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INDUMENTÁRIA
GAÚCHA, através dos tempos vamos explicar o traje típico
dos gaúchos, iniciamos com uma introdução, e depois
apresentaremos o traje que veio dos índios, até os
tempos atuais.
Introdução
A
autêntica cultura do povo e suas expressões estão
alicerçadas em tradições, em conhecimentos obtidos
pela convivência em grupo, somadas aos elementos históricos
e sociológicos. Seus legados e sua tradição, entre
eles o seu modo de vestir, são transportados para as
gerações seguintes, sujeitos a mudanças próprias de
cada época e circunstância.
O
homem do Rio Grande do Sul adaptou suas vestimentas
baseado nas suas necessidades e no seu tipo de vida.
Fica claro que os trajes, no decorrer da história ,
aceitam os processos de modernização e de transformação
que uma cultura possa ter. A cultura é viva e, enquanto
viva, ela se modifica. Essas modificações, legaram ao
gaúcho além de uma herança, beleza e identidade. Se
os costumes são constantemente alterados no decorrer da
história, nada mais claro de que os trajes também
tenham tido uma modificação, mantendo, no entanto, a
sua raiz.
Este
trabalho, tem como principal objetivo demonstrar como se
deu a evolução da nossa Indumentária Gaúcha. Quando
da realização desta pesquisa, me deparei com várias
publicações sobre indumentária, de vários autores,
como Antônio Augusto Fagundes, Vera Záttera, Paixão Côrtes
e Edison Acri, que mostravam visões um pouco
diferenciadas.
A Evolução
da Indumentária Gaúcha
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Os quatro trajes fundamentais:
Se
formos dividir a história da indumentária gaúcha,
veremos que ela se dá em 4 partes, e a cada uma delas
corresponde uma indumentária feminina:
1
- Chiripá primitivo;
2
- Braga;
3
- Chiripá farroupilha;
4
- Bombacha.
Traje
Indígena - 1620 à 1730
Quando
o homem que veio fazer a América - e se vestia à européia
- aqui chegou encontrou, nos campos, índios
missioneiros e índios cavaleiros.
Índios
Missioneiros: (Tapes, Gês-guaranizados) - constituíam
a matéria-prima trabalhada pelos padres jesuítas dos
Sete Povos.
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Os
Missioneiros se vestiam, conforme severa moral
jesuítica. Passaram a usar os calções
europeus e em seguida a camisa, introduzida
nas missões pelo Padre Antônio Sepp.
Usavam,
ainda, uma peça de indumentária não européia,
proximamente indígena - "el poncho"
- isto é, o pala bichará. Essa peça de
indumentária não existia no Rio Grande do
Sul antes da chegada do branco, pois os nossos
índios pré-missioneiros não teciam e nem
fiavam.
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Os
Padres descobriram a atração que as vestes religiosas
e as fardas militares exerciam sobre os índios e
distribuíram essas roupas entre eles.
Assim,
figurar o Alferes Real Sepé Tiarayu, desnudo ou
vestindo chiripá, é erro grosseiro. Ele usaria a farda
correspondente ao seu alto grau militar, ou vestiria-se
civilmente, com bragas, camisa e poncho.
A
mulher missioneira, usava o "tipoy", que era
um longo vestido formado por dois panos costurados entre
si, deixando sem costurar, apenas duas aberturas para os
braços e uma para o pescoço. Na cintura, usavam uma
espécie de cordão, chamado "chumbé". O
"tipoy" era feito de algodão esbranquiçado,
mas em seguida se tornava avermelhado com o pó das Missões.
Em ocasiões festivas, a índia missioneira gostava de
usar um alvo "tipoy" de linho sobre o de uso
diário. Apenas nas vestes religiosas, sobretudo nas
procissões, as índias usavam mantos de cores dramáticas,
como o roxo e o negro.
Índios
cavaleiros: (Mbaias: Charruas, Minuanos, Yarós, etc):
eram assim chamados porque prontamente se adonaram do
cavalo trazido pelo branco, desenvolvendo uma
surpreendente técnica de amestramento e equitação.
Usavam
duas peças de indumentária absolutamente originais: o
"chiripá" e o "cayapi".
O
chiripá era uma espécie de saia, constituída por um
retângulo de pano enrolado na cintura, até os joelhos.
O cayapi dos minuanos era um couro de boi, inteiro e bem
sovado (que se usava às costas) com o pêlo para dentro
e carnal para fora, pintado de listras verticais e
horizontais, em cinza e ocre. À noite, servia de cama,
estirado no chão. Os charruas o chamavam de "quillapi"
e "toropi".
A
mulher, entre os índios cavaleiros, usava apenas o
chiripá. No rosto, pintura ritual de passagem,
assinalando a entrada na puberdade. No pescoço, colares
de contas ou dentes de feras.
De
peças da indumentária ibérica, de peças da indumentária
indígena e tantas outras, o gaúcho foi constituindo
sua própria indumentária.
Traje
Gaúcho - 1730 à 1820
Patrão
das Vacarias e Estancieira Gaúcha
O
primeiro caudilho riograndense, tinha mais
dinheiro e se vestia melhor. Foi o primeiro
estancieiro. Trajava-se basicamente à européia,
com a braga e as ceroulas de crivo.
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Passou
a usar também a bota de garrão de potro,
invenção gauchesca típica. Igualmente o
cinturão-guaiaca, o lenço de pescoço, o
pala indígena, a tira de pano prendendo os
cabelos, o chapéu de pança de burro, etc.
A
mulher desse rico estancieiro, usava botinhas
fechadas, meias brancas ou de cor, longos
vestidos de seda ou veludo, botinhas fechadas,
mantilha, chalé ou sobrepeliz, grande
travessa prendendo
os cabelos enrolados e o infaltável leque.
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Peão
das Vacarias e China das Vacarias
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O
traje do peão das vacarias destinava-se a
proteger o usuário e a não atrapalhar a sua
atividade - caçar o gado e cavalgar.
Normalmente, este gaúcho só usava o chiripá
primitivo (pano enrolado como saia, até os
joelhos, meio aberto na frente, para facilitar
a equitação e mesmo o caminhar do homem) e
um pala enfiado na cabeça. O chiripá, em
pouco tempo, assumia uma cor indistinta de múgria
- cor de esfregão. À cintura, faixa larga,
negra, ou cinturão de bolsas, tipo guaiaca,
adaptado para levar moedas, palhas e fumo e,
mais tarde, cédulas, relógio e até pistola.
Ainda à cintura, as infaltáveis armas desse
homem: as boleadeiras, a faca flamenga ou a
adaga e, mais raramente, o facão. E sempre à
mão, a lança - de peleia ou de trabalho.
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Camisa,
quando contava com uma, era de algodão branco ou
riscado, sem botões, apenas com cadarços nos punhos,
com gola imensa e mangas largas.
Pala,
não faltava, comumente, o de lã - chamado "bichará"-
em cores naturais, e mais raramente o de algodão e o de
seda que aos poucos vão aparecendo. Logo, também surge
o poncho redondo, de cor azul e forrado de baeta
vermelha.
Pala:
tem origem indígena. Pode ser de lã ou algodão,
quando protege contra o frio, ou de seda, quando preteje
contra o calor. É sempre retangular com franjas nos
quatro lados. A gola do pala é um simples talho, por
onde o homem enfia o pescoço.
Poncho:
Tem origem inteiramente gauchesca. É feito,
invariavelmente, de lã grossa. Quase sempre é azul
escuro, forrado de baeta vermelha, mas também existem
de outras combinações de cores. O poncho tem a forma
circular ou ovalada. Só preteje contra o frio e a
chuva. A gola é alta, abotoada e há um peitilho na
frente do poncho.
As
botas mais comuns eram as de garrão-de-potro, que eram
retiradas de vacas, burros e éguas (raramente era usado
o couro de potro, que lhe deu o nome). Essas botas eram
lonqueadas ou perdiam o pêlo com o uso. Em uso, as
botas não duravam mais de 2 meses. Normalmente, eram
feitas com o couro das pernas traseiras do animal que dão
botas maiores. As que eram tiradas das patas dianteiras,
muitas vezes eram cortadas na ponta e no calcanhar,
ficando o usuário com os dedos do pé e o calcanhar de
fora. Acima da barriga da perna, era ajustada por meio
de tranças ou tentos.
As
esporas mais comuns nessa época eram as nazarenas
(européias) e as chilenas (americanas). As nazarenas
tem esse nome devido aos seus espinhos pontudos, que
lembram os cravos que martirizaram Nosso Senhor. As
chilenas, devem seu nome à semelhança com as esporas
do "huaso", do Chile. Aos poucos, os ferreiros
da época começaram a criar novos tipos de esporas.
O
peão das vacarias não era de muito luxo. Só usava
ceroulas de crivo nas aglomerações urbanas. Ademais,
andava de pernas nuas como os índios. À cabeça, usava
a fita dos índios, prendendo os cabelos - que os
platinos chamam "vincha" - e também o lenço,
como touca, atado à nuca.
O
chapéu, quando usava, era de palha (mais comum), e de
feltro, (mais raro), e talvez o de couro cru, chamado de
"pança-de-burro", feito com um retalho
circular da barriga do muar, moldado na cabeça de um
palanque. O chapéu, qualquer que fosse o feitio, era
preso com barbicacho sob o queixo ou nariz. Esse
barbicacho era normalmente trançado em delicados tentos
de couro cru, tirados de lonca, ou então, eram simples
cordões de seda, torcidas, terminando em borlas que caía
para o lado direito. Mais raramente, era feito de sola e
fivela.
Ainda
nesta época, aparece o "cingidor", que é o
nosso tirador.
A
mulher vestia-se pobremente: nada mais que uma saia
comprida, rodada, de cor escura e blusa clara ou
desbotada com o tempo. Pés e pernas descobertas, na
maioria das vezes. Por baixo, apenas usava bombachinhas,
que eram as calças femininas da época.
Traje
Gaúcho - 1820 - 1865
Chiripá
Farroupilha e Saia e Casaquinho
Este
período é dominado por um chiripá que
substituiu o anterior, que não é adequado à
equitação, mas para o homem que anda a pé.
O chiripá dessa nova fase é em forma de
grande fralda, passada por entre as pernas.
Este adapta-se bem ao ato de cavalgar e essa
é certamente a explicação para o seu
aparecimento. Com isto, fica claro que o
Chiripá Primitivo era de origem indígena. Já
o Chiripá Farroupilha é inteiramente gaúcho.
Esse é um traje muito funcional, nem muito
curto, nem muito comprido, tendo o joelho por
limite, ao cobri-lo.
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As
esporas deste período são as chilenas, as nazarenas e
os novos tipos inventados pelos ferreiros da campanha.
As botas são, ainda, a bota forte, comum, a bota
russilhona e a bota de garrão, inteira ou de meio pé.
As ceroulas são enfiadas no cano da bota ou, quando por
fora, mostram nas extremidades, crivos, rendas e
franjas. À cintura, faixa preta e guaiaca, de uma ou
duas fivelas.
Camisa
sem botões, de gola, e mangas largas. Usavam jaleco, de
lã ou mesmo veludo, e às vezes, a jaqueta, com gola e
manga de casaco, terminando na cintura, fechado à
frente por grandes botões ou moedas.
No
pescoço, lenço de seda, nas cores mais populares,
vermelho ou branco. Porém, muitas vezes, o lenço
adotado tinha outras cores e padronagens. Em caso de
luto, usava-se o lenço preto. Com luto aliviado, preto
com "petit-pois", carijó ou xadrez de preto e
branco. Aos ombros, pala, bichará ou poncho. Na cabeça
usavam a fita dos índios ou o lenço amarrado à pirata
e, se for o caso, chapéu de feltro, com aba estreita e
copa alta ou chapéu de palha, sempre preso com
barbicacho.
A
mulher, nesta época, usava saia e casaquinho com
discretas rendas e enfeites. Tinham as pernas cobertas
com meias, salvo na intimidade do lar. Usavam cabelo
solto ou trançado, para as solteiras e em coque para as
senhoras. Os sapatos eram fechados e discretos. Como jóias
apenas um camafeu ou broche. Ao pescoço vinha muitas
vezes o fichú (triângulo de seda ou crochê, com as
pontas fechados por um broche). Este foi o traje usado
pelas ricas e pobres desta época.
Traje
gaúcho - 1865 até nossos dias
Bombacha
e Vestido de Prenda
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A
bombacha surgiu com os turcos e veio para o
Brasil usada pelos pobres na Guerra do
Paraguai. Até o começo do século, usar
bombachas em um baile, seria um desrespeito. O
gaúcho viajava à cavalo, trajando bombachas
e trazia as calças "cola fina",
dobradas em baixo dos pelegos, para frisar.
As
bombachas são largas na Fronteira, estreitas
na Serra e médias no Planalto, abotoadas no
tornozelo, e quase sempre com favos de mel. A
correta bombacha é a de cós largo, sem alças
para a cinta e com dois bolsos grandes nas
laterais, de cores claras para ocasiões
festivas, sóbrias e escuras para viagens ou
trabalho.
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À
cintura o fronteirista usa faixa; o serrano e
planaltense dispensam a mesma e a guaiaca da Fronteira
é diferente da serrana, por esta ser geralmente peluda
e com coldre inteiriço.
A
camisa é de um pano só, no máximo de pano riscado. Em
ambiente de maior respeito usa-se o colete, a blusa
campeira ou o casaco.
O
lenço do pescoço é atado por um nó de oito maneiras
diferentes e as cores branco e vermelho são as mais
tradicionais.
Usa-se
mais freqüentemente o chapéu de copa baixa e abas
largas, podendo variar com o gosto individual do usuário,
evitando sempre enfeites indiscretos no barbicacho.
Por
convenção social o peão não usa chapéu em locais
cobertos, como por exemplo no interior de um galpão.
As
esporas mais utilizadas são as
"chilenas", destacando-se ainda as
"nazarenas". Botas, de sapataria
preferencialmente pretas ou marrons.
Para
proteger-se da chuva e do frio usa-se o poncho
ou a capa campeira e do calor o poncho-pala.
Cita-se ainda o bichará como proteção
contra o frio do inverno. Obs.: O preto é
somente usado em sinal de luto.
O
tirador deve ser simples, sem enfeites, curtos
e com flecos compridos na Serra, de pontas
arredondadas no Planalto, comprido com ou sem
flecos na Campanha e de bordas retas com
flecos de meio palmo na Fronteira.
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É
vedado o uso de bombacha com túnica tipo militar, bem
como chiripás por prendas por ser um traje masculino.
A
indumentária da prenda é regulamentada por uma tese de
autoria de Luiz Celso Gomes Yarup, que foi aprovada no
34º. Congresso Tradicionalista Gaúcho, em Caçapava do
Sul.
01
- O vestido deverá ser, preferencialmente, de uma peça,
com barra da saia no peito do pé;
02
- A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e
rendas é livre;
03
- O vestido pode ser de tecido estampado ou liso, sendo
facultado o uso de tecidos sintéticos com estamparia miúda
ou "petit-pois";
04
- Vedado o decote;
05
- Saia de armar: quantidade livre (sem exageros);
06
- Obrigatório o uso de bombachinhas, rendadas ou não,
cujo comprimento deverá atingir a altura do joelho;
07
- Mangas até os cotovelos, três quartos ou até os
pulsos;
08
- Facultativo o uso de lenço com pontas cruzadas sobre
o peito, também facultado o uso do fichu de seda com
franjas ou de crochê, preso com broche ou camafeu, ou
ainda do chalé;
09
- Meias longas brancas ou coloridas, não transparentes;
10
- Sapato com salto 5 (cinco), ou meio salto, que abotoe
do lado de fora, por uma tira que passa sobre o peito do
pé;
11
- Cabelo solto ou em trança (única ou dupla), com
flores ou fitas;
12
- Facultado o uso de brincos de argola de metal. Vedados
os de fantasia ou de plásticos;
13
- Vedado o uso de colares;
14
- Permitido o uso de pulseiras de aro de qualquer metal.
Não aceitas as pulseiras de plástico;
15
- Permitido o uso de um anel de metal em cada mão.
Vedados os de fantasia;
16
- É permitido o uso discreto de maquiagem facial, sem
batons roxos, sombras coloridas, delineadores em
demasia;
17
- Vedado o uso de relógios de pulso e de luvas;
18
- Livre a criação dos vestidos, quanto a cores, padrões
e silhuetas, dentro dos parâmetros acima enumerados.
Fonte:
Indumentária Gaúcha
Antônio Augusto Fagundes, Martins Livreiro
Editor
(2ª Edição) - Porto Alegre - 1985
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Figuras:
Gaúcho
- Vestuário Tradicional e Costumes
Véra Stedile Zattera - Gov. do Estado do
Rio Grande do Sul - 1995
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