Segundo o crítico e
historiador literário José Veríssimo, várias são as acepções do
termo literatura: conjunto da produção intelectual humana escrita;
conjunto de obras especialmente literárias; conjunto (e este sentido,
creio, nos velo da Alemanha) das obras sobre um dado assunto, ao
que chamamos mais vernaculamente bibliografia de um assunto ou matéria;
boas letras; e, além de outros derivados secundários um ramo especial
daquela produção, uma variedade de Arte, a arte literária.
Mas por que à simples
relação de fatos, à meia expressão de emoções por meio da escrita
chamamos arte como à pintura, à escultura, à música?
Talvez porque essa
relação ou essa expressão - e em literatura não há outra coisa -
admitem ou exigem, para nos comoverem e Interessarem, artifícios
de língua, de maneira de dizer de modos de contar ou exprimir, em
suma de expedientes e processos estranhos à pura necessidade orgânica
da manifestação dos nossos juízos e sentimentos. Para tal, bastaria
somente a correção gramatical, isto é, a expressão verbal, segundo
as leis lógicas ou naturais, se preferem, da linguagem, sem mais
artifícios que os que lhe são inerentes.
A exação puramente
lingüística na expressão do pensamento ou das sensações é talvez
para a arte de escrever o que o desenho, no seu sentido mais restrito
e especial, é para a pintura. Esse desenho, como aquela linguagem
simplesmente exata, é, certo, já de si um artifício de representação,
mas ainda não constitui uma arte. Por falta de outros artifícios
que a completem e a tornem significativa, o que representa não nos
logra ainda comover, que é o fim superior da arte. E se o simples
desenho, na mão de verdadeiros artistas, o consegue, é que uma combinação
especial de linhas, de tons, de sombras e claridades, produzindo
uma expressão que quase vale a pintura, fez dele mais alguma coisa
que pura representação por linhas combinadas segundo regras preestabelecidas.
São essas linhas especiais,
esses tons variados, essas sombras e essa luz no desenho artístico,
e as tintas, o claro-escuro, as gradações de cores, a harmonia geral
de todos esses elementos na pintura, que fazem da pintura representação
gráfica do desenho uma obra de arte. Assim na expressão escrita
são artifícios correspondentes a esses que fazem da simples representação
versal das coisas vistas ou sentidas uma arte - acaso a mais difícil
de todas. Mas se isto basta para fazer da escrita, da literatura,
no sentido etimológico, uma arte, um ramo de Arte, não satisfaz,
cuido eu, para caracterizá-la toda.
Obras há de ciência (e tomo esta palavra no sentido geral de saber
de conhecimentos de fatos, "know-ledger" em Inglês), tão bem escritas
como as que melhor o sejam literatura. Darwin passa por um perfeito
escritor na Inglaterra, assim, como Spencer. Imagino que os trabalhos
de física e de biologia de Goethe não serão menos bem escritos que
os seus romances. (Que é literatura? José Veríssimo).
Em O Que é a Literatura?,
publicado em 1948, por Jean-Paul Sartre, a função e a natureza da
Literatura encontram-se organizadas em três perguntas básicas:
•
O que é escrever?
• Por que escrever?
• Para quem escreve?
O
que é escrever?
Segundo Sartre, escrever
é uma ação de desnudamento. O escritor revela ao escrever, revela
o mundo, e em especial o Homem, aos outros homens, para que estes
tomem, em face ao objetivo assim revelado, a sua inteira responsabilidade.
Não basta ao escritor ter escrito certas coisas, é preciso ter
escolhido escreve-las de um modo determinado, expondo seu mundo,
com elementos estéticos, de criação literária.
Por que escrever?
O homem que escreve
tem a consciência de revelar as coisas, os acontecimentos; de constituir
o meio através do qual os fatos se manifestam e adquirem significado.
Mesmo sabendo que, como escritor, pode detectar a realidade, não
pode produzi-la; sem a sua presença, a realidade continuará existindo.
Ao escrever, o escritor transfere para a obra uma certa realidade,
tornando-se essencial a ela, que não existiria sem seu ato criador.
Para quem escreve?
Ao escrever, o escritor,
segundo Sartre, deve solicitar um pacto com o leitor, que ele colabore
em transformar o mundo, a sua realidade. O escritor dirige à liberdade
de seus leitores. A Literatura é a tentativa do homem-escritor de
criar uma realidade que possa ser exibida no mundo real e modificar
as estruturas da sociedade humana.
Em resumo é decomposição de um texto
em suas partes constitutivas, para perceber o valor e o relacionamento
que guardam entre si e para melhor compreender, interpretar e sentir
a obra como um todo completo e significativo.
"A análise literária não se reduz,
pois, ao comum comentário do texto, trabalho colateral ao mesmo
texto, que não vai até à sua essência, nem à sua explicação, nem
ao mero estudo da biografia do autor. Deve ir mais além, abrindo
caminho para a crítica, para a história, que investigará sobre o
autor e os antecedentes da obra; e para a teoria da literatura,
que extrairá da obra os princípios suscetíveis de formulação estética".
(Herbert Palhano, Língua e Literatura).
A análise de texto, ensina Nelly
Novaes Coelho (0 Ensino da Literatura), é o esforço por descobrir-lhe
a estrutura, seu movimento interior, o valor significativo de suas
palavras e de seu tema, tendo em mira a unidade Intrínseca de todos
esses elementos. Pressupõe o exame da estrutura do trecho e da linguagem
literária (o vocabulário, o valor das categorias gramaticais usadas),
o tipo de figuras predominantes (símiles, imagens, metáforas...
), o valor da sintaxe predominante (frase ampla ou breve, tipos
de subordinação e coordenação, frases elípticas...), a natureza
dos substantivos escolhidos; tempos ou modos de verbo, uso expressivo
do artigo, da conjunção, dos advérbios, das preposições, etc., tudo
em função do significado essencial do todo. Uma boa análise de texto,
isto é, de fragmento só pode ser realizada quando o todo, a que
ele pertence, tiver sido perfeitamente interpretado.
Um esquema-roteiro para a análise
crítico-interpretativa de um romance, proposto pela referida professora
é o seguinte:
a) Leitura lúdica para contato com
a obra. Essa leitura é feita pelo aluno inicialmente.
b) Fixação da Impressão ou impressões
mais vivas provocadas pela leitura. Essas impressões levarão à determinação
do tema.
c) Fixação do tema ( idéia central,
eixo nuclear da ação).
d) Leitura reflexiva norteada pelo
tema, e pelas idéias principais pressentidas na obra. É durante
esta segunda leitura da obra que se Inicia a análise propriamente
dita, pois é o momento em que devem ser fixadas as características
de cada elemento estrutural.
e) Anotação meticulosa de como os
elementos constitutivos do romance foram trabalhados para Integrarem
a estrutura global. Esta anotação deverá obedecer, mais ou menos,
a um roteiro disciplinador:
1) Análise dos fatos que integram
a ação (Enredo).
2) Análise dos traços característicos
daqueles que vão viver a ação (Personagens).
3) Análise da ação e personagens
situadas no meio-ambiente em que se movem (Espaço).
4) Análise do encadeamento da ação
e personagens numa determinada seqüência temporal (Tempo).
5) Análise dos meios de expressão
de que se vale o autor: narração, descrição, monólogos, intervenções
do autor, gênero literário escolhido, foco narrativo, linguagem,
interpolações, etc.
Para o Professor Massaud Moisés,
( Guia Prático de Análise Literária ) o núcleo da atenção do analista
sempre reside no texto. Em suma: o texto é ponto de partida e ponto
de chegada da análise literária.
José Veríssimo
A Literatura
Brasileira O que é Literatura?
"A Literatura,
como toda arte, é uma transfiguração do real,
é a realidade recriada através do espírito
do artista e retransmitida através da língua para
as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma
corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida,
autônoma, independente do autor e da experiência de
realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes
origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças
à imaginação do artista. São agora fatos
de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela
ciência ou pela história ou pelo social.
O artista literário
cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis
pelos mesmos padrões das verdades fatuais. Os fatos que manipula
não têm comparação com os da realidade
concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes
um sentimento de experiência, uma compreensão e um
julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem
um retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota
o quadro.
A Literatura é,
assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver
conflito entre uma e outra. Através das obras literárias,
tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a
todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma
condição humana."
(Afrânio Coutinho)
Alguns Conceitos
sobre Literatura
"Arte literária é mimese (imitação);
é a arte que imita pela palavra." (Aristóteles,
filósofo grego, séc. IV a.C)
"A literatura
é a expressão da sociedade, como a palavra é
a expressão do homem." (Louis de Bonald, pensador e
crítico do Romantismo francês, início do séc.
XIX)
"O poeta sente
as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a
sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de
combate." (Jean-Paul Sartre, filósofo francês,
séc. XX)
"É com
bons sentimentos que se faz literatura ruim." (André
Gide, escritor francês, séc. XX)
"A poesia existe
nos fatos" (Oswald de Andrade, poeta brasileiro, séc.
XX)
Literatura Segundo o Dicionário
literatura (Do lat.
litteratura.] S.f. 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos
em prosa ou verso. 2. O conjunto de trabalhos literários
dum país ou duma época. 3. Os homens de letras: A
literatura brasileira fez-se representar no colóquio de Lisboa.
4. A vida literária. S. A carreira das letras. 6. Conjunto
de conhecimentos relativos às obras ou aos autores literários:
estudante de literatura brasileira; manual de literatura portuguesa.
7. Qualquer dos usos estéticos da linguagem: literatura oral
[p.v.] 8. Fam. Irrealidade, ficção: Sonhador, tudo
quanto diz é literatura. 9. Bibliografia: Já é
bem extensa a literatura da física nuclear. 10. Conjunto
de escritores de propaganda de um produto industrial.
(Dicionário
Aurélio Eletrônico)
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