Quem é essa mulher? Até o dia 14 de janeiro ela era uma pacata paulista de 45 anos,
residente na Califórnia, separada, mãe de três filhos. Ah, e nas horas vagas é "a
big Mama" do roqueiro Axl Rose, líder dos Guns N Roses. Ao ser homenageada no show
da banda americana no Rock in Rio, Elizabeth Lebeis, carinhosamente apelidada de
Beta, transformou-se numa celebridade.

O assédio é enorme, sua foto está estampada nos noticiário das principais publicações
do país. Corremos atrás também. Mas para uma entrevista diferente. No papo, num bar do
hotel Intercontinental, a "Big Mama" fala sobre sua vida afetiva, seus filhos e revela
que Axl é um eterno romântico. Tão apaixonado que na época em que separou da modelo
Stephanie Seymour, o vocalista "foi até a casa dela, de terno, montado num cavalo
branco, levando flores".

Drogas, rock'n roll, depressão, aborto, abuso sexual e brigas entre Axl Rose e o
guitarrista Slash também foram abordados pela divertida Beta.
 
 

Axl Rose por Beta

BM - O Axl te considera mãezona. Você adotou mais um filho?

BL- Sou mãezona. De acordo com ele, eu sou a mãe que ele nunca teve. Ele ficou
impressionado pelo jeito que crio meus filhos, a preocupação... Ele nunca teve isso.
Ele me chama de Beta e, de vez em quando, de mama.
 

BM - Mama?

BL- Sempre faço comida e levo pro estúdio, faço tortas, bolos...Ligo antes do show pra
desejar "boa sorte". Acendo vela pra eles. É como se fosse a mama do grupo todo.

BM - E ele já compôs algo em tua homenagem?

BL- Não sei, acho que não (risos). Ele diz que uma das novas músicas é para mim e minha
família.

BM - Quando o Axl saiu de casa?

BL- Ele saiu de casa muito novo, o padrasto batia muito e chegou a abusar sexualmente.
Isso fez com que ele ficasse tímido. Acho que ele saiu, não tenho certeza, de Laffayette
aos 14 ou 15 anos. Agora ele tem 38 anos.

BM - E ele veio descobrir o carinho materno agora.

BL- Não que ele não tivesse nada contra a mãe dele, a única coisa que ele não entende é
porque ele não recebeu a proteção materna e isso ele vê no meu relacionamento com meus
filhos. Hoje ele entende que mãe tem que proteger e ele nunca se sentiu protegido.

BM - E isso o influenciou muito?

BL- Acho que todos somos um reflexo de como somos criados, de como é nossa família dentro
de casa, da relação dos nossos pais. Nós somos um espelho de nossa família. A base vem da
nossa casa e ele não teve isso. É mais difícil esse sentimento na cabeça de um adulto. Na
época do crescimento, você cresce vendo esse exemplo no dia-a-dia, aquele carinho, beijo
de boa noite... Ele nunca teve disso. Então, ele não sabe mostrar um carinho. É muito
difícil passar isso para um adulto, entende?

BM - E a música dele reflete essa carência.

BL- Totalmente. As antigas têm aquela raiva. Nas novas isso não é tão presente.

BM - E ele tem algum contato com a mãe?

BL - Ela faleceu há 5 anos.

BM - Quem mora com ele em Malibu, o balneário elegante perto de Los Angeles?

BL- Moro eu e ele. O meu filho mais novo fica de vez em quando lá e de vez em quando na
minha casa. Eu também tenho uma casa na Califórnia, num outro bairro. Mas, fico direto na
casa do Axl.

BM - Sinto que você é uma governanta da vida dele. Você coordena tudo?

BL- (risos) Acho que essa palavra é mais apropriada porque todo mundo pergunta "o que você
faz?". Bem, eu sou secretária pessoal dele, né? Aí tem a parte da casa, organizo tudo,
coordeno os funcionários, os jardineiros.

BM - E a carreira? Você dá palpite?

BL- Dou palpite quando ele pergunta, né? Ele aceita muito a minha opinião, entende? Eu
nunca olho só pro lado ruim. Tento olhar para todos os ângulos da pessoa. Você tem que
olhar 360 graus, sempre tem um lugarzinho que tem alguma coisa boa na pessoa. Então, se
ele vai fazer um contrato ou algo com a banda nova, a decisão é dele. Ele me pergunta o
que eu acho ou não acho. Ele quer saber se ele deve fazer isso, se ele está puxando
muito...Pergunta se ele está sendo injusto. Ele é uma pessoa preocupada em ser justo.
Ele não gosta de fazer nada que não seja certo. Ele quer fazer as coisas tão certas
porque ele fica tão preocupado o que vão falar dele, ele quer que tudo seja certinho.
Eu acho, então, que eu o influencio bastante. Fico meio preocupada com isso porque acho
uma responsabilidade muito grande. Fico meio com medo.

BM - Como você entrou na vida dele?

BL- Eu comecei como babá do filho da Stephanie Seymour. Ela era modelo da cadeia de lojas
de lingerie Victoria's Secret. Isso foi há 11 anos atrás. Eu comecei a trabalhar com a
Stephanie em fevereiro e, em maio, ela começou a sair com Axl. Parece que a gente teve
alguma coisa anteriormente.

BM - Você acredita em vidas passadas?

BL- Eu acredito e ele também. Como brasileira, acredito nisso. Acho impossível uma pessoa
 que nunca conheceu ele antes ter sentido tanta afinidade. Não sei o que houve assim que
abri a porta para ele. Parece que já conhecia ele há muitos anos.

BM - Você sabe o que o Axl diz do Queen?

BL- Ele tem loucura. O Queen é a banda favorita dele. O Freddie Mercury gostava muito do
Axl. O Axl, inclusive, fez uma homenagem ao Freddie no segundo Rock in Rio. O Axl continua
amigo do Brian May, ele tocou guitarra numa das músicas do Axl do novo disco.

BM - Aí você ficou com o Axl após a separação?

BL- Ele pediu para ficar comigo na época em que houve a separação. Mas eu era babá do
menino e fiquei preocupada. Ele já tinha dois anos e a Stephanie estava sempre viajando,
nunca parava em casa.

BM - E qual o motivo da separação do Axl e Stephanie?

BL- Houve a separação porque ela traía o Axl com muita gente e ele, no final, descobriu.
Ele tinha loucura por ela. Aí ela mudou para Nova York e o Axl me chamou para trabalhar
com ele. Aí eu aceitei porque, entre os dois, nunca na minha cabeça teve dúvida como
pessoa, ele ganha de 100 a zero. Mesmo sendo homem e tudo. A nossa amizade é
impressionante, ele é uma pessoa em quem eu confio. O que ele é na minha frente, ele é na
minhas costas. Já a Stephanie era comigo uma coisa e na minhas costas não era a mesma
coisa. Ele me dá muito mais valor que ela.

BM - Fale da fase de depressão dele.

BL- O Axl é uma pessoa que quer fazer as coisas certas. Eu acho que ele foi aquele namorado
que toda mulher gostaria de Ter tido, como um príncipe encantado. As coisas que ele fazia
para ela era uma coisa que você só lia em livro de história.

BM - Então ele era um amante à moda antiga?

BL- Nooooossa Senhora, impressionante, entende? Vamos supor, na época que teve a separação,
ele foi até a casa dela, de joelho, de terno branco, num cavalo e levando flores... Eu digo
assim, as coisas que ele fez pra ela eu só li em livrinhos de história. Isso não existe na
vida real. Ele, na minha cabeça, é o sonho que muita mulher gostaria de ter. Eu jamais
deixaria escapar uma coisa dessas. A Stephanie, como é bonita e sexy, ela tem qualquer
homem que ela queira ter. Ela faz os homens de brinquedo. Sabe uma criança que ganha um
brinquedo novo? Ela brinca e depois não quer mais, fica cansada e resolve trocar. Sempre
falei para ela que ela atingiria o Axl mais do que ela imagina. Os outros rapazes que ela
saiu talvez não tenham tido o sofrimento que o Axl teve na vida dele, entende? Então, por
isso ele sofre tanto. Ele queria fazer as coisas tão certas e ele achou que estava fazendo
tudo certo. Ele levou muito a sério. Ela praticamente matou ele. Quando o grupo terminou,
ele achou que teria a família dele, casaria, teria filhos... Achou que seria a segunda
fase da vida dele, ele já tinha trabalhado tanto para ter dinheiro e aí ele dedicaria à
família. O sonho dele é ter uma família, filhos. Ter aquilo que ele nunca teve. Eu acho
que com meu envolvimento com ele, ele começa a acreditar que ele realmente tem alguém que
se preocupa, que se dedica e que realmente goste dele. No caso, quando ele fala em relação
a mim, a gente tem as nossas diferenças, diferenças de opiniões ou criação. E eu sou muito
paciente, sabe? Eu tenho confiança nele e ele não tinha confiança nele. É muito mais
difícil você por isso num adulto que numa criança. Eu não sou psicóloga. Ele precisa de
uma pessoa que escute o que ele tem pra falar e é o que eu faço. Nossa relação é como
amiga, quando tenho que ser amiga, e funcionária, quando tenho que ser funcionária. Eu
não misturo as coisas. Na hora que sou funcionária e tenho que trabalhar, eu não misturo
aquela amizade que nós temos. Eu não tiro proveito da nossa relação. É um respeito mesmo
como meu patrão. Há o relacionamento profissional.

BM - E ele está contente de ter tocado para 200 mil pessoas?

BL- O sonho dele era voltar ao Brasil. Quando nos conhecemos, a primeira conversa que nós
tivemos foi sobre o Brasil. Ele falando das favelas, das doenças e do sonho de montar uma
clínica onde ele possa tratar gratuitamente de pessoas carentes.

BM - No Brasil estou percebendo que a nova geração está ligada à banda.

BL- Demais, é impressionante. É isso que nós estamos surpresos. Essa geração não fez parte
dos Guns N'Roses mas são loucos por causa deles.

BM - Como vai estar o novo CD do grupo?

BL- Maravilhoso. Eu sou emocionalmente conectada com eles mas acho que vai ser um
espetáculo. Será lançado em junho ou julho. São 48 músicas e a gravadora está selecionando
as músicas.

BM - Axl está fora das drogas?

BL- Ele não faz uso. Eu já conheço Axl há dez anos. Trabalho com ele há quase sete anos e
meio, nada. Não tem drogas, nunca. Parou de fumar também. Absolutamente nada.

BM - Bebida?

BL- De vez em quando um drink.

BM - No Brasil o jovem é preso se for pego com maconha em compensação se beber um litro de
cachaça não acontece nada. Nos Estados Unidos, não acontece muita coisa se o adolescente
for pego com maconha. O que você acha disso? Existe uma certa demagogia?

BL- Sou contra droga, seja ela qual for. A bebida é tão ruim quanto a maconha, está
entendendo? Eu não acho certo. Acho que, tanto para um quanto para outro, deveria existir
uma equivalência. Ingerindo bebida, você pode atropelar, matar alguém ou entrar numa briga.
Você não tem controle na tua mente. Acho que existe uma demagogia. Para mim, é uma
palhaçada.

BM - Você deve ter tido contato com gente que se viciou em heroína. Largar é algo difícil?

BL- Olha, eu nunca vi. Ele não admite nem na casa dele, nem no grupo dele, nada. Nem fumar
é permitido dentro do estúdio, ninguém fuma perto dele. Você tem que sair para fumar. Olha,
eu nunca tive ao redor de ninguém que esteja na ação das drogas no momento, comigo.

BM - Tem estúdio na casa de Malibu?

BL- Tem.

BM - A droga não foi motivo de uma briga entre ele e o Slash?

BL- Não houve uma briga. O problema ali era o seguinte: o Slash, na época, ele disse que já
tinha o novo disco do Guns N Roses, que seria o próximo, né? O "próximo" é o disco que ele
lançou agora que foi um horror. Os dois últimos Cds do Slash foi um horror. O Axl queria
fazer uma coisa mais avançada pra nova geração. Você não pode ficar na mesma coisa, no
mesmo tipo de música que ele tocou há 15 anos atrás.

BM - Dá para sentir um negócio eletrônico nessas músicas novas.

BL- No ano que estamos, 2001, a música é mais eletrônica. Embora o disco não seja todo
eletrônico. Tem, sim, mais coisa eletrônica agora que há 15 anos atrás. O Slash queria
ficar na mesma coisa. E depois teve o motivo das drogas. Ele nunca podia contar com Slash.
Por exemplo, o Slash não aparecia nos ensaios, não tava bem. O baterista estava bêbado.
Não dava certo.

BM - O Axl tem uma disciplina hoje?

BL- Nós temos uma nutricionista que desenha a nossa alimentação. O Axl faz ginástica todo o
dia, ele corre na faixa de três a cinco milhas num intervalo de um dia. Os exercícios dele
duram na faixa de três a quatro horas. Ele não é uma pessoa que sai. Nós vamos muito ao
cinema, sabe? Ele adora ver filme. Ele não gosta de bares.

BM - E ele dorme tarde?

BL- De acordo com a avó dele, ele nunca foi uma pessoa de viver durante o dia. Ele escreve
muito à noite. Não tem telefone, interrupção. Essa é a hora em que ele é mais criativo.

BM - A avó dele ainda é viva?

BL- A avó materna ainda é viva. Ele nunca conheceu o pai. Ele acha que nunca foi protegido
por ninguém da família dele. Ele tem uma mágoa muito grande. A irmã dele foi estuprada pelo
padrasto e a mãe continuou morando com o padrasto. Ninguém fez nada. A avó também não fez
nada.

BM - E o que ele gosta de comer? Feijoada?

BL Ele agora já não come mais por causa da dieta dele. Ele come muita comida saudável:
peito de peru, peito de frango, muita salada, muita água... Ele também gosta muito da
comida brasileira. Ele experimentou até couve e gostou.

BM - Qual idade do seus filhos?

BL - 24, 23 e 22 anos.

BM - Você educou as crianças sozinha?

BL- Eu me separarei há 15 anos. Praticamente criei meus filhos sozinha.

BM - Você é do tipo de mãe protetora?

BL- Bastante protetora (risos). Até demais. Não devia ser tanto.

BM - Você é uma mãe roqueira? Estou vendo uma tatuagem, você tem um estilo despojado.

BL- (risos) Não fui hippie. Bom, assisti ao primeiro Rock in Rio, foi por causa do Queen.

BM - Você era secretária antes de mudar para os Estados Unidos?

BL- Trabalhava na Quaker, em Itajaí, Santa Catarina. Era secretária da gerência. Mudei para
os Estados Unidos porque a situação no Brasil estava difícil e eu era separada com três
filhos. Pensei que não daria para criar meus filhos do jeito que eu queria se ficasse no
Brasil. Eram três crianças. Juntei dinheiro e fui embora sozinha. Deixei os meninos com
minha mãe. Fui trazendo um por um.

BM - Foi com a cara e a coragem?

BL- Exato. Vendi tudo o que eu tinha pra não voltar. Depois de um ano, levei um, depois
levei outro e, finalmente, levei o outro.

BM - Você falou que está todo mundo te ligando. O que você está achado desse assédio?

BL- Eu não achei que fosse acontecer. Estou traduzindo as coisas pro Axl, entende? De
repente, ele volta de novo e me chama. Pensava que ele iria agradecer ao público, aí quando
ele falou: "há sete anos.." eu comecei a engasgar, não saía mais nada. Fui me afastando
quando o empresário dele me empurrou pro palco, né? Aí eu traduzi tudo errado, já vi que
não saia nada. A coisa mais difícil é traduzir alguém falando de você. Não saía nada. Eu
sei que saiu tudo errado, eu estava nervosa. Não tem como explicar o que passei naquela
hora. Para enfrentar aquele público todo...

BM - O que você não pode deixar de carregar na tua bolsa?

BL- O celular e o pager. Não saio sem saber que ele possa entrar em contato comigo a
qualquer hora. Batom também.

BM - Fale de tua vida afetiva.

BL- Morei 12 anos com o pai de meus filhos, em Santos. Nos últimos quatro anos de
relacionamento, não sabia que ele tinha casado com outra pessoa. Foi um choque muito
grande. Hoje ele é dono da Santos Nave, uma companhia de navegação. Sofri muito com a
primeira família dele. Fui embora para os Estados Unidos, me casei novamente com um
americano. Depois de seis anos, ele viu que ainda não estava preparado para ficar casado.
Ele não soube falar que não estava preparado para uma relação, então, ele arrumou as coisas
no carro e foi embora. Foi assim a minha segunda separação. Eu me apego muito, me apaixono,
quero que dê tudo certo e depois eu sofro muito. Agora acho que tenho uma meta; ou eu
termino minha missão com meus filhos ou não faço nada. Eu estou com medo de me envolver
novamente e me machucar. Coloquei uma barreira na minha vida afetiva, não tenho ninguém,
só trabalho e cuido dos filhos.

BM - E você se dedica aos amigos?

BL- Os amigos do Axl são todos minha família. Tanto que a banda me chama de "Big Mama"
(grande mamãe)

BM - Você vem sempre ao Brasil?

BL- Há seis anos que não visitava o Brasil.

BM - Qual sua opinião em relação ao aborto?

BL- Olha, eu sou a favor ao aborto. É necessário em certas situações. Você é contra?
 


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