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Interação entre genes e ambiente familiar afetando o comportamento violento:

Um estudo  publicado na revista Science em 2002 conseguiu revelar uma interação fascinante entre nossos genes e o ambiente em que somos criados. Os pesquisadores já sabiam que o gene chamado MAOA influenciava na produção de substâncias no cérebro de animais, substâncias que estavam ligados a uma maior ou menor resistência a situações de stress e agressividade nesses animais.

Animais que tinham uma variedade do gene MAOA mais ativo (high activity) tendiam a ser menos afetados pelo stress, enquanto que animais que possuiam um gene MAOA menos ativo (low activity) tendiam a ser mais afetados pelo stress desenvolvendo um comportamento mais irritadiço e agressivo .

Para testar se o mesmo gene tinha um efeito semelhante em seres humanos, pesquisadores utilizaram um estudo sociológico envolvendo 1.037 crianças que foram acompanhadas desde o nascimento até os 26 anos em uma comunidade de Dunedin na Nova Zelândia (ilha próxima da Austrália).

Nesse grupo de pessoas os cientistas fizerem testes para verificar se pessoas que possuíam a variante do gene MAOA  de baixa atividade (aquela que estava associado a um comportamento mais irritadiço em animais) tinham uma tendência maior a manifestar um comportamento anti-social e violento.

Além disso, os pesquisadores cruzaram os dados desses exames genéticos com as informações sobre o tipo de ambiente familiar na qual essas  1037 crianças haviam sido criadas. A partir dessas informações eles separaram os ambientes familiares em que as pessoas haviam crescido em 3 categorias: ambientes familiares sem maus-tratos, ambientes com alguma probabilidade de maus-tratos e ambiente com grande probabilidade de maus-tratos.

Os resultados encontrados pelos pesquisadores foram fascinantes. Como seria de se esperar, crianças que foram criadas sofrendo maus-tratos tiveram uma maior tendência de apresentar um comportamento anti-social quando adultos. Mas além disso, as crianças que possuíam a variedade de MAOA que estava associada a comportamento agressivo (low activity) tinham uma probabilidade maior de se tornarem adultos anti-sociais quando recebiam maus-tratos (fig 2).

Aparentemente a variedade "low" do gene MAOA diminui a capacidade do cérebro humano em resistir aos efeitos prejudiciais  de um ambiente familiar com maus-tratos e stress aumentando a chance de distúrbios futuros de personalidades nas crianças que os possuem.

Contudo a ação desse gene parece ser influenciada pelo ambiente já que pessoas portadoras desse gene não apresentam uma maior chance de desenvolverem comportamento anti-social se forem criadas em um ambiente sem maus-tratos (Fig 2).

Ou seja, não faz sentido afirmar que o MAOA é o "gene da agressividade", é melhor defini-lo como  um gene que em determinados ambientes aumenta a probabilidade de desenvolvermos esse  tipo de comportamento.

Trata-se de um exemplo importante para nos lembrarmos de que nem sempre a presença de um gene em nosso DNA  implica que iremos apresentar uma determinada característica. Muitas vezes, como no caso do MAOA, a característica pode surgir a partir da interação entre os genes e o ambiente em que vivemos.

Isso é muito importante já que embora não possamos escolher os genes que recebemos de nossos antepassados podemos tentar escolher os ambientes em queremos que eles se desenvolvam

Luiz Lopez

Se você deseja ver o artigo dessa pesquisa no original (em inglês) clique aqui    

 

       

 

 

 

 

 

Fig 1: Vista da cidade de Dunedin na Nova Zelândia onde foi realizado o estudo entre genética e ambiente familiar

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig 2: Efeitos de mau-tratos durante a infância (Chlidhood maltreatment, eixo x) sobre o comportamento anti-social dessas crianças quando se tornam adultos (Composite index of antisocial behavior, eixo y). Os indivíduos com a variedade de gene menos resistente ao stress (Low MAOA, linha escura) tendem a desenvolver maior comportamento antisocial do que os portadores da outra variedade do gene (High MAOA) quando submetidos a maus tratos durante a infancia (Severe). Na ausencia de maus tratos (None) o gene não tem efeitos sobre o comportamento.