Letras das Musicas

HÁ TEMPOS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade. 
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão. 
E o descompasso e o desperdício 
herdeiros são agora da virtude que perdemos.

Há tempos tive um sonho. 
Não me lembro não me lembro.

Tua tristeza é tão exata.
E hoje o dia é tão bonito.
Já estamos acostumados. 
A não termos mais nem isso.

Sonhos vem. E sonhos vão. 
O resto é imperfeito.

Disseste que se tua voz tivesse força igual
A imensa dor que sentes 
Teu grito acordaria não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira. 

E há tempos nem os santos 
Tem ao certo a medida da maldade. 
E há tempos são os jovens que adoecem. 
Há tempos o encanto esta ausente.  
Há ferrugem nos sorrisos. 
E só o acaso estende os braços
A quem procura abrigo e proteção.

Meu amor, 
Disciplina é liberdade. 
Compaixão é fortaleza.
Ter bondade é ter coragem.

E ela disse: - lá em casa tem um 
poço mas a água é muito limpa.




PAIS E FILHOS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Estatuas e cofres. E paredes pintadas. 
Ninguém sabe o que aconteceu. 
Ela se jogou da janela do quinto andar. 
Nada é fácil de entender.

Dorme agora. 
É isso o vento lá fora.
Quero colo. Vou fugir de casa. 
Posso dormir aqui com vocês? 
Estou com medo. Tive um pesadelo 
Só vou voltar depois das três.

Meu filho vai ter nome de santo. 
Quero o nome mais bonito.

É preciso amar as pessoas como se 
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar, 
Na verdade não há.

Me diz porque o céu é azul. 
Explica a grande fúria do mundo. 
São meus filhos que tomam conta de mim. 

Eu moro com a minha mãe 
Mas meu pai vem me visitar. 
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar. 
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais. 
Eu moro com os meus pais.

É preciso amar as pessoas como se 
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar, 
Na verdade não há. 

Sou uma gota d'agua
Sou um grão de areia. 
Você me diz que seus pais não entendem. 
Mas você não entende seus pais.

Você culpa seus pais por tudo.
E isso é absurdo.
São crianças como você
O que você vai ser, quando você crescer? 


FEEDBACK SONG FOR A DYING FRIEND
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Soothe young man sweating forehead
Touch the naked stem held hidden there
Safe in such dark hayseed
Wired nest

Then, his light brown eyes are quick
Once touch is what he thought was grip

This is not his hands
Those there but mine
And safe my hands
Do seek to gain
All knowledge of
My master's mainly rain

The scented taste
That stills my tongue
Is wrong that set
But not undone

His fiery eyes
Can slash my savage skin
And force all seriousness away

He wades in close waters
Deep sleeps alter his senses
I must obey my only rival
He will command our twin revival

[arabian interlude]

The same,
Insane
Sustain
Again

The two of us so close to our own hearts
I silenced and wrote this awe 
Of the coincidence




QUANDO O SOL BATER NA JANELA DO TEU QUARTO
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Quando o Sol bater na janela do teu quarto
Lembra e vê que o caminho é um só.

Porque esperar se podemos começar tudo de novo. 
Agora mesmo. A humanidade é desumana. 
Mas ainda temos chance. 
O Sol nasce pra todos. Só não sabe quem não quer.

Quando o Sol bater na janela do teu quarto. 
Lembra e vê que o caminho é um só.

Até bem pouco tempo atrás. 
Poderíamos mudar o mundo.
Quem roubou nossa coragem? 

Tudo é dor. 
E toda dor vem do desejo. 
De não sentirmos dor.

Quando o Sol bater na janela do teu quarto. 
Lembra e vê que o caminho é um só.



EU ERA UM LOBISOMEM JUVENIL
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Luz e sentido e palavra
Palavra é que o coração não pensa.

Ontem faltou água. 
Anteontem faltou luz.
Teve torcida gritando quando a luz voltou.

Não falo como você fala. 
Mas vejo bem o que você me diz.

Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo. 
Prefiro acreditar no mundo do meu jeito.
E você estava esperando voar. 
Mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?

O que sinto muitas vezes faz sentido.
E outras vezes não descubro o motivo
Que me explica porque é que não consigo ver sentido 
No que sinto, o que procuro, o que desejo e o que faz parte do meu mundo.

O arco-íris tem sete cores. 
E fui juíz supremo. 
Vai, vem embora . Volta
Todos tem, todos tem suas próprias razões.

Qual foi a semente que você plantou? 
Tudo acontece ao mesmo tempo. 
Nem eu mesmo sei direito o que esta acontecendo. 
E daí, de hoje em diante. 
Todo dia vai ser o dia mais importante.

Se você quiser, alguém pra ser isso seu. 
É isso não se esquecer: estarei aqui.

Não digo nada, espero o vendaval passar.
Por enquanto eu não sei 
O que você me falou me  fez rir e pensar. 
Porque estou tão preocupado 
Por estar tão preocupado assim?

Mesmo se eu cantasse todas as canções.  
Todas as canções, 
Todas as canções,
Todas as canções do mundo.
Sou bicho do mato mas...

Se você quiser alguém pra ser isso seu. 
É só não se esquecer: 
Estarei aqui.

Ou então não terá jamais 
A chave do meu coração.



1965 - DUAS TRIBOS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Vou passar, quero ver
Volta aqui, vem você
Como foi, nem sentiu
Se era falso ou fevereiro

Temos paz, temos tempo
Chegou a hora e agora é aqui

Cortaram meus braços
Cortaram minhas mãos
Cortaram minhas pernas
Num dia de verão

Num dia de verão
Num dia de verão
Podia ser meu pai
Podia ser meu irmão

Não se esqueça, temos sorte
E agora é aqui

Quando querem transformar
Dignidade em doença

Quando querem transformar
Inteligência em traição

Quando querem transformar
Estupidez em recompensa

Quando querem transformar
Esperança em maldição

É o bem contra o mal
E você de que lado está ?
Estou do lado do bem
E você de que lado está ?

Estou do lado do bem
Com a luz e com os anjos

Mataram um menino
Tinha arma de verdade
Tinha arma nenhuma
Tinha arma de brinquedo

Eu tenho um autorama
Eu tenho Hanna Barbera
Eu tenho pêra, uva e maçã
Eu tenho Guanabara
E modelos Revell

O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país

Em toda e qualquer situação
Eu quero tudo 
P'ra cima  (4x)


MONTE CASTELO
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo
Inc. Adapt. "I Coríntios 13" e "Soneto 11" de Luís de Camões

Ainda que eu falasse a língua dos homens. 
E falasse a língua do anjos, 
Sem amor eu nada seria.

É só o amor, 
É só o amor. 
Que conhece o que é verdade. 
O amor é bom, não quer o mal. 
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver. 
É ferida que dói e não se sente. 
É um contentamento descontente. 
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens. 
E falasse a língua dos anjos, 
Sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente. 
É um não contentar-se de contente. 
É cuidar que se ganha em se perder.

É  um estar-se preso por vontade. 
É servir a quem vence, o vencedor; 
É um ter com quem nos mata a lealdade. 
Tão contrario a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem 
Todos dormem, todos dormem. 
Agora vejo em parte. 
Mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor. 
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens. 
E falasse a língua do anjos, 
Sem amor eu nada seria.  



MAURÍCIO
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Já não sei dizer se ainda sei sentir.
O meu coração já não me pertence. 
Já não quer mais me obedecer. 
Parece agora estar tão cansado quanto eu.

Até pensei que era mais por não saber. 
Que ainda sou capaz de acreditar. 
Me sinto tão só. 
E dizem que a solidão até que me cai bem.

Às vezes faço planos. 
Às vezes quero ir. 
Para algum país distante e voltar a ser feliz.

Já não sei dizer o que aconteceu. 
Se tudo que sonhei foi mesmo um sonho meu. 
Se meu desejo então já se realizou. 
O que fazer depois, pra onde é que eu vou? 

Eu vi você voltar pra mim.


MENINOS E MENINAS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Quero me encontrar mas não sei onde estou. 
Vem comigo procurar um lugar mais calmo. 
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita. 
Tenho quase certeza que eu não sou daqui.

Acho que gosto de S. Paulo. E gosto de S. João. 
Gosto de S. Francisco. E S. Sebastião. 
E eu gosto de meninos e meninas.

Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre. 
Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente. 
Estou cansado de bater e ninguém abrir. 
Você me deixou sentindo tanto frio. 
Não sei mais o que dizer.

Te fiz comida. 
Velei teu sono. 
Fui teu amigo. 
Te levei comigo e me diz: Pra mim o que é que ficou?

Me deixa ver como viver é bom. 
Não é a vida como esta e sim as coisas como são.
Você não quis tentar me ajudar.
Então a culpa é de quem? 
A culpa é de quem?

Eu canto em português errado. 
Acho que o imperfeito não participa do passado. 
Troco as pessoas. 
Troco os pronomes.

Preciso de oxigênio. 
Preciso ter amigos. 
Preciso ter dinheiro. 
Preciso de carinho. 

Acho que te amava. 
Agora acho que te odeio. 
São tudo pequenas coisas. 
E tudo deve passar.

Acho que gosto de S. Paulo. Gosto de S. João. 
Gosto de S. Francisco. E S. Sebastião. 
E eu gosto de meninos e meninas.


SETE CIDADES
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Já me acostumei com a tua voz. 
Com teu rosto e teu olhar. 
Me partiram em dois. 
E procuro agora o que é minha metade.

Quando não estás aqui. 
Sinto falta de mim mesmo. 
E sinto falta do meu corpo junto ao teu.

Meu coração 
É tão tosco e tão pobre. 
Não sabe ainda os caminhos do mundo.

Quando não estás aqui. 
Tenho medo de mim mesmo. 
E sinto falta do teu corpo junto ao meu.

Vem depressa pra mim que eu não sei esperar. 
Já fizemos promessas demais. 
E já me acostumei com a tua voz. 
Quando estou contigo estou em paz.

Quando não estás aqui. 
Meu espirito se perde, voa longe.
Longe, longe.


SE FIQUEI ESPERANDO MEU AMOR PASSAR
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Se fiquei esperando meu amor passar.
Já me basta então que eu não sabia amar 
E me via perdido e vivendo em erro. 
Sem querer me machucar de novo por culpa do amor.

Mas você e eu podemos namorar. 
E era simples: ficamos fortes. 

Quando se aprende a amar. 
O mundo passa a ser seu.
Quando se aprende a amar. 
O mundo passa a ser seu.

Sei rimar romã com travesseiro.
Quero minha nação soberana. 
Com espaço, nobreza e descanso.

[solo de voz]

Se fiquei esperando meu amor passar. 
Já me basta que estava então longe de sereno.
E fiquei tanto tempo duvidando de mim. 
Por fazer amor fazer sentido.

Começo a ficar livre 
Espero. Acho que sim. 
De olhos fechados não me vejo. 
E você sorriu pra mim.

"Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo. 
Tende piedade de nós. 
Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo. 
Tende piedade de nós. 
Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo.
Dai-nos a paz."


Dado Villa-Lobos: Guitarras, Percussão, Baixo, Bandolim, Violões, Gaita
Renato Russo: Teclados, Voz, Violão, Baixo, Guitarras
Marcelo Bonfá: Bateria, Percussão, Bass-Drum, Gaita
QUASE SEM QUERER
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Renato Rocha

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso.
Isso que agora é diferente:
Estou tão tranqüilo
E tão contente.

Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira.

Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber
Tudo.

Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
+s vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe 
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.

Tão correto e tão bonito:
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos.
Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto.

Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você.


ACRYLIC ON CANVAS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Renato Rocha/ Marcelo Bonfá 

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho 
Mais perfeito que se fez

Os traços copiei
Do que não aconteceu
As cores que escolhi
Dentre as tintas que inventei

Misturei com a promessa
Que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três

Trabalhei você
Em luz e sombra

E era sempre:
"-Não foi por mal.
  -Eu juro que nunca quis deixar você tão triste"

Sempre as mesmas "disculpas"
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são.

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar

A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete

E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz então, pincéis com seus cabelos

Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte.

E era sempre:
"-Não foi por mal.
  -Eu juro que não foi por mal, eu não queria machucar você.
Prometo que isso não vai acontecer mais uma vez"

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"-Sinto muito, ela não mora mais aqui".

Mas então porque eu finjo
Que acredito no que invento
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito.

Ninguém sofreu
E é só você
Que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De Amor-Perfeito e Não-Te-Esqueças-De-Mim.

	
EDUARDO E MÎNICA
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Quem um dia ira dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem ira dizer
Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mînica tomava um conhaque,
Noutro canto da cidade,
Como eles disseram.

Eduardo e Mînica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
"- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir."

Festa estranha, com gente esquisita:
"- Eu não estou legal. Não agüento mais birita."
E a Mînica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar

E o Eduardo, meio tonto, isso pensava em ir pra casa:
"- É quase duas, eu vou me ferrar."

Eduardo e Mînica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mînica queria ver o filme do Godard.

Se encontraram então no parque da cidade
A Mînica de moto e o Eduardo de camelo.
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo.

Eduardo e Mînica eram nada parecidos 
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês.

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com a seu avî.

Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava 
No esquema "escola-cinema-clube-televisão."

E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia,
Como tinha de ser.

Eduardo e Mînica fizeram natação, fotografia,
Teatro e artesanato e foram viajar.
A Mînica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar;

E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular.
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois.
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.

Construíram uma casa uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana e seguraram legal 
A barra mais pesada que tiveram.

Eduardo e Mînica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade da saudade no verão.
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação.

E quem um dia ira dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo o coração?
E quem ira dizer
Que não existe razão?


CENTRAL DO BRASIL (Instrumental)
Música: Renato Russo


TEMPO PERDIDO
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.

Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia:
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder."

Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem.

Veja o sol dessa manha tão cinza:
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos.
Então me abraça forte e me diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo:

Temos nosso próprio tempo.

Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora.
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu.
Nem foi tempo perdido.

Somos tão jovens.



METRÓPOLE
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Renato Rocha/ Marcelo Bonfá 

"É sangue mesmo, não é mertiolate."
E todos querem ver
E comentar a novidade.

"É  tão emocionante um acidente de verdade."
Estão todos satisfeitos
Com o sucesso do desastre:

"-Vai passar na televisão."

"Por gentileza, aguarde um momento.
Sem carteirinha, não tem atendimento 
Carteira de trabalho assinada, sim senhor.
Olha o tumulto: façam fila por favor."

"-Todos com a documentação"

"-Quem não tem senha, não tem lugar marcado.
Eu sinto muito, mas já passa do horário.
Entendo seu problema mas não posso resolver:
É contra o regulamento, esta bem aqui, pode ver."

Ordens são ordens.

"-Em todo caso já temos sua ficha.
Só falta o recibo comprovando residência.
P'ra limpar todo esse sangue, chamei a faxineira 
E agora eu já vou indo senão eu perco a novela

E eu não quero ficar na mão."



PLANTAS DEBAIXO DO AQUÁRIO
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Renato Rocha/ Marcelo Bonfá

Sente o desafio e provoque um desempate:
Desarme a armadilha e desmonte o disfarce.
Se afaste do abismo 
Faça do bom-senso a nova ordem.

Não deixe a guerra começar.

[diálogos em francês e inglês]

Pense isso um pouco,
Não há nada de novo.
Você vive insatisfeito e não confia em ninguém
E não acredita em nada
E agora é isso cansaço e falta de vontade,
Mas, faça do bom-senso a nova ordem:

Não deixe a guerra começar.


MÚSICA URBANA II
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Em cima dos telhados as antenas de TV tocam música urbana
Nas ruas os mendigos com esparadrapos podres
Cantam música urbana.

Motocicletas querendo atenção às três da manha 
É só música urbana.

Os PM's armados e as tropas de choque vomitam música urbana
E nas escolas as crianças aprendem a repetir a música urbana.
Nos bares os viciados sempre tentam conseguir a música urbana.

O vento forte seco e sujo em cantos de concreto
Parece música urbana
E a matilha de crianças sujas no meio da rua 
Música urbana.

E nos pontos de înibus estão todos ali: música urbana

Os uniformes, os cartazes
Cinemas e os lares
Favelas, coberturas
Quase todos os lugares.

E mais uma criança nasceu.

Não há mentiras nem verdades aqui
Só há música urbana.

Yeah, música urbana




ANDRÉA DÓRIA
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Às vezes parecia que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo,
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.

Não queria te ver assim 
Quero a tua força como era antes.
O que tens é isso teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.

Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.

Eu sei - é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.

Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que segui
E com a minha própria lei.

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
Como sei que tens também.


FÁBRICA
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Nosso dia vai chegar
Teremos nossa vez.
Não é pedir demais:
Quero justiça,

Quero trabalhar em paz.
Não é muito o que eu lhe peço
Eu quero trabalho honesto
Em vez de escravidão.

Deve haver algum lugar
Onde o mais forte 
Não consegue escravizar
Quem não tem chance.

De onde vem a indiferença
Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fabrica?

O céu já foi azul, mas agora é cinza
E o que era verde aqui já não existe mais.
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto brincar com fogo.
Que venha o fogo então.

[solo]

Esse ar deixou minha vista cansada,
Nada demais.


"ÍNDIOS"
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Quem me dera, ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.

Quem me dera, ao menos uma vez, 
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda esta por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais, por não ter nada a dizer

Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante,
Mas nos deram espelhos
E vimos uma mundo doente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como isso Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É isso maldade então, deixar um Deus tão triste.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta para mim,
Quando descobri que é sempre isso você
Que me entende do início ao fim
E é isso você que tem a cura do meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera, ao menos  uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Esta em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho,
Entenda - assim pude trazer você de volta para mim
Quando descobri que é sempre isso você
Que me entende do início ao fim
E é isso você que tem a cura do meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente

Tentei chorar e não consegui.


Dado Villa-Lobos: Guitarras, Vocais 
Renato Russo: Violões, Voz, Teclados
Renato Rocha: Baixo, Vocais
Marcelo Bonfá: Bateria, Percussão, Vocais