Elas distinguem amor de sexo
Por Patrícia Espírito Santo
[ patriciaesanto@uai.com.br
]
Jornal
Estado de Minas - Belo Horizonte, , 22 de Maio de 2005 , Caderno "Feminino
& Masculino"
O que defendo é que podemos,
sim, sentir prazer, atração, desejo e tudo mais por alguém
que não desperta nada mais que isso.
Outro dia, ouvi um comentário
proferido por uma mulher, que se dizia educadora sexual, que me assustou.
Para ela, a mulher não consegue ver (muito menos fazer) o sexo
desprovido de afeto e amor. Não estava se referindo, é
claro, ao sexo pelo dinheiro (imagino ser isso considerado por ela um
desvio de conduta ou pouca vergonha), mas ao sexo pelo sexo. Aquele
que é motivado pelo desejo e pela atração sexual,
e que pouco se importa com o que virá depois: um vínculo
afetivo, ou cada um para seu canto. Quer dizer, para a linha de pensamento
defendida por ela, o sexo só pode dar prazer e complementar se
o amor estiver presente: “Pois assim é a mulher!”.
Muitos de nós, com certeza,
crescemos pensando assim. E existem frentes que ainda defendem esse
princípio com unhas e dentes, como, por exemplo, o atual modelo
de educação sexual norte-americano que, graças
a Deus, não vem encontrando muitos adeptos por aqui. E o mais
fantástico é que, a cada dia, as pesquisas mostram que
não somos tábuas rasas sobre cujas cabeças qualquer
um consegue derramar sua ideologia. Somos pessoas diferentes, com percepções
diferentes.
Quer dizer, ao escrever este
artigo, tenho em mente a transmissão de uma mensagem, e cada
um fará uma leitura diferente das minhas palavras e chegará
a conclusões segundo sua formação, sua experiência
de vida, seu modo de pensar e de ver o mundo. Muitos farão delas
questionamentos e partirão à procura de mais esclarecimentos.
Ainda bem. Porque é por
aí que evoluímos nossas linhas de pensamento em relação
aos nossos próprios comportamentos. Durante séculos, o
estado e a igreja, com o apoio da cultura e da sociedade, colocaram
o sexo numa redoma, tornando-o algo santo e, ao mesmo tempo, nosso corpo,
natureza, biologia, diziam o contrário. Ele é diabólico.
Diabólico porque, ao contrário
do que queriam aqueles que faziam as regras, os hormônios sexuais
despertavam desejos que não se alinhavam com os princípios
morais vigentes. Aquela forte atração que se sentia ao
ver determinada pessoa desconhecida, aquele desejo de pular sobre ela
e arrancar-lhe as roupas, pouco se importando com quem ela haveria de
ser, era mesmo uma tentação do diabo.
Não estou aqui fazendo
uma apologia ao sexo livre, ao “vamos agarrar todos os que tivermos
vontade”. O que defendo é que podemos, sim, sentir prazer,
atração, desejo e tudo mais por alguém que não
desperta nada mais que isso. Podemos, sim, ter relação
sexual com alguém que não amamos, e continuarmos nossa
vida sem carregar a sensação de que fomos levianas e sem-vergonhas.
Em resumo: a mulher tem opção de escolha, como o homem.
O que atrapalha a escolha, quanto ao fazer ou não sexo pelo sexo,
é uma questão cultural. A grande diferença entre
homens e mulheres é que nossa moral ainda insiste em aceitar
esse tipo de comportamento apenas para o sexo masculino, assim como
essa coisa de sexo com amor seria prerrogativa feminina.