Qual seria o problema de Marilyn Manson, tirando suas roupas esquisitas,
suas músicas polêmicas, seu relacionamento com Rose McGowan,
uma péssima atriz que insiste em estar nos shows mais importantes
só para aparecer?
Se você perguntar ao roqueiro magricela vestido de preto,
tudo isso nem se compara ao inferno que ele está vivendo neste último
ano.
Na noite de lançamento da turnê "Guns, God, and Government",
Manson, 31 anos, estava no camarim do Orpheum Theatre, em Minneapolis,
quando concedeu uma entrevista coletiva a uns 20 jornalistas que disputaram
uma credencial para ouvir o desabafo da estrela. Para um auto-entitulado
astro anticristo, ele mais se parece com um bichinho acuado do que com
aquela pessoa extravagante que rasga o verbo sobre política, filosofia
e a influência da mídia, aparência esta que o forçou
a dar um tempo após o massacre da Escola Columbine.
O último álbum de sua banda, o Holy Wood (In the
Shadow of the Valley of Death), segundo ele, é uma resposta direta
àqueles que tentaram derrubá-lo sem motivo. Neste álbum,
ele faz comparações entre ele mesmo e mártires populares,
tais como Jesus Cristo, John Kennedy e John Lennon.
É verdade que você se isolou num sótão
por três meses enquanto produzia este álbum?
Marilyn Manson: Com certeza. Eu precisava refletir muito após o
triste episódio de Columbine. Muitas pessoas fecharam a porta na
minha cara. Também tive muita ajuda nessa época. Após
esse acontecimento, eu passei três meses isolado só escrevendo
e o resultado foi este álbum, chamado Holly Wood, que será
minha volta por cima. Foi uma experiência terrível. Posso
dizer que eu renasci.
Você não saiu de casa nenhuma vez?
Algumas vezes, eu saía sem rumo, a única coisa que eu
levava comigo era a presença da morte. Eu não tinha certeza
se estava seguro, pois havia várias pessoas que queriam me condenar
por algo que eu não fui responsável. O motivo principal de
nós termos parado com a turnê, foi a nossa segurança
e a de nossos fãs. Houve muitas ameaças de morte e eu não
queria que ninguém saísse machucado.
Você acha que vestindo jeans e camiseta as pessoas iriam reconhecê-lo?
É claro que não, eu nunca iria mudar meu estilo para
agradar alguém. Eu não queria ver o mundo. O que eu queria
era transformar algo negativo em algo positivo. Então, para mim,
o fato de eu ter composto pra caramba, foi uma ótima experiência.
Mesmo se sua vida desse uma virada, você não mudaria sua
maneira de vestir?
Eu não gostaria de mostrar quem eu sou realmente a ninguém.
Você acredita que, depois de tudo o que aconteceu em Columbine,
as pessoas possam estar com medo de te ver novamente?
Eu acho que alguém tinha que ser bombardeado . Foi no final
dos anos 90, mas foi como no final dos anos 60. A mídia se utilizou
do episódio de Columbine para poder tornar Manson um assassino,
então, eu era o que mais aparecia na televisão, pois eu tinha
cara de alguém que fosse culpado. A mídia está vendendo
pavor, principalmente por meio da televisão, pois as pessoas gostam
de assistir a desgraça alheia, por isso compram tudo o que passa
nos intervalos comerciais. Eu sou um exemplo de bom garoto que espalha
o terror.
Segundo eles, o principal motivo de minha acusação, foi
o fato daqueles garotos serem meus fãs. O que é mentira.
Mesmo se eles fossem, ainda não haveria razão para me colocarem
como principal responsável do caso. Eu não quis falar com
ninguém, pois eu achei que isso acabaria piorando a situação.
Se os EUA ouvissem o que aqueles garotos tinham para falar, ao invés
de dizerem o que falar, coisas desse tipo não aconteceriam. Foi
o que eu tentei fazer com a música, pois a música não
julga ninguém.
Mas, isso não é um tipo de auto-defesa, o que faz com
que o caso Columbine seja comentado em toda entrevista que você faz
sobre este álbum?
As pessoas estão sempre querendo trazer isso à tona e
eu estou simplesmente rebatendo o que você disse. E é assim
que as coisas funcionam. Este é um momento importante da história,
assim como qualquer outro acontecimento chocante. Assim como o assassinato
de Kennedy, os assassinatos de Manson, a crucificação de
Cristo. Qualquer uma destas coisas. Isso leva a América a uma reavaliação.
Infelizmente, uma parte importante do tema deste álbum é
o fato das pessoas quererem reavaliar a moral, querendo levar tudo na brincadeira.
Parece que você tem algo importante a dizer, mas ninguém
vai levá-lo muito a sério, por causa do jeito que você
fala. Você gosta de ser do contra?
Absolutamente. Eu não vejo meu trabalho num sentido restrito.
Eu não o vejo somente como fazer música ou pessoas ouvindo
música. Eu tento olhar como se eu estivesse num caos, como se eu
estivesse no meio de um tornado, por exemplo. E isso é essencial
numa cultura pop. Eu acho que todas as artes têm que ser do mal para
inverter as coisas e fazer com que as pessoas as enxerguem diferente. Quando
eu dou por mim e percebo minha criação, vejo que ela não
é somente um álbum ou um vídeo, mas sim como ela vista
no mundo inteiro.
Cada pessoa tem sua teoria, mas qual a coisa mais diabólica
sobre Marilyn Manson?
Eu simplesmente não consigo admitir definições
de deus ou demônio que me são atribuídas. Apenas aponto
coisas que estão relacionadas com o bem ou com o mal. Mas se você
procurar a definição correta no dicionário, verá
que a arte tem que ser diabólica e os artistas devem ter um pouco
de mal dentro de suas almas. Isto não significa que você deva
ser uma má pessoa, mas significa que você seja reprovado por
qualquer religião. A arte é um polo oposto à religião.
Eu estudo muito filosofia e procuro manter minha mente sempre aberta, não
caindo em falsos dogmas. Como minha mente é aberta, consigo abrir
a mente de outras pessoas também.