DATA |
PUBLICAÇÃO |
AUTOR |
20.11.2005 |
Jornal Washington
Post |
J.
Freedom du Lac |
|
ARTIGO |
System
of a Down é uma banda de metal que pode dar o melhor deles
através de sua fúria. Mesmo assim aqui está Daron Malakian,
o principal arquiteto do som do grupo, movendo-se no camarim do
1st Mariner Arena, ombros caídos, rosto inclinado para baixo,
olhos desviados, como se ele fosse a pessoa mais tímida no edifício,
se não no Inner Harbor inteiro. Ele saúda um visitante, então
docilmente estende seu braço e ofereçe um aperto de mão
totalmente rock n roll, um tipo de peixe morto com dedos.
O assistente dele parece mais seguro do que o próprio Malakian.
O mesmo serve para os roadies do System, o empresário da
banda, a supermodelo namorada de Malakian, o motorista do
ônibus – até mesmo a mulher que vende cachorro quente com
permição que está lá em cima na multidão de fãs que formam
uma fila, onde o cabelo é longo, a testosterona é abundante e a
linguagem de traje clama por camisetas pretas celebrando esse deus
do trovão (Iron Maiden) ou esse (Metallica).
Oh, se ao menos as crianças beligerantes (que estão em
guerra) pudessem ver a nova divindade do metal, Malakian,
exatamente agora, nas entranhas da arena. O guitarrista do System,
algumas vezes vocalista e principal compositor, o homem por trás
da maioria das letras e melodias do quarteto armeno americano de
Los Angeles, sem falar um dos arranjos mais inconvencionais de
alcançar o topo da Billboard em anos - está sentado de
modo desleixado em uma poltrona, aparentado fragilidade, timidez e
nem um pouco preocupado. Falando de forma tão suave que é difícil
ouvir sua voz trêmula acima do zumbido do ar-condicionado, Malakian
fala da divisão de sua personalidade no System of a Down
quando está de folga.
"É loucura, como uma completa síndrome de
Jekyll-and-Hyde," ele diz, duas horas antes do System
entrar no palco para um set de arte, exclusivo hard rock que
despreza a definição limpa. Ele contrai os ombros quase de forma
apologética (se desculpando), então dá uma tragada em um
pequeno cano de vidro cheio de erva. "Isso é como Prozac pra
mim - torna as coisas menos desagradáveis," ele diz. Ele está
usando uma camisa que declara: "Drogas pesadas me tornam uma
pessoa melhor." Ele também está usando um alpargatas
(sapato tênis) metálico. Ele é pequeno e relativamente baixo,
com um rosto de menino com barba no estilo C. Everett Koop.
Nota: Síndrome de Jekyll-and-Hyde: pessoas acometidas por
essa síndrome, quando estão em público costumam ser alegres e
amigáveis, porém quando estam em lugares que não sejam públicos
mudam de comportamento com facilidade e apresentam uma atitude
negativa.
Enquanto Malakian possa parecer um homem que precise
de um livro de auto-ajuda, ou pelo menos de uma conversa energética
com Stuart Smally, ele não precisa de nada disso no estúdio ou
no palco, onde ele é destemido, insolente e confiante.
Observe-o mais tarde, nessa quente noite de agosto, como ele
grita no microfone, sua postura regular, seus olhos injetados de
sangue saltados com os de um inseto, enquanto ele olha ferozmente
para o público, que ele contraria com gestos obscenos, que nos cálculos
da música pesada, tem um jeito engraçado de fortalecer o vínculo
artista-fã. Os riffs de sua guitarra eventualmente alcançam uma
velocidade rápida (sem falar no volume destruidor) e têm o
efeito global de fazer o público entrar em frenesi,
particularmente no caldeirão de raiva e acotoveladas conhecido
com mosh pit (área em frente ao palco onde os fãs se colidem
intensionalmente durante o show). Até mesmo os fãs agitando a
bandeira da Armenia na zona verde de cadeiras reservadas não
podem ajudar apenas se movem com violência.
Uma atitude similar de escárnio ocorre nos álbuns de estúdio
do System of a Down, o mais recente deles, "Hypnotize,"
será lançado terça-feira. (É a segunda parte de um arriscado
álbum duplo que a banda dividiu em duas partes. A primeira,
"Mezmerize," foi lançada em maio.
"Eu não penso quando estou tocando," Malakian
diz. "As coisas só acontecem. Eu já até tirei a minha
roupa em um show. Mas eu sou tão tímido que eu não consigo
tirar a minha roupa no camarim mesmo que só os caras da banda
estejam comigo. É muito estranho."
Fato esse que resume muito bem o System of a Down.
Ainda que hard e heavy em sua essência, com um forte
fundamento político (Michael Moore dirigiu um dos vídeos da
banda), a música do System of a Down também é engraçada,
satírica e singularmente bizarra. O grupo, que lembra os Mothers
of Invention (grupo norte-americano fundado por Frank Zappa) no
Headbangers Ball (festival de música americano), tem uma queda
por cravar até mesmo em músicas mais pauleiras belas melodias
pop, famosas opera de circo, instrumentos do Oriente Médio e
Leste Asiático, sem mencionar as marcas de tempo que enganam,
progressões de acordes raras e vez ou outra, letras esquisitas
tal como "gonorrhea gorgonzola."
Uma experiência auditiva com o System pode ocorrer
assim: em um momento você está sendo socado pela velocidade dos
riffs de metal, um assalto furioso nos toques de bateria e gritos
de forma violenta sobre hipocrisia e guerra; no momento seguinte
você está cantarolando em um animado refrão de pop-reggae sobre
"going to the party" "ir para festa" (in the
desert) (no deserto) e "a real good time" "se
divertindo" (na guerra).
E mesmo assim, sem dar atenção a sua inerente bizarrice,
ou talvez por causa dela, esta canção, "B.Y.O.B." se
tornou um dos maiores hits de 2005 nas radio de rock.
"Nós ainda estamos tocando esse hit," Jim Foz,
diretor da estação KRXQ-FM em Sacramento, a respeito do single,
que o System apresentou em maio no "Saturday Night Live,"
somado a um expletivo processo na Tv ao vivo. "Eu acho que a
esquisitice é o maior atrativo da banda. Há muita mesmice (no
rock) .... System of a down realmente se sobressai pelo
fato de terem um som tão diferente."
A banda possue um dos sucessos mais inacreditáveis na música
popular, com dois álbuns consecutivos - "Toxicity" de
2001 e "Mezmerize" desse ano - estreiando na parada da
Billborad em primeiro lugar.
"Isso me assusta muito," Malakian fala sobre o
sucesso da banda. "Nos não fazemos músicas de fácil
entendimento, então é meio louco estarmos aqui."
Em uma entrevista separada, o vocalista principal, Serj
Tankian, diz: "Nos sabíamos que estávamos conectados
com nossa música. Do primeiro dia, até quando nos entramos em
uma tour ou assinamos nosso contrato, antes de Sugar, o primeiro
single da banda, de 1998, a música tocava as pessoas de uma
maneira honesta e crua. Mas não, eu não acreditava que nos alcançaríamos
esses números."
Tankian e Malakian formaram o System em
1995 com o baterista John Dolmayan e o baixista Shavo
Odadjian. Eles eram quatro caras com seus 20 anos e poucos
anos de idade com interesses musicais muito diferentes (Depeche
Mode, Chet Baker, Christopher Cross, Madonna, etc.), mas
compartilhavam do mesmo amor pelo hard e heavy rock.. Enquanto a
banda estava tendo suas primeiras experiências no circuito no sul
da Califórnia e observando outras bandas com sucesso local menor
conseguindo contratos gordos, o System of a Down estava,
segundo Malakian, sendo informados por diversos empresários
que, para alcançar o sucesso, a banda precisava (a) de um novo
vocal principal e (b) hits pop mais potentes, mesmo sendo (c)
quase impossível colocá-los no mercado de um público composto
por metal branco porque (d) os músicos eram, você sabe, muito
armenios e (e) muito estranhos, de qualquer forma.
Por fim, o System assinou com o lendário produtor
Rick Rubin, e a banda, fez a maio estréia desse selo na sua
American Recordings. Os operadores da indústria da propaganda na
Columbia, que distribuem American Recordings, lançaram a banda
como grupo de nu-metal. O rótulo não fez muito sentido, uma vez
que o System não possuía o mesmo estilo que Deftones e
Tools do mundo. Mesmo assim, o rótulo errôneo talves tenha sido
uma benção para a banda, diz Brad Tolinski, editor da Guitar
World.
"Esses caras foram agrupados com bandas como Korn e
Limp Bizkit, e eles foram capazes de se esquivar por baixo do
arame devido a estas combinações, embora eles não tivessem um
som parecido com o deles," ele diz. E quando o nu-metal foi
varrido, System of a Down ainda estava de pé. Foi um
truque perfeito. Eles eram claramente capazes de criar sua própria
identidade e um som único.
"Isso é o que o System não é, diz Tankian:
"Nós não somos o Rage Against the Machine armenio. Sim, nós
temos algumas músicas políticas, mas a maioria de nossas músicas
é sobre amor e vida e sexo e origias de pogo-stick e tudo isso.
Há também registros sobre o significado das músicas do System,
entre outras coisas, o Genocídio Armeno ("P.L.U.C.K" e
"X" ), lavagem cerebral da mídia ("Violent
Pornography), pena por posse de drogas ("Prison Song"),
desordem policial ("Deer Dance"), guerra
("Cigaro") e Tony Danza ("Old School
Hollywood").
Nenhuma dessas vai fazer com que alguém consigua uma descrição
perfeita e eficaz do que seja lá o que for que o System faça.
Eu já ouvi nos chamarem de malucos,estranhos e banda político-armena,"
Tankian explica. "Eu acho que daqui a 10 anos eu vou
ficar com a última opção."
Malakian diz: "Eu já gastei muito tempo
tentando explicar minha música. Se você perguntar a seis pessoas
diferentes,você terá seis respostas diferentes."
E sim, isso é uma coisa boa: "Mezmerize" é um
dos mais originais, valentes, urgentes, cativantes e interessantes
lançamentos de hard-rock. É tudo isso, e isso é bom, clicando
em ambos um nível emocional e intelectual. Pauleira primeiro,
podenrado depois. Ou vice versa.
"Eu não acredito em música de homem racional," Tankian
diz. "Eu acredito em música que seja institiva. Quando as
pessoas ouvem música, elas não pensam; elas sentem. Você não
necessita concordar com a premissa de uma música antiguerra como
B.Y.O.B, mas você deve associar à sátira e ao poder da música."
Tankian é tudo e nada do que você espera que um
deus do rock seja. Ele tem um cabelo fabuloso que causaria inveja
a Robert Plant, e ele é um vocalista carismático, com uma voz
selvagem e uma magnética presença de palco. Ele também é
reflexisivo, cheio de sentimentos, espiritual, sofisticado,
elegante e sincero (sem mencionar político, uma vez que ele tem
uma parceria com o guitarrista do Audioslave e ex do Rage Against
The Machine, Tom Morello em uma organização ativista de orientação
a juventude, Axis of Justice (Eixo da Justiça). Mas Tankian
toca guitarra imaginária no meio das músicas (que é tão idiota
e sem graça que se torna de certo modo maneiro), e ele tem a audácia
de sorrir cordialmente para a câmera durante as seções de
fotos, uma nítida violação a um do mais importantes mandamentos
do rock: Não Mostarás os Dentes (A não ser para fazer caretas).
"É uma escolha," ele diz. "Eu tenho muitos
fotógrafos que dizem, Ok, agora me mostre a sua expressão de
malvado. Isso me quebra. O que isso quer dizer? Por que nosso tipo
de música, seja ele qual for, deveria ter algum tipo de expressão
de malvado associado a ele? Por que a música pesada não pode ser
positiva e alegre? Eu quero dizer, eu riu muito e sorriu por toda
parte; é assim que eu sou. Isso não significa que eu não fique
sério ou perca a concentração durantes os shows. Mas nós não
podemos levar isso tão a sério. É apenas música e vida."
Para Malakian, essas coisas são exatamente a mesma coisa.
Rubin o chama de "uma pessoa e um artista especial", mas
o produtor também disse que Malakian vive em um bolha
cheia de música, que ele não tem muita vida fora de sua arte.
Enquanto os seus 3 colegas da banda estão em uma condição
relativamente melhor com hobbies e interesses de ação social até
mesmo passam o dia do show do Baltimore vadiando por Nova York, Malakian
chegou na arena com quatro horas de antecedência e comeu cachorro
quente e Doritos e conversou com sua namorada e com a equipe da
banda e falou, falou sobre música, que é a sua rotina usual na
estrada. Em casa no sul da Califórnia, onde o seu único hobbie
de verdade, segundo ele, é colecionar coisas efêmeras (que dura
pouco) de Charles Manson e crânios e esqueletos humanos e de
animais, sem o público e talves sem a namorada, que mora em
Manhattan. "O que o Rick disse sobre mim, ele não está
completamente errado," diz Malakian, que cresceu em
uma rua miserável em Hollywood, o filho de pais artistas. (Sua mãe
é escultora e seu pai é pintor e um eventual colaborador do System,
tendo criado a arte de capa de "Mezmerize" e
"Hypnotize") "Muitas pessoas podem ver isso e dizer
que provavelmente eu seja deprimido. O que não é o caso. Quero
dizer, eu fico deprimido às vezes, mas não é isso o que me
mantem em casa ou focado no trabalho.
"Eu sou uma pessoa realmente religiosa quando se trata
do que eu faço. Eu faço música, eu passo muito tempo focado
nisso. Eu começei a colecionar álbuns quando eu tinha quatro
anos. Foi algo que me escolheu, eu não escolhi a música."
Apesar de observadores casuais frequentemente pensarem que
Tankian é a principal força criativa do System, pelo fato
dele ficar na linha de frente e no centro, é na verdade Malakian,
que é algo como Pete Townshend (Guitarrista e compositor do The
Who) para o Roger Daltrey (vocal do The Who) de Tankian
(mesmo que Tankian escreva algumas músicas do System.).
E, de qualquer jeito, os holofotes começam a mudar de direção:
Malakian se auto proclama como tendo uma enorme função no
"Mezmerize" e "Hypnotize," cantando mais e até
tocando um pouco de baixo nos dois álbuns.
Essa nova proeminência de Malakian tem se
diferenciado em algumas letras entre os fãs da banda. Para que o
homem mesmo diga: Oh, para logo com isso. "Minha contribuição
para o System tem sido exatamente a mesma em 10 anos,"
Essa é uma banda de rock de quatro partes, e eu sou o
guitarrista. Eu também escrevi muitas melodias e letras em nossas
antigas músicas, e eu estou cantando um pouco mais. Mas agora as
pessoas agem como: Por que Daron está cantando mais nesses
álbuns, isso significa que Daron e Serj não estam
se dando bem? Esse não é o caso.
"Essas são pessoas que não conhecem nossa história.
Quando nós começamos, Serj era o tecladista e eu era o
vocalista. Mas eu não queria ser o vocalista da banda. Esse não
é o meu show, entende? ... Essa é simplesmente uma progressão
natural para a banda. Não quer dizer que eu não queira que
(expletivo) Serj não cante mais e nós nos
separemos." Aqui Malakian dá uma gargalhada. Não é
um riso nervoso. Foi só uma coisa engraçada que passou pela cabeça
dele, ele diz, de uma vida sem o System of a Down.
"Isso é uma famíla," ele diz. Isso é um cliche,
mas ele tem uma questão a discutir. "Claro que nós ficamos
irritados uns com os outros. Nós brigamos fisicamente. E eu acho
que muitas coisas que aconteceram entre nós poderia causar a
separação de outras bandas. É onde ser Armenio está envolvido
na música, porque isso nos faz sentir como uma família. Nós
vemos que estamos em uma situação única. Nenhuma outra banda
Armênia fez isso antes. Esse orgulho Armenio nunca se acabará,
mesmo que um dia nós acordemos odiando uns aos outros. O que não
é caso.
Tankian concorda: "Nós todos somos muitos diferentes,
mas nossa similaridade cultural tem nos ajudado a permanecer
juntos".
Mas ou menos 30 minutos se passaram desde que Malakian
se trancou no camarim da banda, onde os sapatos e meias e camisas
estam expostas, e as águas engarrafadas estão organizadas em
pares. Ele esteve fumando desde que entrou na sala, e finalmente
começa a relaxar e surgi de sua concha.
Ele está contando piadas sobre sua inviável atração por
disco e por Dire Straits (donos da música "Sultans of
Swing" que ele cantará mais tarde no show), e ele está
lembrando de como ele recentemente apartou fãs do Atlanta Braves
(time de baseball) em um jogo dos Dodgers (outro time de
baseball), e ele não tem nada a ver com a falta de alegria que
ele tenha uma das piores dietas possíveis para alguém com um
chefe de cozinha pessoal ao seu dispor.
Quando o seu assistente entra na sala numa missão de
salvamento, Malakian o expulsa. Ele tem muita coisa pra
dizer. Mas ele nunca cita o tipo de agressão ou raiva ouvida em
sua música. Em menos de uma hora, quando o pé de um visitante
bate na mesa de café, fazendo com que a tampa voe em cima de
algum tipo crânio cerâmico de enfeite. Ele se quebra em várias
partes, Malakian cata uma delas. Ele a examina, sua cabeça
virada para a esquerda. Ele olha você nos olhos enquanto ele
comunica o seu veredito: "Eu não sei o que (expletivo) essa
coisa é, em todo caso. Eu acho que eles pensaram assim, Ei, Daron
gosta de crânios. Deixe vários crânios aqui! Então quem se
importa? Eu não!"
Ele gargalha, e então dá outra tragada. |
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