cheguei à conclusão que a
maior obra daquela cidade deve ser a produção de
cartazes.
Entre
Recife e Porto de Galinhas são 60 km, percorridos em 1
hora por estrada em boas condições. Quer dizer,
boas condições se você evitar ir para lá
nos finais de semana e feriados prolongados: do contrário,
irá sentir-se em casa num dos congestionamentos monstro
que acontecem por ali nessas situações. E as
paisagens no caminho não colaboram para amenizar o
estresse do trânsito. Em qualquer direção até
onde a vista alcança, a vista monótona é uma
só: cana, cana e mais cana. A impressão que dá
é que Pernambuco inteiro é um imenso canavial, o
que não está muito longe da realidade. Pernambuco é
o terceiro maior produtor de cana-de-açúcar do país
e as usinas têm enorme importância na economia local.
A
origem do nome da vila é bem conhecida, mas não
custa repetir. Com as restrições impostas pela
Inglaterra ao tráfico de escravos da África no
século XIX, o governo colonial, meio a contragosto,
proibiu que navios negreiros atracassem nos portos brasileiros.
Para contornar a dificuldade, os “importadores”
nordestinos passaram a fazer o desembarque num local isolado ao
sul do Recife, e anunciavam a chegada da “carga” com
a senha: “Tem galinha d' Angola no porto”. Hoje, as
galinhas talhadas na madeira (em geral em troncos de coqueiro)
são a marca registrada da vila, espalhadas por toda a
parte.
Desta
vez fugimos do esquema pacote pronto e viajamos por conta
própria, escolhendo pela internet uma pousada entre as
muitas opções disponíveis. O resultado
acabou compensando financeiramente, pois os pacotes normalmente
são para hotéis distantes da vila, em geral
bastante caros, e o hóspede acaba tendo que comer no
hotel, o que aumenta o custo. Já na vila há
diversas opções de alimentação. A
pousada que escolhemos, bastante confortável, ficava logo
na entrada da vila e recebe muitos hóspedes europeus,
especialmente escandinavos, que simplesmente adoram a região.
Imagine-se
uma sonolenta vila de pescadores, com uma rua principal de terra
e algumas transversais, com casas simples com cadeiras e redes
nas fachadas, crianças jogando bola no meio da rua... Pois
bem, Porto de Galinhas era assim há uns vinte anos. Hoje
tudo mudou: a rua principal virou calçadão, que
fervilha à noite e nos fins de semana; as casas humildes
deram lugar a boutiques, restaurantes e lojas de artesanato. Só
a pequena igreja continua no mesmo lugar, e as praias continuam
as mesmas. E que praias! A orla de Porto estende-se por mais de
15 km, com praias para todos os gostos. O ideal é fretar
um bugue e conhecer logo a orla toda, e depois escolher a sua
praia. Os que preferem conforto e badalação ficam
no centro da Vila, junto às piscinas naturais, ou na praia
do Cupe, um pouco mais ao norte. Os aventureiros e surfistas vão
para Maracaípe, onde também fica o mangue, para
onde os turistas são levados para um programa no mínimo
curioso: observar cavalos marinhos. Sinceramente, prefiro deixar
os bichinhos em paz. No extremo norte da orla fica Muro Alto, um
verdadeiro piscinão sem nenhuma onda e com peixinhos
nadando aos pés... Coisa de louco. Só a proximidade
do porto de Suape e a falta de uma melhor infraestrutura estragam
a perfeição do lugar. Há algum tempo a praia
ganhou dois imensos resorts, um ao lado do outro,
destinados a um público de altíssimo poder
aquisitivo – estrangeiros em sua maioria.
O
tempo ideal para ficar na vila são 4 a 5 dias, tempo
suficiente para conhecer todas as praias locais e visitar os
arredores, como Carneiros e Tamandaré ao sul, e Cabo de
Santo Agostinho – que os pernambucanos juram que foi o
verdadeiro lugar de descobrimento do Brasil, antes do Cabral - ao
norte. Mais tempo do que isso e já começa a faltar
o que fazer. O ideal é montar um pacote combinando 5 dias
em Porto e outro tanto em Recife. O que não se pode fazer
é deixar de ir a Porto de Galinhas, pois – sem
trocadilhos – o lugar vale muito a pena.
(Abaixo,
as famosas piscinas naturais, e logo abaixo, Muro Alto.)
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