Data: Seg 11 nov 2008 5:54 pm

Título: Enfim, o acesso! E agora?


A torcida ramalhina está em estado de graça, com o acesso do Santo André à Primeira Divisão do futebol brasileiro. Conquista histórica, resultado de uma autêntica maratona pelos campos desse Brasil afora e que só se tornou possível pela conjugação de três fatores: planejamento minimamente razoável, continuidade e dinheiro (principalmente este último, sem o qual os dois primeiros dificilmente seriam conseguidos). É incontestável a importância, para o acesso, da chamada gestão empresarial e em especial de seu presidente, que desembolsou muito para bancar a presença de Marcelinho Carioca e assumir cotas comprometidas pela inadimplência. Por mais polêmica que seja a figura de Ronan Maria Pinto, até o ramalhino mais desconfiado terá que reconhecer que sem ele não estaríamos comemorando agora.

Não gosto de exercer a função de jogar água na fervura do entusiasmo do torcedor, que já está sonhando com Libertadores 2010 e outros voos ainda mais altos; mas se planejamento, continuidade e dinheiro foram fundamentais para o acesso, serão ainda mais necessários – e em nível bem maior – para que o Ramalhão consiga se manter na elite por muito tempo. Exemplos de equipes que subiram e não conseguiram se sustentar na Série A por mais de uma temporada, ou que na sequência sofreram queda ainda maior, não faltam.

Se a injeção de recursos na primeira divisão será bem maior (ainda que irrisória se comparada aos lucros que a emissora de TV que detém o monopólio das transmissões consegue com esse produto), é certo que dinheiro é necessário, mas não suficiente para nos dar estabilidade na elite. Os cotistas da SAGED precisam ter em mente que não será em apenas uma temporada que conseguirão o retorno de seu investimento. Seria altamente recomendável aproveitar a vitrine da Série A para buscar novas parcerias, já que ainda há espaço disponível para patrocínios no uniforme.

Se o lado financeiro para 2009 está bem encaminhado, há que se incrementar os outros componentes do tripé da estabilidade, a começar pela continuidade. Manter o atual elenco não será tarefa fácil, pois o assédio sobre os atletas valorizados pelo acesso será muito grande, e inevitavelmente jogadores como Jéferson, Élton e Willians deverão respirar outros ares no ano que vem. Se em 2008 praticamente não perdemos jogadores na “janela” do começo de ano, desta vez o desfiguramento do elenco será bem maior.

Substituir à altura os atletas que deixarão o grupo será tarefa do terceiro componente do tripé, o planejamento. Mas não será a única. Estamos fartos de saber que o crescimento do Ramalhão no cenário do futebol brasileiro sempre foi prejudicado por uma série de obstáculos estruturais. O primeiro deles era a falta de um Centro de Treinamentos, que finalmente está prestes a ser contornado com a aquisição da Estância Santa Luzia, que, pelo que sabemos, estará inteiramente à disposição do clube a partir de março.

A dificuldade em atrair novos torcedores é outro desafio para o planejamento do Santo André, que exigirá não somente um intenso trabalho de marketing na cidade, mas também e principalmente colocar o Ramalhão na “grande mídia”. A simples presença do clube na Série A não vai resolver esse problema. Lotar o Bruno Daniel nos jogos do Brasileirão (e com ingressos bem mais caros do que estamos acostumados) será fundamental para evitar que o Santo André sofra críticas e seja enquadrado pela mídia como “mais um time sem torcida” a ocupar espaço “indevido” entre os grandes do futebol do país. Já nos basta a eterna confusão que ainda se faz entre o Ramalhão e o time da cidade vizinha (grrrr).

E o Bruno Daniel é mais um daqueles obstáculos estruturais. Há muito tempo insistimos que as condições do Estádio Municipal estão precárias, e mais que isso, nossa casa tornou-se modesta demais para as novas necessidades do Ramalhão. Ainda não sabemos como a futura Administração da cidade encara esse assunto, nem mesmo se chegou a pensar nele, pois durante a campanha eleitoral nada foi dito a respeito. Mas, como continuaremos a depender do patrimônio público, convém iniciar o quanto antes as negociações com o futuro prefeito e sua equipe visando a tão necessária reforma e ampliação do Bruno Daniel.

Enfim, aí estão os desafios que a nova condição do Ramalhão nos impõe. Mas nossa cidade e o clube que a representa nunca fugiram de desafios. Mãos à obra, e que venha a Série A!...


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